Mora, no depoimento do Christian me chamou especialmente a atençao a
comparaçao que ele fez entre o papel dos juízes, dos promotores, e de
todos
que tem poder sobre o processo eleitoral brasileiro; e os que permitiram
a
ascensão dos nazistas, na Alemanha que ele conhece bem a historia.
Noutro dia,
aqui na lista, fiz um apelo para que essas pessoas do judiciario  - com
algum
poder no processo - e que estão em sua imensa maioria sendo enganadas,
como
qualquer cidadão comum, para que reajam. Que não permitam que vigaristas

continuem a controlar a vontade eleitoral de milhões de brasileiros.

Lido com esta realidade - a fraude eleitoral - desde 1986, quando
percebi que
a Justiça Eleitoral fluminense tinha "aperfeiçoado" o sistema entao em
vigor,
que gerara o Caso Proconsult de 82. Porque em 86 a Justiça Eleitoral
retirou
dos partidos políticos o único instrumento que realmente tínhamos para
evitar
a fraude: o mapa da urna contendo todas as informaçoes sobre os votos
apurados
naquela secçao eleitoral específica. Nos tirando o mapa, destruiram a
nossa
capacidade de fazer totalizaçoes paralelas e chegar a um resultado final
exato
e confiável. A partir de 86, na pratica, a Justiça Eleitoral manopolizou
a
totalizaçao - e nós, fiscais de partido, passamos a ser reféns dela
porque a
fiscalizaçao se tornou impossível.

Foi por isso que nós do PDT, em 1986, não tivemos como evitar a fraude e

Moreira Franco (o beneficiário da fraude de 82) "ganhou" de Darcy
Ribeiro   e  finalmente chegou ao poder - enfraquecendo, e muito, a
candidatura
presidencial de Brizola de 1989. Só para avivar a memória dos
não-brizolistas,
na campanha de 89, Brizola numa de suas afirmaçoes mais polemicas,
garantiu
que na primeira hora do primeiro dia dele presidente da República, faria
uma
revisão total da política de concessões de canais de rádio e televisão
do
Brasil - para submeter a Rede Globo de Televisão ao controle da
sociedade. Foi
o que se viu e hoje é história. Não vou me aprofundar nas eleicões de
1989
porque isto nos divide.

Por isso, Mora, vendo a preocupaçao do Christian com a eleiçao do Tarso
Genro,
hoje, no Rio Grande do Sul - não posso deixar de sentir a sensaçao de
estar
vendo filme já visto. O Ibope, ao contrário dos demais institutos que
estáo
fazendo pesquisas lá no Rio Grande do Sul, ignorou em sua última
pesquisa,
esta semana, a diminuiçao da distancia entre Rigoto e Tarso, claramente
induzindo o eleitorado gaúcho para a vitória de Rigoto. Na minha
opinião,
estão criando o ambiente político para que as urnas eletronicas, que
Christian, tentou fiscalizar lá em Nova Petrópolis, cumpram a sua funçao
-
eleger gente no lugar dos eleitores. Por isso, Christian, acho normal
que voce
quase tenham  sido preso por querer exercer o direito que qualquer
cidadão
tem, o de fiscalizar a carga das urnas. E por isso, meu amigo, só posso
dizer
uma coisa para voce e para todos os seus companheiros de PT - não
desistam,
não se sintam desistimulados, encarem a eleiçao como luta. E partam para
ela
sabendo o que mais ou menos encontrarão pela frente. Arrogancia,
petulancia,
despreparo, vigarices. Não desistam, lutam pela transparencia,
fiscalizem as
secçoes eleitorais - todas - nao permitam que presidentes de seçao e
mesários
votem pelos eleitores, como aconteceu aos milhares aqui no Rio de
Janeiro, no
primeiro turno. Exigam os boletins de urna ao final do expediente,
quando da
totalizaçao nas seçoes eleitorais, acionem os advogados do PT para que o

resultado magnético da eleição chegue o mais rápido possível onde possam
bater
resultado eletronico com resultado do BU.

E nao desanimem, em momento algum, mesmo que as manchetes dos jornais,
as
televisoes e as rádios apregoem - aos sete ventos, citando pesquisas de
boca
de urna e mais qualquer porcaria deste tipo - que o Tarso Genro perdeu
para o
Rigoto. A desmobilizaçao da fiscalizaçao é a tarefa um da verdadeira
barragem
de desinformaçao que é desencadeada através dos meios de comunicaçao -
para
ajudar a fraudar uma eleiçao. Nada é de graça, amigo Christian, tenha
certeza
disto. Nao desistam, resistam, impugnem urnas onde eleitores chegarem
para
votar e já terem votado no lugar deles; impugnem urnas onde um
determinado
sujeito volta e meia entre na cabine para votar, depois da máquina ser
disponibilizada pelo presidente de secçao, impugnem todas as urnas dos
colégios, clubes, ou sei lá mais onde estiverem funcionando, onde as
filas dos
eleitores forem dispensadas porque "nao podem mais votar". Nao esqueça,
Crhistian, que a manfeira mais facil de fraudar a urna é o presidente de
seçao
e os mesarios votarem por todos os eleitores cujos nomes (e titulos de
eleitor) constarem da folha de votaçao (aquele caderno que somos
obrigados a
assinar). Fiquem de olho porque, pelo jeito, vai valer tudo aí no RS.
Como
valeu tudo aqui no RJ, no primeiro turno.

 Ainda sobre a eleicão aí no Rio Grande do Sul, no primeiro turno, é bom

lembrar aqui agora, véspera da eleiçao em segundo turno, que embora o
PDT
apoiasse José Fortunatti, um sujeito absolutamente decente, ex-PT e
atualmente
PDT, as mesmas "pesquisas", com a ajuda da RBS, destruiram a candidatura
do
PDT, enchendo a bola do Brito - inicialmente candidato da direita e da
própria
RBS. Fortunati desistiu da candidatura, o PDT se reuniu para discutir o
que
fazer - já que Brizola havia aberto as baterias, e muito, contra Antonio
Brito
- o privatizador-mor do governo gaúcho, quando era governador com o
apoio
total da direita. E o PDT, com Brizola, decidiram apoiar Brito para
fortalecer
a candidatura de Ciro. Christian, é bom voces nao esquecerem que Brizola

apoiou Olívio Dutra quando ele foi para o segundo turno com Brito, e
ganhou
com o nosso apoio - por isso vários pedetistas aceitaram cargos no
governo
Brito, infelizmente muitos deles saindo do próprio PDT quando Brizola
solicitou que deixassem os cargos.

Neste primeiro turno de agora,  para mim que sou brizolista, considerei
absolutamente suspeita a queda vertiginosa do Brito - o candidato da RBS
- e a
ascensao mais vertiginosa ainda, desse Rigoto - que nunca tinha ouvido
falar
aqui no Rio. Bastou Brizola, depois da desistencia de Fortunati, decidir

apoiar Brito. Bom, mas agora é Tarso Genro e Rigoto.

Quando vejo tudo isso acontecer, e mais o que Christian descreveu,  não
posso
deixar de pensar. Porque uma coisa aprendi aqui com as eleiçoes do  Rio
de
Janeiro. É impossível mudar a vontade eleitoral do povo. O povo vota em
quem
quer votar e pronto. No máximo o povo pode ser "aboiado" por pesquisas
e
mídia parcial.  Mas na hora do voto mesmo, o povo vota emq uem quer.
Nós, do
PDT, ganhamos a a eleiçao de 85 aqui no Rio (era assessor de imprensa de

campanha do Saturnino Braga) para prefeito - contra a Rede Globo, O
Globo e
tudo o que eles representam. A TV e o jornal do Roberto Marinho apoiaram
o
Rubem Medina, descaradamente, mas nós vencemos. Pelo voto. Nao teve
mídia e
pesquisa que desse jeito.  Ganhamos na raça, nas ruas.

Não foi a toa que entre a eleiçao de 85, dos prefeitos de capitais para
um
mandato tampão de tres anos - a primeira depois da ditadura, que abolira
as
eleiçoes nas capitais -  e as eleicóes gerais de 86; o governo promoveu
o
recadastramento nacional de eleitores. Foi quando nossos títulos antigos
foram
abandonados e trocados por esses novos, de hoje, que permitem a fraude
mais
simples de todas - um eleitor votar pelo outro.Historicamente, é bom
lembrar
ainda, que a campanha das diretas já foi em 1984 - um ano antes - e o
recadastramento virou pelo avesso que tínhamos até então, em matéria de
assentamentos. Foi quando inchou barbaramente o nosso cadastro de
eleitores.

Em 85 o PDT lavou a alma elegendo Saturnino Braga prefeito. Já na
eleiçao de
86, com o recadastramento do TSE, milhares e milhares de eleitores das
áreas
populares ficaram sem os seus títulos aqui no Rio - porque a justiça
eleitoral
disse que eles os receberiam pelo correio (os novos títulos) e ninguém
os
recebeu. Secçoes inteiras foram remanejadas (como aconteceu nesta
eleiçao
agora, aqui no Rio de Janeiro) e absurdos como a Rocinha inteira votar
no
Hotel Nacional aconteceram.

Por isso tudo, amigos Mora/Christian, estou muito preocupado com o que
vai
acontecer domingo no RS. O PT, embora tudo indique que ganhe a eleiçao
nacional, pelo jeito, vai levar ferro no RS. A direita gaúcha, com a
ajuda da
midia e das pesquisas, fechando com o uso dessas urnas eletronicas que
nao
querem fiscalizadas - vai roubar no Rio Grande do Sul. E  tambem em
Brasilia.
. Náo vi os 700 mil fiscais que o PT disse que ia por nas ruas, no
primeiro
turno.  No Rio, no TRE-RJ, onde estive como fiscal de totalizaçao - nao
vi um
único fiscal do PT na madrugada em que Rosinha ultrapassou a Benedita na

apuraçao, por volta das tres ou quatro da manha.

Agora Mora, acho que tem toda razao quando diz que  tem muita gente no
Brasil
que acha que o seu voto nao deveria ser igual ao de um favelado. É muito
comum
aqui o discurso  de que o povo é burro e nao sabe votar. Tem gente que
acha
isso mesmo, por isso nos considera uns malucos de estarmos questionando
a
urna, o processo e a propria "Justiça" eleitoral - sem se falar em midia
e
"pesquisas". A mídia está aí para reforçar essa visao deformada das
coisas e
propagar que as reclamaçoes de candidatos derrotados, todos, nao passam
de
chorôrô de perdedor. Como Brizola não morreu se  ele tirou em sexto
lugar na
eleiçao de senador aqui no Rio de Janeiro ? Como não morreu se em 2.000,

disputando a eleicão para  prefeito do Rio, chegou em quarto lugar?
Mora, nao
sei se voce tem acessso a "Veja" aí em Paris. Mas as revistas da semana
passada e desta, são primores de preconceito e canalhice. A capa da
semana
passada coloca em corpos de dinossauro as caras do Brizola, Maluf, e
Newton
Cardoso - como "espécies extintas" na política. Já esta semana, bota na
capa
um bicho um bicho de tres cabeças cobrando o "radicalismo" que o PT
estaria
escondendo dos eleitores de Lula.

Tenha certeza, Mora/Christian, que tudo o que o PT disser no domingo a
noite e
na segunda de manha, aí no Rio Grande do Sul, vai cair nesta mesma vala
comum
do que nós, do PDT, estamos vendo acontecer aqui no Rio de Janeiro desde
1986:
chorôrô de perdedor. Porque, Christian, pelo jeito, Tarso Genro será
"deseleito". Da forma que só a conjungaçao desses tres fatores é capaz:
mídia
parcial, pesquisas falsas e urnas eletronicas.

Vai acontecer neste segundo turno aí no  Rio Grande do Sul, pelo jeito,
o
mesmo que vem acontecendo há tempos conosco aqui no Rio de Janeiro. A
direita
vai ganhar, a vigarice vai prevalecer. No plano nacional, acho que não
terão
coragem de "deseleger" Lula. Afinal, serão obrigados a matar a galinhas
dos
ovos de ouro - as urnas eletronicas - para que isto seja possível..
Porque
ninguém, mas ninguém mesmo, acreditará que Serra chegou a presidÊncia da

Repúlbica de uma forma limpa e transparente. Se ele ganhar - vai ser um
verdadeiro estupro da vontade eleitoral dos brasileiros. Um descaramento

total.

Acho que eles não serão burros a ponto de matar a galinha dos ovos de
ouro na
eleiçao presidencial. Mas tenho certeza de que usarão  a maquineta  para

eleger governadores para infernizar a vida do Lula presidente - como já
a
usaram para eleger, no primeiro turno,  governadores, deputados
federais,
estaduais e senadores.

Grande Christian, havendo ambiente político para a fraude, eles fraudam.
Aí no
Rio Grande do Sul, infelizmente,  há ambiente político. O meu partido
mesmo,
por exemplo, está dividido. Tem gente que apoia Tarso Genro desde o
primeiro
turno e tem gente que não. Divisoes deste tipo ajudam a tornar a fraude
palatável.

Só quero que voce, Christian, tenha certeza de uma coisa: a culpa - caso
Tarso
nao vença - não será culpa do povo gaúcho.





Paulo Mora de Freitas gravada:

>   Bittencourt, obrigado pela tradução e assim chamar atenção a este
> texto da Rebecca Mercuri. Ao mesmo tempo isso tudo me parece tão
óbvio!
> Como diz o Prof. Jorge Stolfi da Unicamp,
>
>    "Não sou, de modo algum, perito em segurança; mas creio que entendo
o
> suficiente de computação para avaliar os argumentos dos críticos e
> defensores da urna eletrônica. E, no meu entender, os críticos têm
> vários argumentos lógicos (óbvios, até), que os defensores
aparentemente
> nem tentam responder."
>
>   É tão óbvio que dá para suspeitar de quem não percebe coisa tão
óbvia
> e ao mesmo tempo não apresenta argumentos lógicos para provar o
> contrário. E os defensores são muitos, a maioria das pessoas que estão
à
> tua volta, no teu dia a dia.
>
>   Como é possível isso? Por que pessoas que tem capacidade intelectual
e
> competência para concluir por esse óbvio ululante não o fazem? Tenho
cá
> uma hipótese: essas pessoas são, na sua maioria, da "classe média"
> (analistas de sistemas, etc). Para elas no fundo a Democracia não
> interessa. Sabe como é? Na hora do "vamos ver" o neguinho tem
> dificuldade a aceitar que o voto do favelado alí da esquina tenha o
> mesmo peso que o dele. Então o sujeito acaba fazendo vistas grossas
para
> um pseudo sistema democrático que livra a cara dele, lhe dá  um alibí
> para manter tudo como está, uma mentirinha a mais que ele conta a ele
> mesmo todos os dias de manhã. E no dia em que a coisa vier à luz ele
> dirá, "-Puxa, eu não sabia". É o que aconteceu na Alemanha nazista,
como
> bem lembrou o Christian numa outra mensagem aqui.
>
>   Então, meu caro Bittencourt, o buraco é muito, mas muito mais
embaixo...
>
>   Abraços, Paulo.
>



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