Julio
Vamos ver se nos entendemos. Posso colocar a questão assim? 
(repito aqui algumas aulas do Prof. Newton da Costa, mais ou menos)
Dar os axiomas de uma lógica, ou de um sistema formal, pura e simplesmente, não 
diz nada sobre a lógica em questão. É preciso saber o que se quer, ou seja, 
ter-se uma espécie de semântica intuitiva, pelo menos. Se é isso que você chama 
de "filosofia", good. Veja que podemos dar os axiomas da lógica intuicionista 
de Brouwer-Heyting, mas isso nada diz do intuicionismo. Formalmente, trata-se 
de um subcálculo da lógica clássica, e usamos até mesmo os mesmos sinais para a 
negação, conjunção, etc. Mas, "filosoficamente", não têm nada a ver. O 
"significado" dos conectivos é completamente distinto, e o intuicionismo (que 
se apresenta de várias formas), é uma filosofia linda e enrolada, dando uma 
matemática (na linha de Brouwer) com propriedades bem estranhas para um 
"clássico". 
Será que temos um ponto em comum?
D

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Decio Krause
Departamento de Filosofia
Universidade Federal de Santa Catarina
88040-940 Florianópolis, SC -- Brasil
deciokrause[at]gmail.com
www.cfh.ufsc.br/~dkrause
________________________________________
"We are intrinsically spatial and temporal
beings. We can only observe particular
entities, handle spatial things, and our
thinking depends on the concept of
individuals. How to reconcile nonspatial
quantum characteristics with spatio-
temporal individuation is perhaps the next great problem physics has to 
overcome." (S. Auyang, "How is quantum
field possible?"(Princeton Un. Press, 1995, p.165).
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Em 09/04/2012, às 23:44, Julio César escreveu:

> Décio, 
> 
> Para se pretenderem lógicas, e não meros sistemas formais, eu também espero 
> que tenham implicações filosóficas!
> 
> Se vc tivesse paciência para reler o que escrevi veria porém que o que eu 
> disse não foi bem isso. Mas pelas discussões que já tivemos, percebo que não 
> consigo me fazer entender talvez pq eu parto do ponto que se precisaria antes 
> de mais nada justificar a identificação que vocês fazem entre "lógica" e 
> "sistemas formais", coisa que vocês tomam por óbvio e garantido.
> 
> Uma lógica não clássica, a meu ver, seria talvez a coisa de maior implicação 
> filosófica que alguém poderia conceber, mas um mero sistema formal não 
> clássico é tão filosófico quanto as linguagens C, Java, .NET...
> 
> Abs
> Júlio César A. Custódio
> 
> Em 09/04/2012, às 19:36, Décio Krause <deciokra...@gmail.com> escreveu:
> 
>> Júlio
>> As lógicas não clássicas não têm implicações filosóficas? O que leu sobre 
>> tais lógicas? Puxa, estou surpreso.
>> D
>> 
>> 
>> 
>> ------------------------------------------------------
>> Décio Krause
>> Departamento de Filosofia
>> Universidade Federal de Santa Catarina
>> 88040-900 Florianópolis - SC - Brasil
>> http://www.cfh.ufsc.br/~dkrause
>> ------------------------------------------------------
>> 
>> Em 09/04/2012, às 18:06, julio cesar <jcacusto...@yahoo.com.br> escreveu:
>> 
>>> Olá lista,
>>> 
>>> estou em total acordo com quem critica os sistemas inconsistentes por falta 
>>> de compromisso filosófico (pra não dizer coerência). Apesar da praticidade 
>>> tais (alguns) sistemas formais, isso não implica, de forma alguma, que eles 
>>> tenham (ou teriam que ter) implicações filosóficas. Qualquer linguagem de 
>>> programação moderna é um sistema formal tão legítimo como qualquer sistema 
>>> de lógica, no entanto, se for realmente possível criar operações e 
>>> instruções numa linguagem formal para que uma contradição genuína não cause 
>>> problemas (e embora eu ainda tenha sinceras dúvidas quanto a isso) tal fato 
>>> não significa necessariamente nada do ponto de vista filosófico, inclusive 
>>> do ponto de vista da filosofia da lógica.  Os *lógicos não-clássicos*, em 
>>> especial a turma da inconsistência, geralmente dão um passo muito fácil de 
>>> *sistemas formais* para *princípios lógicos* e daí então para *filosofia da 
>>> lógica*, passos que a meu ver
>>> não são nada simples, muito menos triviais.
>>> 
>>> É praticamente nula a discussão sobre até que ponto é legítimo o 
>>> comportamento de um sistema formal qualquer ditar os princípios ou a 
>>> filosofia da lógica. 
>>> 
>>> Um pequeno exemplo já bem batido nessa discussão:
>>> 
>>> - os sistemas que tratam de forma não-clássica a contradição tem, 
>>> basicamente, uma única abordagem: manipular o operador de negação. 
>>> Altera-se de tal forma a instrução contida nesse operador que, com essa 
>>> alteração, a contradição sequer aparece. No entanto, ao alterar o operador 
>>> clássico, altera-se a informação contida em tal operador. Sendo assim, se 
>>> acaso uma expressão com tal operador clássico possuir como informação uma 
>>> contradição, ao se alterar tal operador, altera-se a informação sob a mesma 
>>> expressão e, dessa forma, nada garante que aquilo ainda continua sendo uma 
>>> contradição; em outras palavras, a fórmula se torna apenas uma coisa que 
>>> não tem problema algum em ser verdadeiro, inclusive classicamente falando. 
>>> 
>>> Um lógico clássico tem todo o direito de olhar para a maioria das lógicas 
>>> inconsistentes e dizer: "Que mentira! Vocês não estão aceitando contradição 
>>> coisa nenhuma! Vocês estão é mudando de assunto!"
>>> 
>>> 
>>> Abraços,
>>> Júlio César A. Custódio
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