Personalidades paranoicas (não confundir com esquizo-paranoicos) tem duas
características fundamentais:
1) Delírio de grandeza
2) Delírio de perseguição.

As duas estão relacionadas, pois apessoa é perseguida devido à sua
pretendida grandeza, sendo dessa maneira injustiçada, segundo o seu
delírio. Uma maneira de efetuar essa perseguição é o ostracismo como
isolamento e desconhecimento.
Nesse sentido podem ser interpretados MFS e Olavo de Carvalho,
pretendidamente injustiçados pela academia que não quer reconhecer os
méritos que o seu delírio paranoico abraça.
MFS acreditava não que ele tinha feito uma contribuição à filosofia, mas
que tinha criado uma nova filosofia, a filosofia concreta, que era A
Filosofia, e que devia substituir a maior parte das erradas filosofias
anteriores. Nesse sentido escreveu livros e livros, parece que financiados
por ele próprio.
Mas não é tão verdade essa questão do ostracismo, isolamento, etc., porque
como conta o Cassiano e como a gente viveu com o Jeseé, periodicamente
aparecem pessoas que ficam seduzidas pelo carisma do MFS e tentam propagar
a sua obra, mas sem sucesso. Aqui em Uberlândia também está acontecendo
isso, de modo que parece que estamos vivendo mais uma ofensiva do MFS ou de
quem está atrás disso (eu vou tentar averiguar aqui a origem dessa onda
MFS), mas alguma pessoa que está tentando impor MFS é afim ao perenialismo
  (philosophia perennis).

Olha a perdida Wikipedia em português, na entrada "Filosofia concreta":
"A filosofia concreta é a filosofia de Mário Ferreira dos Santos
(1907-1968), que se caracteriza, sobretudo, pela tentativa de
metamatematizar a filosofia, dentro de um critério pitagórico,
compreendendo 258 teses com rigorosas demonstrações, de uma forma análoga à
geometria.[1]
Mário sustentou essa filosofia sobre critérios apodíticos, inteiramente
válidos para todas as ciências, evitando juízos assertóricos, válidos
apenas para algumas áreas do saber"

Igual que no "caso Schreber" (um caso de paranoia) analisado por Freud, a
inspiração messiânica fica bastante clara.

Para quem acredita, por motivos psicológicos ou outros, que a natureza e o
mundo tem uma ordem estrita, um discurso absolutista com tom messiânico que
promete fundamentar essa ordem é muito sedutor.

Entretanto, no caso da biologia, o artigo
Sokal, R. R. (1985). The continuing search for order. The American
Naturalist, 126(6), 729-749.
analisa como esse desiderato de ordem é frequentemente frustrado, como as
críticas à classificação biológica do livro recomendado por mim num outro
e-mail.
E autores do anti essencialismo criticam a Árvore de Porfírio em diversos
sentidos: a sua unicidade, o conceito de categoria ou gênero supremo, o
conceito de forma ou infima specie, etc.

Talvez a minha escolha da palava "charlatão" não tinha sido a mais
adequada. Nestas latitudes o primeiro que se vê é o sentido emotivo e
moral, minimizando o significado. "Maria foi na festa com um vestido de uma
horrível cor azul", o que mais pesa e "horrível", embora o interlocutor
fique perplexo quando peçam uma amostra qualquer de cor azul horrível.

A minha ideia, ao contrário do Jeseé, não era xingar nem menosprezar, mas
um significado aproximado de:
"[Pejorativo] Aquele que se utiliza da boa-fé de alguém, geralmente,
fingindo atributos e qualidades que não possui, para obter (dessa pessoa)
quaisquer vantagens, ganhos, lucros etc.; impostor."
https://www.dicio.com.br/charlatao/

Segundo o velho ditado "é louco, mas não come vidro" poderíamos questionar
até que ponto é personalidade paranoica, até que ponto é enganação, mas
isso termina tendo pouca importância nestes casos.

Mais relevante parece ser a pergunta: "porque Hitler teve apoio popular
massivo?". E porque seduzem tanto todos esses pequenos Hiltlers que
aparecem por aqui e por lá?

Não sei se este e-mail é tão off-topic.
Afinal é uma reflexão sobre psicologia e antropologia da ciência.

Carlos


2018-09-16 13:23 GMT-03:00 Cassiano Terra Rodrigues <
cassiano.te...@gmail.com>:

> Colegas,
> Apenas alguns relatos. Desculpem se me alongo desnecessariamente.
> Minha avó, quando se graduou em pedagogia pelo Instituto Itapetiningano de
> Ensino Superior, hoje praticamente inexistente, estudou o Parmênides de
> Platão pelo comentário de MFS. Legou-me esse volume, bem como os de
> Filosofia Concreta, dizendo "Não entendi nada, tomara q vc entenda, mas nem
> se preocupe em me contar, já passei da época". Lembro q ao lê-los minha
> impressão foi a de ter conhecido uma obra bestial, como dizem os lusitanos.
> Não consegui dizer isso à minha avó, falecida anteriormente e conforta-me
> pensar q ela foi poupada de mais esse conhecimento na vida (assumindo aqui
> certo tom nietzschiano, para quem o conhecimento pode ser um fardo).
> Hoje, na Wikipedia, li o seguinte: "Segundo Olavo de Carvalho
> <https://pt.wikipedia.org/wiki/Olavo_de_Carvalho>, Mário Ferreira dos
> Santos foi ostracizado <https://pt.wikipedia.org/wiki/Ostracismo> no meio
> acadêmico brasileiro, tendo sofrido uma espécie de boicote nas
> universidades brasileiras nas quais a vertente dominante era o materialismo
> dialético."
> Hj percebo q não tenho razões para rever minhas impressões de jovem
> estudante, ao reler a fórmula de abissal sapiência em lavra do referido
> MFS: "Alguma coisa há, e o nada absoluto não há". Fiquei descurioso em
> rever quais métodos da filosofia da matemática MFS usa para tratar de temas
> filosóficos.
> Resta ainda dizer q minha avó e Olavo de Carvalho certamente são
> autoridades a serem consideradas, mas em áreas diferentes, é claro, minha
> avó se era boa professora do primário e excelente fazedora de biscoitinhos
> de nata, jamais entendeu patavina de astrologia, apesar de em certa época
> andar com pirâmides de arame na cabeça (quem viveu nos anos de 1980 deve se
> lembrar dessa moda).
>
> Saudações,
> cass.
>
> --
> --
> Prof. Dr. Cassiano Terra Rodrigues
> Departamento de Humanidades - Divisão de Ciências Fundamentais
> Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA)
>
> --
> lealdade, humildade, procedimento
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