Eu li o artigo após ter postado, como disse, texto bem sensato, o Shermer
tornou-se até mais moderado do que costumava ser.

Eu julgo que popperianos poderiam alegar que psicanálise é não-ciência no
sentido popperiano da seguinte forma; frente a objeções do tipo das que
citei, se proponentes da psicanálise puderem derivar à partir do corpus
psicanalítico hipóteses auxiliares *ad hoc* para justificar as anomalias e o
estoque destas hipóteses auxiliares *ad hoc* for infinito, então psicanálise
seria estritamente uma não-ciência popperiana. Não faço alegações sobre se
isso é factível ou não. Para o caso da economia marxista, o procedimento
seria mais ou menos o mesmo.

Em *The Borderlands Of Science*, Michael Shermer distingue informalmente
ciência e não-ciência usando *fuzzy sets*. Mecânica quântica e biologia
evolutiva possuem uma pertinência de 0.9, antropologia do Pé Grande possui
uma pertinência de 0.1 e a economia marxista ele coloca uma pertinência de
0.4 se não me falha a memória.

A teoria popperiana de demarcação não é ela mesmo científica, ela se propõe
a ser *meta*-científica, a fazer *meta*-statements a respeito da ciência.

Pessoalmente, eu sou um naturalista radical, eu julgo que mesmo as
fronteiras entre as "ciências formais" e "ciências empíricas" são nebulosas
e que epistemologia e metafísica devem ser subservientes aos melhores
resultados das ciências empíricas. Está tudo no mesmo barco de Neurath.

Abraços.

2011/9/15 Joao Marcos <botoc...@gmail.com>

> > Não julgo que teremos uma resposta fine-grained para o problema da
> > demarcação. A fronteira de ciência para não-ciência é nebulosa.
>
> É precisamente o que diz o Shermer, no artiguinho citado.
>
> > A teoria da mente da psicanálise freudiana é complexa e se desenvolveu
> por
> > décadas no início do Século XX. Vou me focar em um de seus aspectos
> > essenciais: um fenômeno-chave da psicanálise freudiana é o mecanismo da
> > repressão, responsável por impedir a formação de memória episódica
> > conscientemente acessível de eventos traumáticos mas que existe em uma
> forma
> > "narcotizada", detalhada, no inconsciente, é causa de psicopatologias
> > ("neuroses") e pode ser re-acessada por métodos da prática clínica da
> > psicanálise e este procedimento é terapêutico.
> > Isso é falseado pelo estado da arte da neuropsicologia da memória.
>
> Se foi falseado, então se trata(va) de ciência, afinal (segundo a
> teoria popperiana), e Sir Popper estava equivocado sobre seu status.
>
> Não sei, contudo, se a teoria popperiana seria, ela própria,
> considerada científica.  Mas julgo que a própria questão poderia
> resultar em um belo paradoxo.
>
> JM
>
> --
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