Em 14 de outubro de 2014 18:55, Luciana Fujii <luci...@fujii.eti.br>
escreveu:

>  Não é só uma questão de gerar forks livres. O Ubuntu era livre (ou tão
> livre quanto a maioria das distribuições) e adicionou software
> proprietário, adicionou software que não respeitava a privacidade de
> usuários, criou projetos novos pra competir com software livre usando a GPL
> + atribuição de direito autoral pra criar lock-in.
>

Pelo menos, o Ubuntu é forqueável, os hackers podem exercer as liberdades
para poder colocar o software na linha certa. Enquanto isso, se o Ubuntu
atrair mais pessoas comuns para usufruírem e acostumarem com Software
Livre, não vou ficar condenando, é preferível lutar contra ameaças mais
graves.

E o que é mais grave ou ameaçador para mim? É relativo, cada um lida com
seu próprio contexto e assim tem seu próprio conjunto de valores para
julgar o que é mais ameaçador ou não. Para o Anahuac, o Gmail é mais
ameaçador pois tirou mercado do seu ganha-pão (Kyapanel). No meu caso,
Software Livre para compartilhar Recursos Educacionais é significativo para
mim, pois sou professor. Aaron Schwartz raqueou o sistema que limitava
baixar artigos científicos no MIT. Hackers são movidos por lutar contra
tecnologias que o aprisionam, veja seus hackings e verá que na maioria dos
casos é algo que o incomoda no dia-a-dia. Stallman lutou contra um driver
de impressora proprietário. Quando perguntei a ele o que motiva dedicar sua
vida a trabalhar pelo Movimento de Software Livre, ele me disse que era
para lutar contra o mal. No início, achei muito estranho, mas depois tudo
fez sentido: *nada é mais motivador do que combater aquilo que o
incomoda/oprime diariamente, ou você conforma ou é um hacker que 'luta até
a morte*'.

Por que o Ubuntu resolveu distribuir Software Proprietário? Eu creio que é
por uma razão simples: geralmente todo produto para se sustentar no
mercado, ele se adapta ao usuário e não o contrário. Os usuários do Ubuntu
querem comodidade, valorizam coisas do dia-a-dia: suporte a vários tipos de
hardware, interface agradável, facilidade de uso, etc. E como brinde pode
agregar vantagens que o Software Livre tem de diferencial: imunidade a
vírus, estabilidade, segurança mais ágil, etc. *Os consumidores do Ubuntu
não são hackers, não se incomodam com Software Proprietário.*


>
> Criar um fork livre do Ubuntu faz sentido?
>

O sentido depende do contexto. Do ponto de vista do contexto comercial,
sim. Um exemplo de fork bem sucedido comercialmente do Ubuntu é o Linux
Mint:
- É a mais popular, segundo o Distrowatch:
http://distrowatch.com/index.php?language=PT
- Não instala drivers proprietários por padrão, segundo seu FAQ:
http://www.linuxmint.com/faq.php. O Ubuntu também não, mas para instalar é
um clique:
http://www.howtogeek.com/115041/htg-explains-whats-the-difference-between-ubuntu-linux-mint/

Linux Mint e Ubuntu são distros que ficam no limiar do SL e do SP. Ambos
não apoiam o boicote a Software Proprietário. Do ponto OSIsta é bom ter
forks, pois as soluções que dão certo em uma são compartilhadas com a
outra. O Debian, por exemplo, teoricamente se beneficia de volta com o
Ubuntu:

https://wiki.debian.org/Utnubu

Do ponto de vista do Movimento de Software Livre, a FSF se posiciona de
forma crítica:

http://www.gnu.org/distros/common-distros.html



> Usar o software livre que eles usam pra não respeitar o usuário? Eu acho
> que a discussão é muito mais do que hackear ou criar uma boa interface pro
> usuário.
>

Criar uma boa interface é essencial para conquistar popularidade e incluir
mais usuários de Software Livre. Se o usuário escolhe instalar um Software
Proprietário no Software Livre é por que o seu contexto o obriga: um
computador ganhado que exige um driver proprietário para funcionar; um
software proprietário (CAD, por exemplo) que é necessário para que ele
possa trabalhar; etc. Para os usuários comuns, o Ubuntu pode ser um
primeiro passo para um futuro mais livre.

Para julgar os usuários, é necessário compreender o contexto (econômico,
social, educacional) que elas vivem, ver pelos olhos delas e não julgar
pelo seu contexto (conhecimento, habilidade, trabalho).


> Você falou em outra discussão que é uma questão de mudança de tática e não
> de objetivo. Qual é o objetivo?
>
>
O objetivo do Movimento Software Livre continua o mesmo: defender a
liberdade do usuário de software, ou não?

Qual é a mudança tática? Eu acho que o Movimento de Software Livre deve se
alinhar mais ideologicamente a ética hacker:
- formar novos hackers: eles é que percebem os entraves a liberdade e geram
soluções. Sem percepção dos problemas, não há motivação para a solução.
- resolver problemas locais que incomodam seu próprio contexto;
- compartilhar globalmente seus hackings livres - soluções inteligentes e
criativas para que outros hackers possam readaptar a seus próprios
contextos;

Abraços,
-- 
Marcelo Akira Inuzuka
(62) 9261-4004
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