Olá Maurício
e  demais colegas:

O problema não se encontra  só na publicação de artigos: existe
também a publicação de  "edições fake" de  livros em editoras
predatórias que cobram para publicar, imprimem 5 ou 6  volumes, enviam
2  para cada  autor,  e  "c'est fini".  Eu já propus ao núcleo do
QUALIS /CAPES quando fazia parte, levar em conta a tiragem das
publicações. Há diversas editoras,  muitas delas alemãs, mas agora
também indianas e outras baseadas no UK,   que publicam qualquer coisa
em inglês ou  alemão,  por exemplo  uma compilação de Kant com Derrida
misturada  com sua dissertação de mestrado,  e que contam  como
"produção".  Agora cm o GPT4 vai ficar  muito mais fácil.

Na época  fui quase  linchado por um pessoal que afirmava que levar em
conta a tiragem não  fazia sentido...

Pode ser, mas meia dúzia de exemplares  que nunca  ninguém vai ver é
´"publicação"? E. não adianta a  CAPES. encha a.  paciência e  pedir
os PDFs para "comprovar", faz parte do pacote receber o livreco em
PDF.

A coisa é grave...

Abs,

W.

Em ter., 28 de mar. de 2023 às 13:44, Mauricio Ayala-Rincón
<ay...@unb.br> escreveu:
>
> Caros,
>
> O principal problema não é apenas o "prevaricato" ou "improbidade 
> administrativa"
> envolvida em ações para utilização de recursos públicos destinados ao 
> pagamento de publicações.
> O problema é a falta de maturidade científica e excesso de deshonestidade que 
> esse tipo de
> publicação paga está criando na velha e nova geração pseudo-cientista.  Da-se 
> muito bem
> aquele que publica expeditamente um número significativo de artigos em 
> periódicos
> "bem qualificados":
>
> - candidatos à pós-graduação,
> - candidatos à ser nossos colegas,
> - candidatos à bolsas de fomento à pesquisa,
> - etc.
>
> É algo que vem crescendo e contaminando nossas IFES através da incorporação de
> pessoal que não apresenta qualificação adequada.   A ponta do iceberg são os 
> recursos públicos
> perdidos no pagamento de publicações, mas as implicações econômicas para a 
> pesquisa da nação
> são maiores. Bolsas, salários e recursos para pesquisa são alocados, como 
> consequência, de
> forma inadequada.
>
> Um fator a considerar seriamente, sobre a avaliação da qualidade das 
> publicações
> é o tempo que essas editoras investem no processo de revisão.  É obvio, em
> qualquer área da ciência, que um artigo revisado expeditamente, em um par de
> semanas, e imediatamente publicado não é confiável.
>
> Os tempos médios de MDPI Sensors, por exemplo, são de 16 dias para avaliação, 
> e
> três dias para publicação. Maravilha publicar dessa maneira! Mas para o que?
> Como  pesquisador, não entendo honesto dedicar o meu tempo e o dos meus
> alunos, pago com recursos públicos,  na leitura de produção intelectual 
> avaliada
> dessa forma expedita.
>
> Em síntese, encontro urgente incorporar no Qualis mecanismos que considerem de
> forma precisa a qualidade dos processos de revisão.  Tempos de avaliação 
> reduzidos
> implicam baixa qualidade.
>
> Por outro lado, participar desses empreendimentos piramidais editoriais, é 
> pendurar
> no pescoço dois diplomas: o de "deshonestidade" e o de "imbecilidade". O 
> primeiro
> está sendo útil para passarmos a perna em nossos colegas, por enquanto. O 
> segundo,
> será útil para nos safar do primeiro quando chamados, cedo ou tarde, a 
> prestar contas.
>
> Grande abraço, para aqueles que ainda sonham em publicar no Journal of 
> Symbolic
> Logic, ACM Journal of Logic e similares.  Grande despreço para aqueles que
> pretendem continuar investindo recursos públicos, que bem poderiam ser 
> aplicados
> em mais bolsas de Mestrado e Doutorado, na publicação expedita usando essa
> abordagem editorial piramidal.
>
> Mauricio
>
> On Tuesday, March 28, 2023 at 11:33:35 AM UTC-3 oliv...@daad-alumni.de wrote:
>>
>> Em segunda-feira, 27 de março de 2023 às 21:59:20 UTC-3, Walter Carnielli 
>> escreveu:
>>
>> Então Hermógenes, considerando os elevados custos da compra de
>> assinaturas pelo cofres públicos, e considerando
>> a tendência de pagar para publicar que está pressionando aqueles que
>> produzem ciência, o que devemos fazer?
>> Pagar dos dois lados?
>>
>>
>> Pois é, Walter. Acho que um primeiro passo importante é levantar a pauta, 
>> como você fez, e trocar ideias e argumentos entre os colegas para que o 
>> assunto ganhe mais visibilidade e, quem sabe, suscite ações mais coordenadas 
>> (é um problema difícil de solucionar no âmbito meramente individual).
>>
>> Como escrevi, não tenho uma solução universal a sugerir. Mas vou 
>> compartilhar algumas considerações, as quais, contudo, são bastante 
>> peculiares à minha situação e certamente não se aplicam a vários outros 
>> contextos.
>>
>> Primeiro, algumas observações, que me parecem incontestáveis:
>>
>> 1. O serviço de editoração de casas de publicação científica é ruim, e 
>> parece estar piorando com o passar do tempo (escrevi sobre isto na lista 
>> antes). Uma boa parte do serviço é terceirizado a trabalhadores 
>> sobrecarregados em países em desenvolvimento.
>>
>> 2. Publicação científica tem custos, sim. Hospedagem, indexação, arquivo 
>> permanente, DOI, software de gerenciamento do fluxo de submissão etc. Nada 
>> disto é gratuito. Contudo, como Valéria tem apontado, existem diversos 
>> exemplos que demonstram que este custo é bem menor do que muitas casas de 
>> publicação alegam, especialmente quando não é necessário bancar o lucro de 
>> proprietários. No âmbito da filosofia, se destacam Philosopher's Imprint e 
>> Ergo (ambas gerenciadas pela Michigan Publishing). A qualidade do serviço 
>> (tanto para leitores quanto autores) deixa grande parte das grandes casas 
>> editoriais no chinelo. Em comparação, o custo é irrisório.
>>
>> Então, com base nisto e outras observações já aludidas na discussão, uma 
>> estratégia bastante natural seria apoiar veículos com modelo de acesso livre 
>> genuíno e, em caso de insuficiência destes em alguma especialidade, buscar 
>> fundar novos. As condições para desempenhar estas ações variam bastante de 
>> indivíduo para indivíduo, de área de especialidade para área de 
>> especialidade, de contexto para contexto. Portanto, vou focar agora no meu 
>> caso.
>>
>> Eu atuo como parecerista para periódicos de grandes editoras. Minha 
>> racionalização/desculpa esfarrapada: a minha área de especialização é 
>> relativamente pequena e praticamente todos os textos são submetidos e/ou 
>> publicados num certo punhado de periódicos de grandes editoras, pelo simples 
>> fato de especialistas fazerem parte do corpo editorial destes periódicos. 
>> Novos pesquisadores na área comumente reclamam de submissões apodrecendo no 
>> "journal hell", em boa parte por dificuldade de arranjar pareceristas ou, ao 
>> menos, de conseguir pareceres em tempo hábil. Isto afugenta a moçada, a 
>> qual, sob pressão para publicar, eventualmente decide dedicar-se a outra 
>> especialidade, contribuindo assim para o arrefecimento ainda maior da minha 
>> área. Portanto, no balanço das coisas, me parece menos danoso tolerar o 
>> status quo, ao menos enquanto não conseguimos pouco a pouco diversificar 
>> para outros veículos.
>>
>> Quanto à publicação, a minha intenção é submeter meus melhores artigos daqui 
>> em diante em periódicos mais decentes, ainda que menos prestigiosos. Sim, o 
>> Qualis provavelmente irá me penalizar por isto, pode ser difícil encontrar 
>> pareceristas e etc. Mas acho que, sem um pouco de sacrifício, é difícil 
>> conseguir impulso para sairmos desta encruzilhada. Contudo, não me parece 
>> correto impor esta minha decisão a coautores em caso de artigos conjuntos. 
>> Nestes casos, vou com a sugestão dos meus colaboradores e o que seria melhor 
>> para suas respectivas carreiras.
>>
>> Se eu fosse influente na minha área, e capaz de aglutinar pesquisadores, eu 
>> fundaria um novo veículo de livre acesso com um bom corpo editorial, ou 
>> convenceria meus pares a abandonar suas funções nos corpos editoriais das 
>> grandes casas e se juntar a mim no corpo editorial de outros periódicos mais 
>> decentes. Tenho certeza que as submissões e, consequentemente, os artigos 
>> publicados iriam nos acompanhar. Até eu chegar lá, vou vivendo entre 
>> frustrações, planos e racionalizações.
>>
>> Cordialmente,
>>
>> --
>> Hermógenes Oliveira
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