Legal! Obrigado, Ralph!

A relação entre estas 3 soluções cabe bem na discussão que eu queria ter
sobre educação matemática (resolução de problemas é uma parte importante
dela).

A solução por geometria sintética eu já conhecia. Ela usa construções
auxiliares, no caso, paralelogramos construídos a partir de duas das
medianas. Neste problema, as construções auxiliares são mais ou menos
óbvias. Mas há vários problemas de geometria cuja solução sintética usa
construções auxiliares nada óbvias e que parecem vir "do além". Imagino que
esta seja a fonte mais comum de dificuldade em problemas olímpicos de
geometria.

A solução por vetores (que é essencialmente algébrica) também usa
paralelogramos, mas de forma implícita. Pois a soma de vetores no plano (na
qual a solução é baseada) obedece à chamada "lei do paralelogramo". De
fato, me parece possível definir um paralelogramo a partir da soma de
vetores, mais ou menos assim: dados os pontos A, B, C no plano, e definindo
os vetores v = AB e w = AC, então o ponto D tal que AD = v + w é tal que os
pontos A, B, C, D são vértices de um paralelogramo (no caso, o
paralelogramo ABDC).
É interessante que, por causa disso, o uso de vetores dispensa a busca de
uma construção auxiliar, o que resulta numa solução mais "automática". Ou
seja, o uso de vetores em geometria foi um avanço tecnológico, que
suplantou, em vários casos, o "artesanato" da solução sintética.

A ideia de usar uma transformação afim, que me ocorreu porque o Anderson
Torres mencionou "homotetia" (um tipo específico de transformação afim) em
relação a outro problema, no fundo também usa vetores mas, além deles,
também usa transformações lineares e uma estratégia de solução que, em
linhas gerais, é:
1) usar uma transformação invertível pra transformar o problema original
num outro mais fácil de resolver (no caso, o problema original proposto
para um triângulo equilátero);
2) resolver o problema mais fácil;
3) usar a transformação inversa pra obter automaticamente a solução do
problema original (triângulo qualquer).
Este tipo de estratégia é usado toda vez que fazemos uma "mudança de
variáveis".

***

A solução sintética também usa o fato de que as medianas de um triângulo o
subdividem em seis triângulos de mesma área.

Em geral, três cevianas que são concorrentes subdividem um triângulo em
seis outros triângulos e o uso "esperto" das áreas destes triângulos
resulta numa demonstração razoavelmente simples e intuitiva do teorema de
Ceva (vide, por exemplo, o livro Geometry Revisited, de Coxeter e Greitzer).

A demonstração usual de Ceva usa semelhança: no triângulo ABC, com cevianas
concorrentes AM, BN e CP, trace a reta r contendo A e paralela a BC e, em
seguida, considere os pontos Q e R de intersecção das cevianas BN e CP (ou
seus prolongamentos) com a reta r. Usando semelhança de pares de triângulos
adequados e alguma álgebra, chega-se à relação de Ceva: AP/PB * BM/MC *
CN/NA = 1.

Mas o que eu queria dizer é que acho bem possível que as teorias de área e
de semelhança sejam equivalentes, no sentido de que tudo o que é possível
demonstrar por meio de uma delas também é possível por meio da outra.

O que me leva a dizer isso é o seguinte: no triângulo ABC, com alturas BH e
CK, temos:
1) 2*área(ABC) = AB*CK = AC*BH
e
2) a semelhança dos triângulos retângulos AHB e AKC (ângulo A comum)
implica que:
AB/BH = AC/CK  <==>  AB*CK = AC*BH

Ou seja, chega-se à mesma relação (algébrica) entre elementos de um
triângulo por dois caminhos aparentemente distintos: área e semelhança.

Hoje em dia, estas duas teorias são apresentadas supondo-se conhecidas as
propriedades dos números reais (vide Medida e Forma em Geometria, do Elon
Lages Lima).
Em particular, este livro (que é ótimo) apresenta a teoria da semelhança
com base na definição:
As figuras planas F e G são ditas semelhantes (de razão k) se existir uma
função f:F -> G e um número real positivo k tais que, para quaisquer pontos
X e Y de F:
dist(f(X),f(Y)) = k*dist(X,Y), onde dist(X,Y) = distância entre X e Y =
medida do segmento XY.

[]s,
Claudio.


2018-07-29 19:44 GMT-03:00 Ralph Teixeira <ralp...@gmail.com>:

> Sim! Quando aplica-se qualquer transformacao linear a um objeto, a razao
> entre o volume da figura nova e o da figura antiga eh constante e igual ao
> determinante da transformacao! Entao ambas as areas ficariam multiplicadas
> pelo mesmo numero, e a razao se manteria!
>
> Outro detalhe: teria que ver se a transformacao linear leva medianas em
> medianas... Mas isso tambem eh verdade e vem direto da definicao de
> "transf. linear", pontos medios se preservam.
>
> Abraco, Ralph.
>
> On Sun, Jul 29, 2018 at 5:53 PM Claudio Buffara <claudio.buff...@gmail.com>
> wrote:
>
>> Idéia que me ocorreu: todo triângulo é afim-equivalente a um triângulo
>> equilátero.
>> Mediante translações, as medianas de um triângulo equilátero de lado 1
>> formam um triângulo equilátero cujos lados medem raiz(3)/2 e, portanto,
>> cuja área é 3/4.
>> Será que uma transformação afim preserva a razão entre as áreas do
>> triângulo original e do triângulo “medianico”?
>>
>> Abs,
>> Cláudio.
>>
>> Enviado do meu iPhone
>>
>> Em 28 de jul de 2018, à(s) 19:08, matematica10complicada <
>> profdouglaso.del...@gmail.com> escreveu:
>>
>> Então,podemos fazer o seguinte:
>>
>> Considere um triângulo ABC, cujas medianas são AM, BN, CP, e baricentro
>> G desta forma
>>
>> 1)Monte um paralelogramo BNQM de forma que MQ intercepte AC em R.
>>
>> 2)Como o baricentro divide em seis áreas iguais, temos que a área do
>> triângulo AGN será 1/6.
>>
>> 3)É fácil ver que MQ=BN, e AQ=CP.
>>
>> 4) Desta forma a área procurada será a do triângulo AMQ que é o dobro
>> da área do triângulo AMR=3/8.
>>
>> Portanto a resposta é 3/4.
>>
>>
>> Douglas Oliveira.
>> Grande Abraço.
>>
>> Em 28 de julho de 2018 16:32, marcone augusto araújo borges <
>> marconeborge...@hotmail.com> escreveu:
>>
>>> Seja um triangulo ABC cuja area eh igual a 1. Determinar a area do
>>> triangulo cujos  lados sao iguais às medianas do triangulo ABC
>>>
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