Re: [Logica-l] continentais x analiticos x paraconsistencia

2011-12-06 Thread Joao Marcos
> Eu cursava um mestrado interdisciplinar, numa universidade federal, onde a 
> *professora*
> (que era coordenadora do mestrado, e possuía dois pós-doutorados, diga-se de 
> passagem)
> afirmava com todas as letras que Lógica é coisa de medievalista, que a 
> Ciência sempre foi
> apenas um mito bem propagado (por isso as pessoas *acreditam* nas teorias 
> científicas!)
> e que as certezas da matemática não possuem mais exigências que, por exemplo, 
> as
> interpretações de um Deleuze sobre os rizomas da biologia (a famosa 
> *desterritorialização* ou,
> a meu ver, o greencard filosófico pra falar besteira - às vezes penso que 
> Deleuze resolveu tirar
> uma onda da academia pois sabia que o nível estava tão baixo que mesmo que 
> ele só falasse
> asneira todo mundo ia levar a sério; se foi o caso, nisso sim ele acertou em 
> cheio! - )
> Teve uma vez que eu até tentei alertar tal *professora* que, se quisesse 
> falar que a
> objetividade lógica e científica é mito, pelo menos
>  não fazer isso enquanto liga o ar-condicionado e controla a temperatura da 
> sala através
> de um controle remoto de precisão digital, mas ela não entendeu...

Justo.  Talvez houvesse menos bobagem no mundo, contudo, se quem fala
sobre ciências naturais (incluindo matemáticos, cientistas da
computação, e principalmente filósofos da ciência) fosse obrigado
primeiro a cumprir um certo de número de horas montando experimentos
em laboratório.

> No entanto, tem outra questão interessante aqui. Já vi inúmeras vezes, e 
> acredito que
> todos aqui já viram isso, a própria Paraconsistência e outras Lógicas 
> não-clássicas
> sendo utilizada junto com a Física Quântica e a Relatividade justamente ao 
> lado do
> Desconstrucionismo, Pós-Estruturalismo e outras pluralidades esteticistas

Você pode mandar referências sobre estas coisas, para que eu entenda
exatamente a que você se refere? (embora trabalhe há muitos anos sobre
lógica paraconsistente e lógicas multivaloradas, confesso que
desconheço completamente as publicações às quais você estaria se
referindo)

> Mas até hoje não consigo compreender como as Lógicas ditas não-clássica
> (principalmente as não bi-valentes) conseguem, se apertadas, escapar de tais
> interpretações. Um *terceiro valor de verdade*, nem falso, nem verdadeiro, ou
> tudo-junto-ao-mesmo-tempo, é tudo que a Desconstrução e a *crítica*
> estético-literária precisa para invalidar qualquer coisa, porém agora com o 
> aval
> da Lógica, pois bastaria ajustar convenientemente seus próprios axiomas e 
> regras
> para se criar um sistema de Lógica Desconstrucionista perfeitamente válido
> (obviamente, válido em tal sistema, como qualquer outro).

E o que seria esta "Lógica Desconstrucionista"?


JM

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Re: [Logica-l] continentais x analiticos x paraconsistencia

2011-12-06 Thread Manuel Doria
Uma lógica desconstrucionista iria contra o espírito de Derrida

Sistemas axiomáticos são uma das manifestações mais supremas da
"logolatria" Ocidental

Uma "lógica desconstrucionista" seria um sistema trivial, anything goes.
Não teria o menor valor cognitivo.

Abraços.

2011/12/6 Joao Marcos 

> > Eu cursava um mestrado interdisciplinar, numa universidade federal, onde
> a *professora*
> > (que era coordenadora do mestrado, e possuía dois pós-doutorados,
> diga-se de passagem)
> > afirmava com todas as letras que Lógica é coisa de medievalista, que a
> Ciência sempre foi
> > apenas um mito bem propagado (por isso as pessoas *acreditam* nas
> teorias científicas!)
> > e que as certezas da matemática não possuem mais exigências que, por
> exemplo, as
> > interpretações de um Deleuze sobre os rizomas da biologia (a famosa
> *desterritorialização* ou,
> > a meu ver, o greencard filosófico pra falar besteira - às vezes penso
> que Deleuze resolveu tirar
> > uma onda da academia pois sabia que o nível estava tão baixo que mesmo
> que ele só falasse
> > asneira todo mundo ia levar a sério; se foi o caso, nisso sim ele
> acertou em cheio! - )
> > Teve uma vez que eu até tentei alertar tal *professora* que, se quisesse
> falar que a
> > objetividade lógica e científica é mito, pelo menos
> >  não fazer isso enquanto liga o ar-condicionado e controla a temperatura
> da sala através
> > de um controle remoto de precisão digital, mas ela não entendeu...
>
> Justo.  Talvez houvesse menos bobagem no mundo, contudo, se quem fala
> sobre ciências naturais (incluindo matemáticos, cientistas da
> computação, e principalmente filósofos da ciência) fosse obrigado
> primeiro a cumprir um certo de número de horas montando experimentos
> em laboratório.
>
> > No entanto, tem outra questão interessante aqui. Já vi inúmeras vezes, e
> acredito que
> > todos aqui já viram isso, a própria Paraconsistência e outras Lógicas
> não-clássicas
> > sendo utilizada junto com a Física Quântica e a Relatividade justamente
> ao lado do
> > Desconstrucionismo, Pós-Estruturalismo e outras pluralidades esteticistas
>
> Você pode mandar referências sobre estas coisas, para que eu entenda
> exatamente a que você se refere? (embora trabalhe há muitos anos sobre
> lógica paraconsistente e lógicas multivaloradas, confesso que
> desconheço completamente as publicações às quais você estaria se
> referindo)
>
> > Mas até hoje não consigo compreender como as Lógicas ditas não-clássica
> > (principalmente as não bi-valentes) conseguem, se apertadas, escapar de
> tais
> > interpretações. Um *terceiro valor de verdade*, nem falso, nem
> verdadeiro, ou
> > tudo-junto-ao-mesmo-tempo, é tudo que a Desconstrução e a *crítica*
> > estético-literária precisa para invalidar qualquer coisa, porém agora
> com o aval
> > da Lógica, pois bastaria ajustar convenientemente seus próprios axiomas
> e regras
> > para se criar um sistema de Lógica Desconstrucionista perfeitamente
> válido
> > (obviamente, válido em tal sistema, como qualquer outro).
>
> E o que seria esta "Lógica Desconstrucionista"?
>
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Re: [Logica-l] continentais x analiticos x paraconsistencia

2011-12-06 Thread FAD 2
Ou, por exemplo, estudando um pouco de física antes de procurar fazer 
filosofia.   

Dou um exemplo de transposição que sempre me pareceu indevida: a partícula de 
Higgs é, a quatro dimensões, o par de Cooper em supercondutividade, este a 
três. Uma analogia tão arbitrária quanto as coisas de Derrida (de quem aliás 
não gosto nada). 

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On 06/12/2011, at 11:36, Joao Marcos  wrote:

>> Eu cursava um mestrado interdisciplinar, numa universidade federal, onde a 
>> *professora*
>> (que era coordenadora do mestrado, e possuía dois pós-doutorados, diga-se de 
>> passagem)
>> afirmava com todas as letras que Lógica é coisa de medievalista, que a 
>> Ciência sempre foi
>> apenas um mito bem propagado (por isso as pessoas *acreditam* nas teorias 
>> científicas!)
>> e que as certezas da matemática não possuem mais exigências que, por 
>> exemplo, as
>> interpretações de um Deleuze sobre os rizomas da biologia (a famosa 
>> *desterritorialização* ou,
>> a meu ver, o greencard filosófico pra falar besteira - às vezes penso que 
>> Deleuze resolveu tirar
>> uma onda da academia pois sabia que o nível estava tão baixo que mesmo que 
>> ele só falasse
>> asneira todo mundo ia levar a sério; se foi o caso, nisso sim ele acertou em 
>> cheio! - )
>> Teve uma vez que eu até tentei alertar tal *professora* que, se quisesse 
>> falar que a
>> objetividade lógica e científica é mito, pelo menos
>>  não fazer isso enquanto liga o ar-condicionado e controla a temperatura da 
>> sala através
>> de um controle remoto de precisão digital, mas ela não entendeu...
> 
> Justo.  Talvez houvesse menos bobagem no mundo, contudo, se quem fala
> sobre ciências naturais (incluindo matemáticos, cientistas da
> computação, e principalmente filósofos da ciência) fosse obrigado
> primeiro a cumprir um certo de número de horas montando experimentos
> em laboratório.
> 
>> No entanto, tem outra questão interessante aqui. Já vi inúmeras vezes, e 
>> acredito que
>> todos aqui já viram isso, a própria Paraconsistência e outras Lógicas 
>> não-clássicas
>> sendo utilizada junto com a Física Quântica e a Relatividade justamente ao 
>> lado do
>> Desconstrucionismo, Pós-Estruturalismo e outras pluralidades esteticistas
> 
> Você pode mandar referências sobre estas coisas, para que eu entenda
> exatamente a que você se refere? (embora trabalhe há muitos anos sobre
> lógica paraconsistente e lógicas multivaloradas, confesso que
> desconheço completamente as publicações às quais você estaria se
> referindo)
> 
>> Mas até hoje não consigo compreender como as Lógicas ditas não-clássica
>> (principalmente as não bi-valentes) conseguem, se apertadas, escapar de tais
>> interpretações. Um *terceiro valor de verdade*, nem falso, nem verdadeiro, ou
>> tudo-junto-ao-mesmo-tempo, é tudo que a Desconstrução e a *crítica*
>> estético-literária precisa para invalidar qualquer coisa, porém agora com o 
>> aval
>> da Lógica, pois bastaria ajustar convenientemente seus próprios axiomas e 
>> regras
>> para se criar um sistema de Lógica Desconstrucionista perfeitamente válido
>> (obviamente, válido em tal sistema, como qualquer outro).
> 
> E o que seria esta "Lógica Desconstrucionista"?
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Re: [Logica-l] continentais x analiticos x paraconsistencia

2011-12-06 Thread FAD 2
Tem que notar que a palavra lógos (e o verbo légo) é, são, quase uma invenção 
de Heráclito. Aparecem só três vezes em Homero. 

Teria a lógica então nascido com Heráclito? O conceito de lógica, digo. 

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On 06/12/2011, at 11:54, Manuel Doria  wrote:

> Uma lógica desconstrucionista iria contra o espírito de Derrida
> 
> Sistemas axiomáticos são uma das manifestações mais supremas da
> "logolatria" Ocidental
> 
> Uma "lógica desconstrucionista" seria um sistema trivial, anything goes.
> Não teria o menor valor cognitivo.
> 
> Abraços.
> 
> 2011/12/6 Joao Marcos 
> 
>>> Eu cursava um mestrado interdisciplinar, numa universidade federal, onde
>> a *professora*
>>> (que era coordenadora do mestrado, e possuía dois pós-doutorados,
>> diga-se de passagem)
>>> afirmava com todas as letras que Lógica é coisa de medievalista, que a
>> Ciência sempre foi
>>> apenas um mito bem propagado (por isso as pessoas *acreditam* nas
>> teorias científicas!)
>>> e que as certezas da matemática não possuem mais exigências que, por
>> exemplo, as
>>> interpretações de um Deleuze sobre os rizomas da biologia (a famosa
>> *desterritorialização* ou,
>>> a meu ver, o greencard filosófico pra falar besteira - às vezes penso
>> que Deleuze resolveu tirar
>>> uma onda da academia pois sabia que o nível estava tão baixo que mesmo
>> que ele só falasse
>>> asneira todo mundo ia levar a sério; se foi o caso, nisso sim ele
>> acertou em cheio! - )
>>> Teve uma vez que eu até tentei alertar tal *professora* que, se quisesse
>> falar que a
>>> objetividade lógica e científica é mito, pelo menos
>>> não fazer isso enquanto liga o ar-condicionado e controla a temperatura
>> da sala através
>>> de um controle remoto de precisão digital, mas ela não entendeu...
>> 
>> Justo.  Talvez houvesse menos bobagem no mundo, contudo, se quem fala
>> sobre ciências naturais (incluindo matemáticos, cientistas da
>> computação, e principalmente filósofos da ciência) fosse obrigado
>> primeiro a cumprir um certo de número de horas montando experimentos
>> em laboratório.
>> 
>>> No entanto, tem outra questão interessante aqui. Já vi inúmeras vezes, e
>> acredito que
>>> todos aqui já viram isso, a própria Paraconsistência e outras Lógicas
>> não-clássicas
>>> sendo utilizada junto com a Física Quântica e a Relatividade justamente
>> ao lado do
>>> Desconstrucionismo, Pós-Estruturalismo e outras pluralidades esteticistas
>> 
>> Você pode mandar referências sobre estas coisas, para que eu entenda
>> exatamente a que você se refere? (embora trabalhe há muitos anos sobre
>> lógica paraconsistente e lógicas multivaloradas, confesso que
>> desconheço completamente as publicações às quais você estaria se
>> referindo)
>> 
>>> Mas até hoje não consigo compreender como as Lógicas ditas não-clássica
>>> (principalmente as não bi-valentes) conseguem, se apertadas, escapar de
>> tais
>>> interpretações. Um *terceiro valor de verdade*, nem falso, nem
>> verdadeiro, ou
>>> tudo-junto-ao-mesmo-tempo, é tudo que a Desconstrução e a *crítica*
>>> estético-literária precisa para invalidar qualquer coisa, porém agora
>> com o aval
>>> da Lógica, pois bastaria ajustar convenientemente seus próprios axiomas
>> e regras
>>> para se criar um sistema de Lógica Desconstrucionista perfeitamente
>> válido
>>> (obviamente, válido em tal sistema, como qualquer outro).
>> 
>> E o que seria esta "Lógica Desconstrucionista"?
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Re: [Logica-l] continentais x analiticos x paraconsistencia

2011-12-06 Thread julio cesar


E ai João Marcos, bão?

olha, eu assinaria com prazer essa proposta pra se ter horas de experimentos 
antes de poder falar sobre ciência!
Mas isso praticamente mataria a Filosofia da Ciência atual, não? rs.. 
(e imagina se a moda pega e se exigissem previamente dos Filósofos da Arte 
alguma publicação artística relevante? Todos iam perder o emprego. E a 
Filosofia da Mente, não teriam eles que fazer experimentos em Neurociência e 
Computação antes de abrir o bico? Sobraria então alguma Filosofia?) 

Ainda assim, ou por isso mesmo, eu assinaria!

Agora eu realmente me surpreendi você nunca ter sequer ouvido aproximações 
entre as lógicas multi-valoradas e os movimentos de desconstrução da filosofia 
continental. Não digo de aproximações institucionais ou acadêmicas em 
publicações especializadas sobre conceitos técnicos com demonstrações ou 
experimentos e tudo mais, mesmo porque quem faz tal aproximação são os 
desconstrucionistas, pós-estruturalistas, etc.. e não o pessoal da Lógica, ou 
da Físcia (ao menos espero!). A aproximação se dá mais no *inimigo em comum* e 
nas estrutura dos argumentos com os quais combatem tais *inimigos* (talvez 
também na motivação!)

Para um rápido exemplo: se acaso não conhecer e tiver paciência (confesso que 
eu não tenho), entre em contato com os trabalhos de Deleuze, Derrida e outros 
do mesmo tipo e veja a *crítica* principal do pós-estruturalismo continental em 
relação à Lógica e ao Racionalismo, pois tirando o aparato técnico que eles 
fazem questão de zombar, é praticamente a mesma crítica que as Lógicas 
Não-clássicas desferem contra à Lógica Clássica, principalmente na questão da 
bivalência. Qualquer Deleuziano *rechaça* com prazer o fato de que existem 
apenas dois valores de verdade, colocando de argumento coisas estruturalmente 
parecidas com *Uma maça é amarela e vermelha, ou seja, é amarela e não-amarela 
ao mesmo tempo*, *Dois médicos distintos sugerem posologias distintas para os 
mesmo problemas num mesmo paciente*, *Haverá uma batalha naval amanhã!*.. e 
pelo menos tais coisas você já deve ter visto nas defesas de algumas Lógicas
 Não-clássicas multi-valoradas, certo?

Outro ponto de semelhança é a questão do Pluralismo. Toda desconstrução, todo 
pós-estruturalismo e, em geral, toda filosofia dita continental (em oposição 
aos analíticos) são em essência posições Pluralistas, e seus argumentos contra 
um Monismo na Lógica (e também na Ciência) são também de extraordinária 
semelhança com os argumentos do Pluralismo Lógico à la Grahan Priest.

Mas, como disse, se quiser entrar em contato com tais aproximações, acredito 
que não é na literatura especializada da lógica ou da matemática que isso será 
encontrado! (e talvez valeria a pena ao menos como exemplo do que não fazer)









 De: Joao Marcos 
Para: julio cesar  
Cc: "logica-l@dimap.ufrn.br"  
Enviadas: Terça-feira, 6 de Dezembro de 2011 10:36
Assunto: Re: [Logica-l] continentais x analiticos x paraconsistencia
 
> Eu cursava um mestrado interdisciplinar, numa universidade federal, onde a 
> *professora*
> (que era coordenadora do mestrado, e possuía dois pós-doutorados, diga-se de 
> passagem)
> afirmava com todas as letras que Lógica é coisa de medievalista, que a 
> Ciência sempre foi
> apenas um mito bem propagado (por isso as pessoas *acreditam* nas teorias 
> científicas!)
> e que as certezas da matemática não possuem mais exigências que, por exemplo, 
> as
> interpretações de um Deleuze sobre os rizomas da biologia (a famosa 
> *desterritorialização* ou,
> a meu ver, o greencard filosófico pra falar besteira - às vezes penso que 
> Deleuze resolveu tirar
> uma onda da academia pois sabia que o nível estava tão baixo que mesmo que 
> ele só falasse
> asneira todo mundo ia levar a sério; se foi o caso, nisso sim ele acertou em 
> cheio! - )
> Teve uma vez que eu até tentei alertar tal *professora* que, se quisesse 
> falar que a
> objetividade lógica e científica é mito, pelo menos
>  não fazer isso enquanto liga o ar-condicionado e controla a temperatura da 
> sala através
> de um controle remoto de precisão digital, mas ela não entendeu...

Justo.  Talvez houvesse menos bobagem no mundo, contudo, se quem fala
sobre ciências naturais (incluindo matemáticos, cientistas da
computação, e principalmente filósofos da ciência) fosse obrigado
primeiro a cumprir um certo de número de horas montando experimentos
em laboratório.

> No entanto, tem outra questão interessante aqui. Já vi inúmeras vezes, e 
> acredito que
> todos aqui já viram isso, a própria Paraconsistência e outras Lógicas 
> não-clássicas
> sendo utilizada junto com a Física Quântica e a Relatividade justamente ao 
> lado do
> Desconstrucionismo, Pós-Estruturalismo e outras pluralidades esteticistas

Você pode mandar referências sobre estas coisas, para que eu entenda
exatamente a que você se refe

Re: [Logica-l] continentais x analiticos x paraconsistencia

2011-12-06 Thread Joao Marcos
> olha, eu assinaria com prazer essa proposta pra se ter horas de experimentos
> antes de poder falar sobre ciência!
> Mas isso praticamente mataria a Filosofia da Ciência atual, não? rs..
> (e imagina se a moda pega e se exigissem previamente dos Filósofos da Arte
> alguma publicação artística relevante? Todos iam perder o emprego. E a
> Filosofia da Mente, não teriam eles que fazer experimentos em Neurociência e
> Computação antes de abrir o bico? Sobraria então alguma Filosofia?)

E qual o sentido de se "filosofar" sobre aquilo que não se conhece?

> Agora eu realmente me surpreendi você nunca ter sequer ouvido aproximações
> entre as lógicas multi-valoradas e os movimentos de desconstrução da
> filosofia continental. Não digo de aproximações institucionais ou acadêmicas
> em publicações especializadas sobre conceitos técnicos com demonstrações ou
> experimentos e tudo mais, mesmo porque quem faz tal aproximação são os
> desconstrucionistas, pós-estruturalistas, etc.. e não o pessoal da Lógica,
> ou da Físcia (ao menos espero!). A aproximação se dá mais no *inimigo em
> comum* e nas estrutura dos argumentos com os quais combatem tais *inimigos*
> (talvez também na motivação!)

Parece então que simplesmente tenho sido seletivo demais na escolha do
que leio...

Por outro lado, parece-me paradoxal que para me informar a respeito
destas "aproximações" entre lógicas não-clássicas e "movimentos de
desconstrução" eu tenha que buscar publicações "não-especializadas".
De modo que fico realmente sem saber o que ler.

Não é falta de paciência minha.  A verdade é que eu não sei de que
"inimigo" estaríamos falando.

> Para um rápido exemplo: se acaso não conhecer e tiver paciência (confesso
> que eu não tenho), entre em contato com os trabalhos de Deleuze, Derrida e
> outros do mesmo tipo e veja a *crítica* principal do pós-estruturalismo
> continental em relação à Lógica e ao Racionalismo, pois tirando o aparato
> técnico que eles fazem questão de zombar, é praticamente a mesma crítica que
> as Lógicas Não-clássicas desferem contra à Lógica Clássica, principalmente
> na questão da bivalência. Qualquer Deleuziano *rechaça* com prazer o fato de
> que existem apenas dois valores de verdade, colocando de argumento coisas
> estruturalmente parecidas com *Uma maça é amarela e vermelha, ou seja, é
> amarela e não-amarela ao mesmo tempo*, *Dois médicos distintos sugerem
> posologias distintas para os mesmo problemas num mesmo paciente*, *Haverá
> uma batalha naval amanhã!*.. e pelo menos tais coisas você já deve ter visto
> nas defesas de algumas Lógicas Não-clássicas multi-valoradas, certo?

Engraçado.  Tenho publicado muitos papers em que mostro como vindicar
a tese (de Roman Suszko) de que as lógicas multivaloradas usuais *não*
vão contra o princípio da bivalência...

Mas também acredito (sei?), devo confessar, que há circunstâncias
específicas, tecnicamente definidas, em que este princípio pode
realmente ser falsificado.  Serei um desconstrucionista em potencial?
Um pós-estruturalista?  Um irracionalista?

> Outro ponto de semelhança é a questão do Pluralismo. Toda desconstrução,
> todo pós-estruturalismo e, em geral, toda filosofia dita continental (em
> oposição aos analíticos) são em essência posições Pluralistas, e seus
> argumentos contra um Monismo na Lógica (e também na Ciência) são também de
> extraordinária semelhança com os argumentos do Pluralismo Lógico à la Grahan
> Priest.
>
> Mas, como disse, se quiser entrar em contato com tais aproximações, acredito
> que não é na literatura especializada da lógica ou da matemática que isso
> será encontrado! (e talvez valeria a pena ao menos como exemplo do que não
> fazer)

Continuei portanto sem saber como seriam estas "semelhanças" e como
exatamente me informar a respeito delas...  Ou mesmo se valeria a pena
(em termos de dispêndio de tempo X objetivos alcançados) fazê-lo.

JM

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Re: [Logica-l] continentais x analiticos x paraconsistencia

2011-12-07 Thread julio cesar



Já eu tenho certeza que as lógicas multi-valoradas *não* vão contra o princípio 
da bivalência pois isso simplesmente é impossível!


Qualquer que seja o valor de verdade que se atribua para uma fórmula, que seja 
a raiz quadrada de -0,999..., é sempre verdadeiro ou falso que tal fórmula 
possui tal valor (isso é um tanto metalinguístico mas é como sempre compreendi 
o princípio da bivalência, é essa a necessidade que ele exprime) e por esse 
ponto de vista não tem como *escapar* dele. 
E será que isso não é uma quedinha pro monismo lógico? E não seria ainda um 
monismo mais clássico que não-clássico?


Sobre desconstrução, pós-estruturalismo, e a francesada toda... se "publicações 
especializadas" for artigos de estudiosos eu não sei pois não acompanho a área. 
Mas já citei Deleuze e Derrida, se você tiver interessado, uma olhada na wiki 
lhe mostraria as principais obras deles, e como as idéias nesses tipos de 
autores espalham-se pelas obras, lê duas principais de cada um que já foi 
demais. Porém, já que mencionou, não acredito que valha a pena ir procurar! 
Citei-os apenas pois sempre vi semelhança no modo como eles e alguns 
proponentes das lógicas não-clássicas dizem se livrar (ter alternativas, 
restringir, escapar) da lógica clássica.

E também não vejo sentido em filosofar sobre o que não se conhece, mas a 
acadêmica, em geral, parece discordar disso.




 De: Joao Marcos 
Para: julio cesar  
Cc: "logica-l@dimap.ufrn.br"  
Enviadas: Terça-feira, 6 de Dezembro de 2011 19:27
Assunto: Re: [Logica-l] continentais x analiticos x paraconsistencia
 
> olha, eu assinaria com prazer essa proposta pra se ter horas de experimentos
> antes de poder falar sobre ciência!
> Mas isso praticamente mataria a Filosofia da Ciência atual, não? rs..
> (e imagina se a moda pega e se exigissem previamente dos Filósofos da Arte
> alguma publicação artística relevante? Todos iam perder o emprego. E a
> Filosofia da Mente, não teriam eles que fazer experimentos em Neurociência e
> Computação antes de abrir o bico? Sobraria então alguma Filosofia?)

E qual o sentido de se "filosofar" sobre aquilo que não se conhece?

> Agora eu realmente me surpreendi você nunca ter sequer ouvido aproximações
> entre as lógicas multi-valoradas e os movimentos de desconstrução da
> filosofia continental. Não digo de aproximações institucionais ou acadêmicas
> em publicações especializadas sobre conceitos técnicos com demonstrações ou
> experimentos e tudo mais, mesmo porque quem faz tal aproximação são os
> desconstrucionistas, pós-estruturalistas, etc.. e não o pessoal da Lógica,
> ou da Físcia (ao menos espero!). A aproximação se dá mais no *inimigo em
> comum* e nas estrutura dos argumentos com os quais combatem tais *inimigos*
> (talvez também na motivação!)

Parece então que simplesmente tenho sido seletivo demais na escolha do
que leio...

Por outro lado, parece-me paradoxal que para me informar a respeito
destas "aproximações" entre lógicas não-clássicas e "movimentos de
desconstrução" eu tenha que buscar publicações "não-especializadas".
De modo que fico realmente sem saber o que ler.

Não é falta de paciência minha.  A verdade é que eu não sei de que
"inimigo" estaríamos falando.

> Para um rápido exemplo: se acaso não conhecer e tiver paciência (confesso
> que eu não tenho), entre em contato com os trabalhos de Deleuze, Derrida e
> outros do mesmo tipo e veja a *crítica* principal do pós-estruturalismo
> continental em relação à Lógica e ao Racionalismo, pois tirando o aparato
> técnico que eles fazem questão de zombar, é praticamente a mesma crítica que
> as Lógicas Não-clássicas desferem contra à Lógica Clássica, principalmente
> na questão da bivalência. Qualquer Deleuziano *rechaça* com prazer o fato de
> que existem apenas dois valores de verdade, colocando de argumento coisas
> estruturalmente parecidas com *Uma maça é amarela e vermelha, ou seja, é
> amarela e não-amarela ao mesmo tempo*, *Dois médicos distintos sugerem
> posologias distintas para os mesmo problemas num mesmo paciente*, *Haverá
> uma batalha naval amanhã!*.. e pelo menos tais coisas você já deve ter visto
> nas defesas de algumas Lógicas Não-clássicas multi-valoradas, certo?

Engraçado.  Tenho publicado muitos papers em que mostro como vindicar
a tese (de Roman Suszko) de que as lógicas multivaloradas usuais *não*
vão contra o princípio da bivalência...

Mas também acredito (sei?), devo confessar, que há circunstâncias
específicas, tecnicamente definidas, em que este princípio pode
realmente ser falsificado.  Serei um desconstrucionista em potencial?
Um pós-estruturalista?  Um irracionalista?

> Outro ponto de semelhança é a questão do Pluralismo. Toda desconstrução,
> todo pós-estruturalismo e, em geral, toda filosofia dita continental (em
> oposição aos

Re: [Logica-l] continentais x analiticos x paraconsistencia

2011-12-07 Thread FAD 2
Penso no (plausível) padre casto que faz sermões sobre sexo... 

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On 06/12/2011, at 22:25, julio cesar  wrote:

> 
> 
> 
> Já eu tenho certeza que as lógicas multi-valoradas *não* vão contra o 
> princípio da bivalência pois isso simplesmente é impossível!
> 
> 
> Qualquer que seja o valor de verdade que se atribua para uma fórmula, que 
> seja a raiz quadrada de -0,999..., é sempre verdadeiro ou falso que tal 
> fórmula possui tal valor (isso é um tanto metalinguístico mas é como sempre 
> compreendi o princípio da bivalência, é essa a necessidade que ele exprime) e 
> por esse ponto de vista não tem como *escapar* dele. 
> E será que isso não é uma quedinha pro monismo lógico? E não seria ainda um 
> monismo mais clássico que não-clássico?
> 
> 
> Sobre desconstrução, pós-estruturalismo, e a francesada toda... se 
> "publicações especializadas" for artigos de estudiosos eu não sei pois não 
> acompanho a área. Mas já citei Deleuze e Derrida, se você tiver interessado, 
> uma olhada na wiki lhe mostraria as principais obras deles, e como as idéias 
> nesses tipos de autores espalham-se pelas obras, lê duas principais de cada 
> um que já foi demais. Porém, já que mencionou, não acredito que valha a pena 
> ir procurar! Citei-os apenas pois sempre vi semelhança no modo como eles e 
> alguns proponentes das lógicas não-clássicas dizem se livrar (ter 
> alternativas, restringir, escapar) da lógica clássica.
> 
> E também não vejo sentido em filosofar sobre o que não se conhece, mas a 
> acadêmica, em geral, parece discordar disso.
> 
> 
> 
> 
> De: Joao Marcos 
> Para: julio cesar  
> Cc: "logica-l@dimap.ufrn.br"  
> Enviadas: Terça-feira, 6 de Dezembro de 2011 19:27
> Assunto: Re: [Logica-l] continentais x analiticos x paraconsistencia
> 
>> olha, eu assinaria com prazer essa proposta pra se ter horas de experimentos
>> antes de poder falar sobre ciência!
>> Mas isso praticamente mataria a Filosofia da Ciência atual, não? rs..
>> (e imagina se a moda pega e se exigissem previamente dos Filósofos da Arte
>> alguma publicação artística relevante? Todos iam perder o emprego. E a
>> Filosofia da Mente, não teriam eles que fazer experimentos em Neurociência e
>> Computação antes de abrir o bico? Sobraria então alguma Filosofia?)
> 
> E qual o sentido de se "filosofar" sobre aquilo que não se conhece?
> 
>> Agora eu realmente me surpreendi você nunca ter sequer ouvido aproximações
>> entre as lógicas multi-valoradas e os movimentos de desconstrução da
>> filosofia continental. Não digo de aproximações institucionais ou acadêmicas
>> em publicações especializadas sobre conceitos técnicos com demonstrações ou
>> experimentos e tudo mais, mesmo porque quem faz tal aproximação são os
>> desconstrucionistas, pós-estruturalistas, etc.. e não o pessoal da Lógica,
>> ou da Físcia (ao menos espero!). A aproximação se dá mais no *inimigo em
>> comum* e nas estrutura dos argumentos com os quais combatem tais *inimigos*
>> (talvez também na motivação!)
> 
> Parece então que simplesmente tenho sido seletivo demais na escolha do
> que leio...
> 
> Por outro lado, parece-me paradoxal que para me informar a respeito
> destas "aproximações" entre lógicas não-clássicas e "movimentos de
> desconstrução" eu tenha que buscar publicações "não-especializadas".
> De modo que fico realmente sem saber o que ler.
> 
> Não é falta de paciência minha.  A verdade é que eu não sei de que
> "inimigo" estaríamos falando.
> 
>> Para um rápido exemplo: se acaso não conhecer e tiver paciência (confesso
>> que eu não tenho), entre em contato com os trabalhos de Deleuze, Derrida e
>> outros do mesmo tipo e veja a *crítica* principal do pós-estruturalismo
>> continental em relação à Lógica e ao Racionalismo, pois tirando o aparato
>> técnico que eles fazem questão de zombar, é praticamente a mesma crítica que
>> as Lógicas Não-clássicas desferem contra à Lógica Clássica, principalmente
>> na questão da bivalência. Qualquer Deleuziano *rechaça* com prazer o fato de
>> que existem apenas dois valores de verdade, colocando de argumento coisas
>> estruturalmente parecidas com *Uma maça é amarela e vermelha, ou seja, é
>> amarela e não-amarela ao mesmo tempo*, *Dois médicos distintos sugerem
>> posologias distintas para os mesmo problemas num mesmo paciente*, *Haverá
>> uma batalha naval amanhã!*.. e pelo menos tais coisas você já deve ter visto
>> nas defesas de algumas Lógicas Não-clássicas multi-valoradas, certo?
> 
> Engraçado.  Tenho publicado muitos papers em que mostro como vindicar
> a