Caro Walter,

Obrigada pela mensagem. Eu já havia visto em vários lugares também, e
essa notícia me abalou muito mesmo.

Eu acho que, de fato, há muito o que refletir. Mas não para jovens
pesquisadores que aspiram submeter um projeto PQ, e sim para quem roda a
máquina de moer gente que faz pesquisa no Brasil.

Enquanto não trocar a engrenagem, enquanto pareceristas deixarem de ser
"recrutados" sem o mínimo treinamento e orientação, enquanto não se tiver
um balanço de diversidade nesses comitês, vamos ter pareceres deploráveis
como esse e respostas ridículas como essa do CNPq (de fato, quem assinou
isso??)

Pra mim, a mensagem que fica é: mulheres cientistas, reencarnem homens
brancos de meia idade. Porque, sinceramente, estou cansada de "refletir" e
tentar mudar o que parece mesmo impossível ser mudado.

Abraços bem sem muita esperança,

On Fri, Dec 29, 2023 at 4:13 AM Walter Carnielli <walte...@unicamp.br>
wrote:

>
> Colegas:
>
> Copio aqui a matéria do  GGN de 28/12/2023,  mas está em vários outros
> lugares.
>
> Acho que é um ponto importante para reflexão de todos aqueles que têm, ou
> aspiram ter, bolsa PQ do CNPq.
>
> ========///
>
> Repercute nas redes sociais nesta semana o caso da cientista social,
> professora e pesquisadora da Universidade Federal do ABC (UFABC), Maria
> Carlotto <https://linktr.ee/mariaccarlotto>, que expôs na internet o teor
> do parecer que recebeu do Conselho Nacional Científico e Tecnológico
> (CNPq), órgão vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, negando uma
> bolsa produtividade com argumentos que chocaram a comunidade acadêmica no
> País.
>
> O parecer do CNPq sublinhou que Maria Carlotto não tem estudos no exterior
> e considerou que, muito provavelmente, isso se deu porque ela teve dois
> filhos ao longo dos últimos anos. A mensagem que trata a maternidade como
> um empecilho à carreira científica e que valoriza passagens em instituições
> internacionais sobre as nacionais, foi alvo de críticas e acabou projetada
> em jornais como a Folha de S. Paulo.
>
> *“Resultado preliminar da bolsa produtividade CNPq reconhece a minha
> carreira, mas aponta que não fiz pós-doc fora. Pandemia? Governo Bolsonaro?
> Não… ‘provavelmente suas gestações atrapalharam essas iniciativas, o que
> poderá ser compensado no futuro’. Vontade de chorar”*, escreveu Maria
> Carlotto na rede social X. A publicação tem mais de meio milhão de
> visualização na plataforma.
>
> Para a advogado e antropóloga *Debora Diniz
> <https://www.instagram.com/p/C1ZKhxPoeE5/?igsh=YnphbHNycXhwaHd4>*, *“há
> vários erros neste parecer. Salta aos olhos o colonialismo, a misoginia e a
> arrogância”.*
>
> *“Não sei o que o parecer entende como pós-doutorado — será o trabalho de
> dois ou três anos de jovens doutores como assistentes de um professor
> sênior, ou as licenças/estágios acadêmicas brasileiras de um ano para
> pesquisa? Qualquer que seja a compreensão (repito: são muito diferentes), a
> colonialidade da avaliação é assustadora. “No exterior” é onde estaria o
> selo de mérito que faltaria à professora”, *criticou Diniz numa
> publicação no Instagram.
>
> *“Está fora da imaginação intelectual do parecerista a possibilidade de
> uma formação sólida e continuada no país. Está fora da imaginação que uma
> mulher com filhos possa ser doutora, pesquisadora e professora. A tal ponto
> que se candidata ao início da carreira de pesquisadora do CNPq”,* completou
> a jurista.
>
> O outro lado
>
> Em nota, o CNPq pediu desculpas pela situação, alegando que *“tal juízo é
> inadequado tanto porque um estágio no exterior não é requisito para a
> concorrência em tal edital quanto por expressar juízo preconceituoso com as
> circunstâncias associadas à gestação. Não é, portanto, compatível com os
> princípios que regem as políticas desta agência de fomento. A agência tem
> em suas normas, inclusive extensões de períodos de bolsa e de avaliação em
> decorrência de maternidade”.*
>
> O órgão explicou também que *“tal juízo foi formulado em parecer ad hoc,
> não tendo sido corroborado pelo comitê assessor responsável pelo
> julgamento, o qual fez análise de mérito comparativo com as propostas da
> mesma área apresentadas no edital e sopesou a disponibilidade de recursos
> orçamentários, sem considerar tal parecer. Os pareceres ad hoc são emitidos
> por especialistas, respeitando o sigilo de sua autoria, e são subsídios que
> os comitês podem ou não incorporar em seus julgamentos. Ademais, os
> julgamentos podem ser objeto de recursos pelos proponentes, recursos estes
> que são julgados por comissão institucional sem a participação dos comitês
> que fizeram o julgamento preliminar”.*
>
> Para Debora Diniz, não basta o CNPq fazer uma retratação pública.* “Não é
> matéria de desculpa apenas: é urgente a atuação institucional para a
> compreensão da seriedade da pareceres, da sensibilidade para gênero, raça e
> região da candidata. É preciso anular este ciclo decisório das bolsas,
> comprometer-se ao treinamento dos parecerista, substitui-los, e novamente o
> processo ser aberto.”*
>
> O CNPq afirmou que *“não tolera atitudes que expressem preconceitos de
> qualquer natureza, sejam eles de gênero, raça, orientação sexual, religião
> ou credo político. Por essa razão, a agência instruirá seu corpo de
> pareceristas para maior atenção na emissão de seus pareceres, e a Diretoria
> Científica levará este caso concreto à Diretoria Executiva do CNPq para o
> exame das providências cabíveis”.*
> Violência de gênero
>
> Após a divulgação da nota de esclarecimento, a professora Maria Carlotto 
> voltou
> às redes sociais
> <https://twitter.com/maria___maria/status/1740070761350811876>. Ela
> manifestou que o erro foi do parecerista, mas o CNPq *“deveria ter
> interditado o parecer como um todo. Na prática, o CNPq me incentivou a
> submeter um projeto pós-licença maternidade e me submeteu, depois, a uma
> violência de gênero.”*
>
> *“(…) mesmo que eu use o meu direito ao recurso, isso não apaga a
> violência cometida. E, de novo, não é sobre mim e sobre este caso, que não
> deve ser isolado, mas sobre como vamos construir editais realmente abertos
> a mulheres, especialmente aberto a mulheres mães”,* finalizou.
>
> Leia a nota completa do CNPq *aqui
> <https://www.gov.br/cnpq/pt-br/assuntos/noticias/cnpq-em-acao/nota-de-esclarecimento-1>*
> .
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