Colegas da lista,
 
Nada melhor do que a discordância para avançar o conhecimento ...
 
Em primeiro lugar, não acho que o critério de demarcação de Popper seja claro o 
bastante para apontarmos com certeza o que é ou o que não é ciência (ele jamais 
insinuou ser assim). Em CR ele afirmou veementemente que a fronteira era 
permeável. Carnieli (Pensamento Crítico) sustenta que o fato de não 
podermos distinguir o claro da absoluta escuridão não implica que não haja 
diferença entre esses dois estados. Agora está requesitando preto no branco. 
Nada é preto no branco!
 
A refutabilidade é uma possibilidade, não precisa ser um acontecimento 
concreto. A teoria pode ser refutada daqui a 1000 anos ou jamais vir a ser 
refutada, mas deve permitir isso caso venha a se apresentar um fato que lhe 
contradiz, e não contradiz uma teoria rival. Certamente os cientistas fazem uso 
de estratagemas convencionalistas ou salvam suas teorias da refutação o tempo 
todo, mas Popper recomenda que se o fizerem, as hipóteses ad hoc devem acrescer 
conteúdo informativo. Caso leiam somente a Introdução da obra podem perder o 
néctar da filosofia popperiana. Lembro inclusive que ele, diferentemente de 
Kuhn não está descrevendo a ciência, mas está fazendo lógica da ciência 
(normativo). Quase 100 anos se passaram desde a primeira obra de Popper. 
Certamente muito se acrescentou ao nosso entendimento da ciência. Agora dizer 
que Popper é somente história só pode ser brincadeira! Ainda há muitos físicos 
que estão no paradigma
 metodológico do século XIX! Os mais avançados falam em refutação! Hawking 
chega a citar Popper como definição de ciência! Afirmar que Popper matou a 
critividade científica? Foi justamente ele que se revoltou com o paradigma do 
mecanismo do método indutivo tão em voga na ciência do século XIX e início do 
XX. Os cientistas podiam agir de diferente, mas eles acreditam no poder do 
método eles acreditavam.
 
 
Fico espantado quando pesquisadores não aceitam a crítica de alguém afirmando 
ser este um não-especialista. John Horgan é jornalista, mas e daí? Ínúmeros 
psicólogos, psiquiatras e até psicanalistas criticam as teorias de Freud. 
Muitas das teorias que surgem na fronteira da ciência não são refutáveis por 
limitação tecnológica, outras são irrefutáveis, e portanto, pseudocientíficas. 
A teoria do multiverso é uma delas. Gleiser afirma em seu ultimo livro Criação 
Imperfeita não tratar-se de teoria científica. John Horgan pega o conceito de 
Penrose  e as chama de ciência irônica ou pós-empírica. Acho que o 
politicamente correto está influenciando na questão da demarcação. Vamos 
incluir tudo! Não podemos deixar ninguém de fora!


Julio Fontana

De: FAD 2 <famado...@gmail.com>
Para: Decio Krause <deciokra...@gmail.com>
Cc: Julio Fontana <juliocesarfont...@yahoo.com.br>; "logica-l@dimap.ufrn.br" 
<logica-l@dimap.ufrn.br>
Enviadas: Domingo, 18 de Setembro de 2011 7:33
Assunto: Re: [Logica-l] Critério de demarcação

Boutade. Prefiro Proust, com o que ele diz sobre Charlus no jantar dos 
Verdurin. 

Sent from my iPhone

On 17/09/2011, at 15:30, Decio Krause <deciokra...@gmail.com> wrote:

> Argumentum ad amicis?
> Legal!!
> ________________________________
> Decio Krause
> Departamento de Filosofia
> Universidade Federal de Santa Catarina
> 88040-940 Florianópolis, SC -- Brasil
> deciokrause[at]gmail.com
> www.cfh.ufsc.br/~dkrause
> ________________________________
> "He [God] will never choose among indiscernibles"
> (G.W.Leibniz)
> 
> 
> 
> 
> 
> 
> Em 17/09/2011, às 13:57, Julio Fontana escreveu:
> 
>> Prezados colegas de lista,
>> 
>> O assunto é demasiado complexo e não posso examinar todos os pontos que 
>> foram levantados aqui.
>> Irei responder principalmente ao Francisco Doria.
>> O senhor afirmou que Popper não o convence quanto a psicanálise se comportar 
>> como uma pseudociência. Particularmente, acho que Popper está correto, porém 
>> não foi o primeiro a direcionar ataques contra a cientificidade da 
>> psicanálise e nem o crítico mais eficaz. John Horgan levantou em seu livro 
>> "The undiscovery mind" diversas das críticas contra a psicanálise, algumas 
>> melhores do que a de Popper. A crítica de Popper pode não ser a mais 
>> apropriada, mas o objetivo dele não era convencer ninguém.
>> Aceito que o senhor possua fé na psicanálise. Muitos compartilham da sua fé. 
>> Da mesma forma sou compassivo com aqueles que mantém uma crença em um Deus, 
>> deuses, ou nenhum deus. Não posso aceitar a sua afirmação de que a 
>> psicanálise é ciência. Também achar que Jung estava correto por ser 
>> colaborador de dois físicos importantes, é uma nova forma de falácia: 
>> argumentum ad amicis.
>> 
>> Tento agora responder alguns pontos levantados por outros.
>> 
>> Falsificabilidade ou refutabilidade.
>> 
>> Popper não é um falsificacionista ingênuo. Não há confronto entre 1 teoria e 
>> experiência. Há confronto de duas ou mais teorias rivais com a experiência. 
>> A experiência pode decidir provisoriamente entre teorias rivais qual é a 
>> melhor.
>> 
>> Certamente, a ciência não é formada somente por teorias falsificáveis. 
>> Existem programas de pesquisas metafísicos, concepções da natureza e outras 
>> coisas. Popper explicou todos esses pontos.
>> 
>> Alguém afirmou que nenhum físico se comporta como Popper os descreve. 
>> Acredito que a afirmação é ambiciosa demais. O físico de comporta conforme o 
>> estudo que está fazendo. Depende da situação, do objeto e de diversas outras 
>> coisas. O método que ele vai usar é bastante flexível. Algumas vezes na 
>> história encontramos exemplos de refutação de teorias, outras de 
>> confirmação, outras de adequação, outras de salvar os fenômenos, outras de 
>> intuição somente.
>> 
>> Sou popperiano, mas não acho que Popper explica tudo. Caso fosse assim, eu 
>> me dedicaria a outra área que não a filosofia da ciência. Mas não reconhecer 
>> importantes insights trazidos por Popper é brincadeira. O Doria chega a 
>> dizer que Jung explicou melhor a ciência do que Popper, Kuhn, Fraassen ou 
>> qualquer outro filósofo da ciência.
>> 
>> O critério de demarcação é importante pragmaticamente. Diversos filósofos da 
>> ciência, inclusive Lakatos, apontaram demasiadamente. Na filosofia é assim, 
>> compo Popper a descreveu, estamos sempre revolvendo os entulhos.
>> 
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