Oi Petrucio,

Da mesma forma que ninguém lê as letrinhas pequenas de nenhum contrato,

O matemático establishment sabe (na maioria das vezes) que trabalha em ZFC, 
mesmo que só saiba dar como exemplo o Axioma da Escolha.

(Muitos deles acham que a Hipótese do Continuo vale "na prática", mas isso é 
ainda outra história...)

Sobre a coisa de ordem, pelo menos nisso o matemático establishment tem sorte, 
pois como os subconjuntos dos conjuntos são conjuntos, as (subfamilias das) 
famílias de subconjuntos são conjuntos, etc., dá pra fazer tudo em primeira 
ordem.

Atés

[]s Samuel 
----- Mensagem original -----
De: Jorge Petrucio Viana <petrucio_vi...@id.uff.br>
Para: Samuel Gomes da Silva <sam...@ufba.br>
Cc: Valeria de Paiva <valeria.depa...@gmail.com>, Daniel Durante 
<durant...@gmail.com>, Marcos Silva <marcossilv...@gmail.com>, 
pin...@googlegroups.com <logica-l@dimap.ufrn.br>, Grupo de pesquisa CLEA 
<pina...@googlegroups.com>
Enviadas: Sat, 05 Aug 2023 14:54:05 -0300 (BRT)
Assunto: Re: [Logica-l] Re: Coletivo Lógica Viva: sobre infinitos, números e 
provas

Boa tarde!

Uma dúvida honesta (não é, simplesmente, uma provocação):
O que vocês estão chamando de ZFC?

Se for o que está, por exemplo, no livro do Devlin (ou seja, First Order
Logic ZFC), não concordo que "para um matemático-padrão ZFC e' a medida, o
básico" (ou algo semelhante).

Pelo que vejo, matemáticos padrão trabalham, pelo menos, em terceira ordem
e usam "naive set theory" (uma versão mais próxima de Cantor do que de
Zermelo).

Um adendo:
Uma vez eu desafiei uma plateia de matemáticos (uns 40 mais ou menos) a
listarem 3 (apenas 3) axiomas da Teoria dos Conjuntos.
O máximo que consegui foi: Axioma da Escolha.

P

Em sáb., 5 de ago. de 2023 às 13:20, 'Samuel Gomes da Silva' via LOGICA-L <
logica-l@dimap.ufrn.br> escreveu:

> Oi Valéria,
>
> Pois é, em ambiente de pesquisa eu concordo que a teoria básica é ZF
> (ainda mais se a pesquisa é lógico orientada, digamos),
>
> Porém, porém, porém, para o tal matemático establishment que eu sempre
> falo,
>
> O Axioma da Escolha está lá, mesmo que o matemático establishment não
> perceba (porque muitas vezes ele usa o Axioma da Escolha sem perceber, é
> preciso um certo "treino" e esforço pra ver quando o Axioma da Escolha foi
> necessário ou não).
>
> Por exemplo: pra quem nunca pensou nisso, procure ver exatamente onde se
> usa o Axioma da Escolha para mostrar que "a reunião enumeravel de
> enumeraveis é enumeravel", é um uso um pouco sutil.
>
> Aí, nos livros de graduação em matemática, o Axioma da Escolha está lá
> escondido. "Todo espaço vetorial tem base" - não só usa lá um Leminha de
> Zorn na prova padrão, como foi mostrado que é uma equivalência do Axioma da
> Escolha (Blass, 1984).
>
> Então, para o matemático establishment, acaba sendo ZFC sim.
>
> Abraços
>
> []s Samuel
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
>
> ----- Mensagem original -----
> De: Valeria de Paiva <valeria.depa...@gmail.com>
> Para: Samuel Gomes da Silva <sam...@ufba.br>
> Cc: Daniel Durante <durant...@gmail.com>, Marcos Silva <
> marcossilv...@gmail.com>, pin...@googlegroups.com <logica-l@dimap.ufrn.br>,
> Grupo de pesquisa CLEA <pina...@googlegroups.com>
> Enviadas: Sat, 05 Aug 2023 12:38:19 -0300 (BRT)
> Assunto: Re: [Logica-l] Re: Coletivo Lógica Viva: sobre infinitos, números
> e provas
>
> oi Samuel,
> Desculpe, mas aqui eu vou dar meu pitaco de ignorante, porem convicta.
> Eu concordo plenamente que para um matemático-padrão ZFC e' a medida, o
> básico. MAS com o abaixo não concordo não.
>
> >Pelo Teorema da Completude, algo que provamos "ZFC puro" é válido em todos
> os tabuleiros (e reciprocamente).
> Nossos cursos de graduação em Análise, Topologia, Geometria... Esses valem
> em todos os tabuleiros porque estão todos em ZFC puro. É o básico...
> Então talvez nessa visão semantista, ZFC tem mais a cara de "o que é comum
> a todos os tabuleiros" do que uma lista de axiomas e a teoria
> correspondente.
>
> ZF e' básico, o C(choice) tem muita gente que não quer não, que prefere
> botar um asterisco numa prova qdo precisa de choice, pra alertar os
> distraídos. e o número dessas pessoas, que se preocupam com resultados mais
> construtivos, ou baseados em formulações alternativas de fundamentos e'
> cada vez maior. não sei se significativamente maior no "rank and file" dos
> matemáticos tradicionais, mas certamente bem maior nessa comunidade entre
> matemática e informática que diz q trabalha com ciência da computação.
>
> Tem muita gente, que nem você, cuja pesquisa só faz sentido se certas
> premissas tradicionais não valem: a maioria do pessoal de "teoria de tipos"
> se enquadra nessa. (pra não falar dos sub-estruturalistas!) E mesmo todo
> mundo nessa nova onda de 'Proof Assistants' pra uma nova matemática "(
>
> https://www.nytimes.com/2023/07/02/science/ai-mathematics-machine-learning.html
> )
>  faz parte da turma.
>
> Então concordo sim que a matemática e' o jogo e não os tabuleiros ou os
> campos ou as regras, mas essa essência do jogo muda, se os jogadores
> mudarem.
>
> abraços,
> Valeria
>
> On Sat, Aug 5, 2023 at 5:23 AM 'Samuel Gomes da Silva' via LOGICA-L <
> logica-l@dimap.ufrn.br> wrote:
>
> > Salve Daniel,
> >
> > Incrível como entre nós, brasileiros, o FUTEBOL consegue explicar tantas
> > coisas né?
> >
> > Você pegou a ideia, sim é isso mesmo.
> >
> > Matemática é um trabalho, e os ambientes de trabalho são os modelos... Os
> > matemáticos, somos jogadores profissionais de futebol (com o BOM e o RUIM
> > da sua mensagem, é a tal coisa da dor e a delícia de ser o que é...).
> >
> > Mas pra além daquele BOM e RUIM tem mais uma coisa: existem esses
> momentos
> > (e na verdade os matemáticos fora da área de fundamentos sempre vivem
> esse
> > tipo de momentos) nos quais o teorema que provamos vale em todos os
> > tabuleiros, em todos os campos de jogo.
> >
> > Isso acontece quando provamos algo "ZFC puro", sem hipóteses adicionais.
> >
> > Pelo Teorema da Completude, algo que provamos "ZFC puro" é válido em
> todos
> > os tabuleiros (e reciprocamente).
> >
> > Nossos cursos de graduação em Análise, Topologia, Geometria... Esses
> valem
> > em todos os tabuleiros porque estão todos em ZFC puro. É o básico...
> >
> > Então talvez nessa visão semantista, ZFC tem mais a cara de "o que é
> comum
> > a todos os tabuleiros" do que uma lista de axiomas e a teoria
> > correspondente.
> >
> > Eu, por exemplo, por minha área de atuação, normalmente trabalho
> > diretamente em modelos onde a Hipótese do Continuo não vale (meus
> > resultados, nem que seja por uma questão de contexto, fazem muito mais
> > sentido se HC não vale - minha dissertação de mestrado começava com um
> > diagrama com 6 cardinais entre aleph_1 e c (que agora são 5 depois do
> > recente p = t, um salve a Malliaris e Shelah) os quais, se vale HC,
> > colapsam tudo para um ponto só, de modo que minha dissertação de mestrado
> > inteira teria falado todo o tempo sobre um cardinal só...).
> >
> > Mas veja, é aí que eu acho que o RUIM da sua mensagem não é tão ruim
> assim,
> >
> > Se alguém produz bons teoremas sobre o futebol suíço com 7 jogadores,
> pelo
> > menos essa área do futebol fica mais compreendida, e não deixa de ser uma
> > contribuição ao futebol como um todo que
> > uma parte (consistente!) dele seja melhor compreendida - pois, tem mais
> > essa também,
> >
> > "Se mostramos que algo que vale para o
> > futebol suíço, então estamos mostrando que não existe nas regras algo que
> > garanta que sua negação fosse válida em todos os tabuleiros"
> >
> > - ou seja, mesmo que indiretamente, olhando para as negações,trabalhar aí
> > no futebol suíço fala sim sobre o jogo como um todo, vejam só!
> >
> > ... Sempre boas nossas conversas mesmo, valeu !
> >
> > Até mais,
> >
> > []s Samuel
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
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> >
> >
> >
> >
> > ----- Mensagem original -----
> > De: Daniel Durante <durant...@gmail.com>
> > Para: LOGICA-L <logica-l@dimap.ufrn.br>
> > Cc: samuel <sam...@ufba.br>, Daniel Durante <durant...@gmail.com>,
> Marcos
> > Silva <marcossilv...@gmail.com>, pin...@googlegroups.com <
> > logica-l@dimap.ufrn.br>, Grupo de pesquisa CLEA <
> pina...@googlegroups.com>
> > Enviadas: Fri, 04 Aug 2023 20:36:43 -0300 (BRT)
> > Assunto: Re: Coletivo Lógica Viva: sobre infinitos, números e provas
> >
> > Salve Samuel,
> >
> > Obrigado pela paciente resposta, pelas explicações e referências. Você
> > sempre me surpreende com suas respostas de matemático. Claro, o JOGO!! Eu
> > aqui, com minha mentalidade de contabilista, só pensando em tabuleiros e
> > regras e me esquecendo do JOGO. O jogo real, para o qual as regras apenas
> > delimitam as possibilidades e os tabuleiros apenas registram as jogadas.
> A
> > matemática não é nem as regras de ZFC nem os diferentes tabuleiros em que
> > dá para jogar ZFC, é o jogo que se joga com essas regras nesses
> tabuleiros.
> >
> > Acho que o seu exemplo do futebol me ajudou a entender. Há o futebol de
> > campo com as regras FIFA (11 jogadores por time, campo de um certo
> > tamanho,
> > determinado tempo de jogo...), há o futebol de salão (5 jogadores, quadra
> > pequena, bola pequena, tempo de jogo reduzido...), há o futebol suíço (7
> > jodadores, outras especificidades...). Na base dessas variações,
> > compatível
> > com todas elas, haveria uma concepção essencial do jogo de FUTEBOL (vou
> > usar maíuscula para essa concepção essencial) que é compatível com todas
> > as
> > versões e variações do jogo.
> >
> > Esses futebois são incompatíveis uns com os outros em detalhes que a
> > concepção essencial (o FUTEBOL) não decide: o número de jogadores o
> > tamanho
> > do campo, o tempo de jogo, o tamanho do gol, o peso da bola... O FUTEBOL
> é
> > jogado em qualquer dessas versões, qualquer desses tabuleiros. Na sua
> > metáfora, o FUTEBOL é o "jogo", e cada variação (futebol de campo, de
> > praia, suíço, de salão,...) é um "tabuleiro" diferente do mesmo jogo.
> Acho
> > que é isso né?!
> >
> > Quando você diz que a matemática é ZFC e que você não se importa muito
> com
> > o fato de ZFC não decidir algumas coisas, tipo a hipótese do contínuo,
> > você
> > está querendo dizer que ZFC não se interessa em estipular a cardinalidade
> > do contínuo tanto quanto o FUTEBOL não se interessa em estipular o número
> > de jogadores de cada time. Seja com 11 ou com 7 jogadores, ainda é
> > FUTEBOL.
> > Seja qual for a cardinalidade do contínuo, ainda é ZFC, ainda é
> matemática.
> >
> > Então, os axiomas de ZFC seriam como aquelas regras fundamentais
> > compatíveis com todos os futebóis. E por isso, eles não decidem algumas
> > minúcias. Eles admitem variações. Já a hipótese do contínuo seria como a
> > regra que diz o número de jogadores. Pode ser diferente para versões
> > diferentes.
> >
> > Ok. Isso é bem interessante mesmo. Nunca tinha pensado assim. Mas tem uma
> > coisa. Quando a gente tira par ou impar e vai jogar de verdade, a gente
> > SEMPRE vai ter que ESCOLHER alguma dessas variantes que decidem as coisas
> > que o FUTEBOL não decide. A flexibilidade (o inacabamento) do FUTEBOL
> > cobra
> > um preço. Ninguém, nunca, jamais joga SÓ FUTEBOL. A gente sempre joga
> > alguma versão do FUTEBOL. Mesmo em uma pelada de rua onde se inventa
> > regras
> > na hora.
> >
> > Se você acha que a matemática é ZFC e aceita que ZFC não decide algumas
> > coisas. Então eu acho que você está se comprometendo com o seguinte fato:
> >
> > (*) Tanto quanto não dá para jogar só FUTEBOL, não dá para fazer só
> > matemática (jogar só ZFC). Sempre que a gente usar ZFC, a gente precisa
> > também complementar as suas aberturas.
> >
> > Por que? Porque se estamos em uma abordagem ortodoxa, que assume a lógica
> > clássica, a verdade como correspondência, e trata ZFC como uma teoria de
> > primeira ordem, então:
> >
> > (1) Sendo HC (a hipótese do contínuo) uma sentença de primeira ordem
> > fechada, HC é ou verdadeira ou falsa, não há outra opção.
> >
> > (2) Dizer que HC é verdadeira é dizer que a sentença que exprime HC
> > corresponde aos fatos, e dizer que HC é falsa, é dizer que a sentença que
> > a
> > exprime não corresponde aos fatos.
> >
> > (3) Mas quais são esses fatos? Você mesmo disse que ZFC não tem um modelo
> > canônico. Cada interpretação que verifica todos os axiomas de ZFC é um
> > "tabuleiro", uma versão do jogo ZFC que decide as coisas que ZFC não
> > decide. Fecha suas aberturas.
> >
> > (4) Isso significa que sem ser heterodoxo (sem abandonar a lógica
> > clássica,
> > ou a verdade como correspondência) ninguém nunca joga só ZFC. A gente
> > sempre ESCOLHE alguma versão de ZFC para jogar. Porque em qualquer
> > contexto
> > em que ocorra a sentença que exprime a hipótese do contínuo, esta
> sentença
> > estará vinculada a alguma interpretação específica que faz o que ZFC se
> > nega: decide se esta sentença é verdadeira ou falsa.
> >
> >
> > Eu acho isso bom e ruim:
> >
> > - É BOM, porque coloca lá dentro da matemática a possibilidade de
> escolha,
> > a liberdade. E quem é que não gosta de escolha e liberdade?
> >
> > - Mas é RUIM, porque onde há escolha e liberdade, sempre há também
> > limites.
> > Cada vez que a gente "joga" matemática e tem que complementar as
> aberturas
> > de ZFC com nossas escolhas, a gente, junto com isso, delimita e restringe
> > nossos resultados ao alcance das escolhas que fizemos. E assim a gente
> > diminui a generalidade da matemática.
> >
> > Mais uma vez, obrigado pelo papo. Adoro conversar com você sobre essas
> > coisas que entendo muito pouco. Suas respostas quase sempre apontam para
> > algum lado que eu nunca tinha olhado.
> >
> > Saudações,
> > Daniel.
> >
> > Em sexta-feira, 4 de agosto de 2023 às 10:37:15 UTC-3, samuel escreveu:
> >
> > > Salve Daniel, prazer falar com você, como sempre também, e pelo visto
> se
> > > você estivesse na live ela não terminaria pois seus
> > > questionamentos são bastante interessantes e a coisa iria embora no
> > > tempo...
> > >
> > > Primeiro, registrar que "o meu amigo de Brasília" já me deu bronca
> > dizendo
> > > que não era exatamente aquilo que ele me disse
> > > anteriormente, hahaha,
> > >
> > > Então, eu desde o final do meu doutorado (2004), início da minha
> > carreira
> > > na UFBA (2006), tenho essa visão da matemática que eu falei na live
> > > (eu lembro que no começo do mestrado eu pensava diferentemente, de modo
> > > bastante mais ingênuo),
> > >
> > > E tenho primeiramente que dizer: eu não me coloco como "o porta-voz de
> > > como os matemáticos pensam", e nem "de como os teoristas de conjuntos
> > > pensam", quase tudo que eu coloquei na live são visões
> "personalíssimas"
> > > (pra usar essa palavra que está na moda...) minhas. E sim, ter uma
> visão
> > > pessoal ajuda a passear por esse ambiente cheio de ovos no chão - mas,
> > uma
> > > coisa eu posso dizer, eu como matemático vindo da Lógica
> > > e ativo na comunidade brasileira de Lógica e tendo por isso bastante
> > > contato com a Filosofia, o matemático padrão, "establishment", não
> > > tem essas preocupações com fundação da matemática não e, mais
> > importante,
> > > em geral o matemático padrão não é chamado a se posicionar
> > > "filosoficamente" sobre sua epistemologia própria do que seja a
> > > matemática, isso eu sempre faço por questão por gostar mesmo desse tipo
> > > de discussão (sempre gostei, talvez por isso enveredei pela Teoria dos
> > > Conjuntos...)  e por minha atuação dentro da lógica como um todo.
> > >
> > > Então vamos lá: tem uma frase que eu gosto muito que é "eu sou eu e
> > minhas
> > > circunstâncias" (que acabei de colocar no Google aqui, não conhecia
> > > o autor e não sei qual a teoria na qual ela se coloca, então não posso
> > nem
> > > comprar nem vender essa teoria na sua completude...), mas é uma frase
> > que
> > > eu gosto.
> > >
> > > Pra mim, matemática é meio assim: é ela e suas circunstâncias...
> > >
> > > Aí, por facilidade mesmo (o que concordo que alguém pode achar que é
> > > "preguiça ou covardia", touché), eu coloco: matemática é ZFC.
> > >
> > > Na minha analogia com tabuleiros, matemática é O JOGO, o qual pode ser
> > > jogado EM QUALQUER TABULEIRO QUE NÃO VIOLE AS
> > > REGRAS.
> > >
> > > Aí, quando eu digo que sou semantista, pra mim não tem existe
> > contradição
> > > nisso porque porque, exatamente por gostar muito de resultados de
> > > consistência, qualquer coisa que não leve a contradição TERÁ O SEU
> > > TABULEIRO ESPECÍFICO ONDE ELA VALE (e aí nesse caso a noção de
> "verdade"
> > é
> > > mais de "ser válido em algum modelo" - o que, pelo Teorema de
> > Completude,
> > > equivale a não levar a contradição...). É nessa pegada que eu digo
> > > que sou semantista. Se vale em algum modelo, eu considero DO JOGO.
> > >
> > > Essa coisa do JOGO, a gente pode pensar também em O ESPORTE.
> > >
> > > Futebol é um ESPORTE, e que é jogado em todo o mundo, alguns lugares na
> > > areia, alguns lugares na grama, alguns lugares na grama
> > > sintética (para desespero do Zico), em alguns lugares a trave é de
> > > madeira, noutros lugares não tem trave e a gente coloca duas
> > > pedras no chão onde a bola tem que passar... Mas tudo isso é FUTEBOL.
> > >
> > > E o FUTEBOL existe como jogo, e pode ser jogado EM MUITOS AMBIENTES -
> > cada
> > > quadra/campinho de futebol pelo mundo seria UM MODELO.
> > >
> > > Em todas essas instanciações do jogo, eu não posso pegar a bola com a
> > mão.
> > > "Não pegar a bola com a mão" é um axioma. É da base
> > > da teoria. Isso vai valer EM TODOS OS AMBIENTES. (Seria o "ZFC
> > absoluto",
> > > algo que, como consequência sintática de ZFC, é
> > > também consequência semântica e valeria em todos os ambientes... Tem
> > muito
> > > do Teorema de Completude embutido aí no que
> > > estou dizendo, como podem perceber...)
> > >
> > > Se a gente levasse a ferro e fogo e quisesse que O FUTEBOL DECIDISSE
> > TUDO,
> > > que a REGRA FOSSE ATÉ OS ÚLTIMOS DETALHES, a gente acabaria chegando na
> > > conclusão que "o futebol só pode ser jogado com essa bola, por estes
> > > jogadores e no maravilhoso estádio monumental de Wembley,
> > > na Inglaterra, onde o jogo foi criado"... Isso seria meio reducionista,
> > > não ?
> > >
> > > Então pra mim A MATEMÁTICA É O ESPORTE... Onde ele puder ser jogado sem
> > > violar as regras básicas, "é do jogo". Mesmo que
> > > esse jogo não me diga exatamente qual é o tamanho da reta...
> > >
> > > Aí a coisa da Hipótese do Contínuo que você disse, só aí já teríamos
> uma
> > > quantidade "do tamanho do universo" de matemáticas
> > > possíveis se pensarmos no tamanho da reta ("o continuum"): por um
> > > resultado de Easton, "o contínuo pode ser tudo o que ele pode ser", no
> > > sentido
> > > de que a única restrição é que o tamanho da reta não pode ter
> > cofinalidade
> > > enumerável. Nesse sentido, começando com um modelo
> > > da Hipótese Generalizada do Contínuo de "ground model", a gente pode
> > fazer
> > > um forcing até que simples (um forcing pra cada valor
> > > que eu queira, no caso) e fazer com que o contínuo seja aleph_2, ou
> > > aleph_3, ou aleph_4, ou aleph_{omega + 1} - aleph_omega não
> > > pode ser pela questão da cofinalidade -, e a quantidade de ordinais de
> > > cofinalidade não enumerável é a mesma quantidade de ordinais
> > > que é a mesma quantidade de conjuntos no universo (nessa última
> passagem
> > > estou roubando um pouco e considerando o
> > > Axioma da Escolha Global, mas tudo bem né 8-) ).
> > >
> > > Qualquer valor que o contínuo pode ter, ele terá em algum modelo - isso
> > > tudo é matemática pra mim. Eu não sinto necessidade que
> > > a Matemática me diga exatamente "qual aleph" é o tamanho da reta. Eu
> não
> > > sinto falta "que a Matemática me diga qual o
> > > valor do continuum". Eu gosto que sejam "infinitos valores
> > possíveis"...!!!
> > >
> > > (Eu não lembro se eu cheguei a fazer essa analogia na live, mas eu
> > sempre
> > > gosto de fazê-la: "a teoria dos anéis (ou mesmo dos
> > > corpos) não consegue decidir se existe um x tal que x^2 = 1 + 1 - pois
> > > existem corpos onde esse x existe, e existem corpos
> > > onde esse x não existe. Porque deveríamos esperar que a Teoria dos
> > > Conjuntos decidisse se 2^{aleph_0} = aleph_1 ? Ou porque
> > > deveríamos esperar que só existisse uma possibilidade de resposta ? No
> > > caso dos corpos não esperamos isso..." Obviamente
> > > a complicação aí é que a Teoria dos Conjuntos é frequentemente encarada
> > > como sendo "a Matemática" como se fosse uma
> > > tal "verdade objetiva" e tal, é aí que pega a coisa, eu sei disso
> > > também...)
> > >
> > > ... Mas, como eu disse lá em cima, isso tudo sou eu, eu não posso dizer
> > > que isso é a visão dos matemáticos, ainda mais que,
> > > em geral, os matemáticos não estão preocupados com isso de forma
> alguma,
> > > não existe preocupação com fundamentos da
> > > matemática,  eles só querem colocar toda manhã o uniforme de onde eles
> > > jogam o jogo e jogar o jogo...
> > >
> > > E, mais ainda, eu raramente sou chamado a justificar formalmente essas
> > > visões, num paper por exemplo (o máximo é alguma
> > > discussão nesta lista, como a que estamos no momento...). Nos últimos
> > dez
> > > anos tenho me interessado mais por aspectos filosóficos, mas nessa
> > > área sou apenas um diletante...
> > >
> > > E, só pra terminar, eu recomendo algumas leituras sobre gente de
> > Conjuntos
> > > que sim tem uma visão bem mais completa e
> > > justificada do que a minha, em alguns casos similar e em outros não,
> > >
> > > ---> O Joel David Hamkins tem uma visão do "multiverso de conjuntos",
> > tem
> > > esse paper dele no arXiv:
> > >
> > > https://arxiv.org/abs/1108.4223
> > >
> > > Eu nunca li inteiro, nunca passei do abstract, mas o que tem mais ou
> > menos
> > > em comum com essa minha visão é de
> > > que existem vários universos possíveis para a teoria dos conjuntos
> > > "acontecer".
> > >
> > > (Apesar das semelhanças, com certeza é diferente do meu ponto de vista
> > > porque mesmo "a noção de conjunto em si" ele acredita que
> > > seja diferente em cada universo, eu não penso assim)
> > >
> > > Mas pelo menos como "slogan" eu acho a idéia interessante - o
> multiverso
> > > dos conjuntos se parece com a minha
> > > idéia da infinidade de tabuleiros, ou da infinidade de quadras/campos
> de
> > > jogo.
> > >
> > > ---> tem um pessoal de Teoria dos Conjuntos (que eu deveria em algum
> > > momento tentar sugerir que um deles
> > > fosse chamado para um EBL...), que é o pessoal que frequenta o Artic
> > > Workshop de Conjuntos, e se você falar
> > > com qualquer um deles, eles têm sim uma noção do que seria "a verdade
> em
> > > Teoria dos Conjuntos", de uma maneira bastante
> > > diferente da minha, de modo que eles podem pegar um resultado de Teoria
> > > dos Conjuntos e dizer "para onde ele está
> > > apontando".
> > >
> > > Nesse sentido, muitas vezes aparecem "dicotomias" - que seriam momentos
> > em
> > > que a teoria dos conjuntos apontaria
> > > "ou para um lado ou para o outro". Parece confuso né ? Pois é, e tem
> > muita
> > > matemática técnica embutida nisso.
> > >
> > > Nos últimos anos, tem por exemplo "a dicotomia HOD", introduzida por
> > > Woodin, e aí tem este paper aqui por exemplo explicando:
> > >
> > > https://philpapers.org/rec/BAGLCB
> > >
> > > O "lado" para o qual a Teoria dos Conjuntos se inclinaria, lá na
> frente,
> > > decidiria também a Hipótese do Contínuo
> > > (pois se relaciona ao tal "Ultimate L Project" de Woodin também...).
> > >
> > > No caso, o paper acima expõe alguns resultados de Large cardinals os
> > > quais, assumindo a consistência deles, o caos prevaleceria
> > > e a Hipótese do Contínuo seria falsa (!!!).
> > >
> > > Observo, porém, que essa visão do pessoal do Artic Workshop é uma visão
> > > mais pura sobre "qual seria a melhor Teoria
> > > dos Conjuntos para se trabalhar" - até onde eu entendo, é uma busca por
> > > "uma Teoria dos Conjuntos legal", eles não se
> > > arvoram em dizer que com isso eles estão decidindo "o que é a
> > matemática".
> > > Por facilidade, medo ou preguiça, meio
> > > que eles concordam comigo que "a matemática é ZFC", mas que sim é
> > possível
> > > debater o que deveria ser
> > > verdade "numa Teoria dos Conjuntos legal"... Não está sendo decidido
> > como
> > > deveria ser a Matemática, mas
> > > sim como deveria ser "a Teoria dos Conjuntos"... Que nesse caso seria
> > ZFC
> > > + algumas coisas.
> > >
> > >
> > > ... Enfim, pra falar de Filosofia de Teoria dos Conjuntos tem gente na
> > > comunidade melhor do que eu pra falar
> > > (Giorgio, Rodrigo, Alfredo, pra começar...)
> > >
> > > Abraços ! Até
> > >
> > > []s  Samuel
> > >
> > >
> > >
> > >
> > >
> > >
> > >
> > >
> > >
> > >
> > >
> > >
> > >
> > >
> > >
> > > Em quinta-feira, 3 de agosto de 2023 às 23:24:58 UTC-4,
> > dura...@gmail.com
> > > escreveu:
> > >
> > >> Grandes Samuel, Marcos Silva e Colegas,
> > >>
> > >>
> > >> Parabéns pela conversa de bar online, Samuel e Marcos. Ouvir o Samuel
> é
> > >> sempre um grande prazer, e ouvi-lo respondendo as perguntas
> perspicazes
> > do
> > >> Marcos Silva é muito melhor. Pena que perdi ao vivo. Adorei o papo.
> > Ouvi
> > >> hoje.
> > >>
> > >>
> > >> Tá aqui o link para quem quiser assistir. Recomendo:
> > >>
> > >> https://www.youtube.com/live/fHihPJqhsfA?feature=share
> > >>
> > >>
> > >> Deixa eu fazer uma pergunta, Samuel. Quando você diz, meio
> provocativo,
> > >> que a matemática é ZFC ( ou a TC) o que você quer dizer com isso?
> > >>
> > >>
> > >> Você quer dizer que a matemática é UM dos tabuleiros (ou modelos) onde
> > as
> > >> regras de ZFC se aplicam?
> > >>
> > >>
> > >> Ou você quer dizer que a matemática é a própria ZFC (as regras)?
> > >>
> > >>
> > >> Acho que é o primeiro caso. Afinal, você é um matemático, não um
> > lógico,
> > >> ou um computeiro, ou um filósofo que não entende nada de matemática
> > (como
> > >> eu).
> > >>
> > >>
> > >> Mas você, num dado  momento, disse que o pessoal da Teoria de
> Conjuntos
> > >> —  incluindo você mesmo — costuma se ver como semantista e,
> questionado
> > >> pelo Marcos, você disse algo que eu entendi como afirmando que ser um
> > >> semantista significa privilegiar as estruturas nas quais as regras se
> > >> aplicam, e não as próprias regras.
> > >>
> > >>
> > >> Mas aí eu fico confuso, Samuel. Porque se a matemática é ZFC e se você
> > é
> > >> um semantista, então a matemática é o tabuleiro onde ZFC pode ser
> > jogada, e
> > >> não as regras do jogo ZFC.
> > >>
> > >>
> > >> Mas se ZFC não decide sentenças fechadas de sua linguagem, tal como a
> > >> hipótese do contínuo, então as regras de ZFC não determinam
> > univocamente o
> > >> tabuleiro onde ela pode ser jogada. E então, há muitas matemáticas.
> > Cada
> > >> tabuleiro diferente em que ZFC pode ser jogada é uma matemática
> > diferente.
> > >>
> > >>
> > >> E sabemos que alguns desses tabuleiros são ESSENCIALMENTE diferentes,
> > ou
> > >> seja, que não são isomórficos, porque sabemos que alguns deles são
> > >> compatíveis com a hipótese do contínuo enquanto outros são
> > incompatíveis
> > >> com a hipótese do contínuo (compatíveis com sua negação).
> > >>
> > >>
> > >> Mas se você é um semantista, com tendência realista, isso me parece
> uma
> > >> posição bem estranha. Você seria um pluralista matemático.
> > >>
> > >>
> > >> Me parece que você se compromete com a seguinte concepção: “não é que
> > >> existe uma realidade matemática objetiva e independente da mente. Na
> > >> verdade existem pelo menos duas. “
> > >>
> > >>
> > >> Talvez existam muitas. Você diz que gosta de resultados de
> > independência.
> > >> Então talvez saiba se existe alguma sentença fechada S da linguagem de
> > ZFC
> > >> que é independente tanto de  (ZFC + HC) quanto de (ZFC + ¬HC)? Se
> > houver,
> > >> então já teríamos pelo menos 4 matemáticas — 4 tabuleiros não
> > isomórficos
> > >> para ZFC. Talvez haja infinitas matemáticas?
> > >>
> > >>
> > >> Mas, para além de 1, a quantidade não importa. Este caso me parece
> > >> contradizer o famoso ditado. Dois não é bom. Dois já é demais.
> > >>
> > >>
> > >> Eu, que entendo quase nada de TC, prefiro interpretar os resultados de
> > >> independência como provas de "inacabamento" da teoria -- inacabamento
> > para
> > >> não falar incompletude, já que você mesmo disse que não há uma
> > >> interpretação canônica para ZFC.
> > >>
> > >>
> > >> Os caras não terminaram a teoria. Faltam axiomas. Eu concordo com “seu
> > >> amigo de Brasília” que é um absurdo ZFC não decidir a hipótese do
> > contínuo.
> > >>
> > >>
> > >> Isso só pode ser preguiça ou covardia dos matemáticos ??
> > >>
> > >> Façam aí uma convenção internacional e decidam. Você disse, ou pelo
> > menos
> > >> foi assim que eu entendi o que você disse, que nos tabuleiros mais
> > quentes
> > >> do momento, aqueles que parecem mais promissores, com mais aplicações
> e
> > >> conexões, a hipótese do contínuo é falsa. Pois então, decidam aí entre
> > os
> > >> notáveis, ou em uma votação democrática (não, matematicocrática) que
> só
> > são
> > >> aceitáveis tabuleiros isomórficos incompatíveis com a hipótese do
> > contínuo.
> > >> Declarem os demais ilegais e aceitem a inscrição da negação da
> hipótese
> > do
> > >> contínuo no clube dos  axiomas.
> > >>
> > >>
> > >> É tipo o que fizeram com Plutão. O pobre foi expulso do clube dos
> > >> planetas e, que eu saiba, nada aconteceu em Plutão para justificar a
> > >> expulsão. O que os astrônomos fizeram foi complementar com  novas
> > cláusulas
> > >> as regras de admissão no clube dos planetas mesmo. Dizem que depois
> > Plutão
> > >> foi readmitido com ressalvas… não sei, parei de acompanhar.
> > >>
> > >>
> > >> Por que os matemáticos não fazem isso? Por que eles não admitem que
> ZFC
> > >> está inacabada e declaram a Hipótese do Contínuo ou sua negação como
> > >> axioma? Acho que é porque quase todos eles são, assim como você,
> > >> semantistas. Um axioma é apenas uma descrição linguística
> desengonçada,
> > >> feia, formal de um aspecto  da realidade matemática abstrata objetiva,
> > >> bela, harmônica e perfeita.
> > >>
> > >>
> > >> Primeiro viria o tabuleiro, a realidade matemática, depois as regras,
> > as
> > >> teorias matemáticas. Só dá para acabar (ou incrementar) ZFC depois de
> > saber
> > >> com qual das duas sentenças, HC ou ¬HC o tabuleiro é compatível. Mas,
> > como
> > >> tem mais de um tabuleiro, alguns compatíveis com HC outros com ¬HC, e
> > >> nenhum deles é considerado canônico, os matemáticos ficam paralisados
> e
> > não
> > >> decidem a questão.
> > >>
> > >>
> > >> Eu entendo e admiro esta postura dos matemáticos. Eles são como
> músicos
> > >> que tiram as harmonias de ouvido, que têm sensibilidade musical. Eu
> não
> > >> tenho. Nem na música, nem na matemática. Posso até brincar um pouco
> com
> > as
> > >> duas, mas preciso de cifras, partitura, de regras de teoria musical
> > para me
> > >> ajudar a tocar. Não tenho sensibilidade musical para tirar de ouvido
> ou
> > >> propor do zero uma harmonia, tanto quanto não tenho sensibilidade
> > >> matemática para perceber entender e intuir o tabuleiro sem as regras,
> > para
> > >> “fazer uma prova do livro”. Preciso consultar as regras para conseguir
> > >> brincar.
> > >>
> > >>
> > >> Mas do mesmo jeito que músicos de tradições musicais diferentes
> > >> harmonizariam “de ouvido” diferentemente uma mesma melodia,
> matemáticos
> > >> imersos em tabuleiros diferentes poderiam intuir diferentemente sobre
> > >> alguma questão matemática, tal como qual é a cardinalidade do
> contínuo.
> > >>
> > >>
> > >> A diferença é que diferentes tradições musicais podem conviver bem
> > >> (embora não harmonicamente, com perdão do trocadilho), já diferentes
> > >> matemáticas não convivem tão bem assim. É mais fácil ser eclético
> > >> (pluralista) em música do que em matemática.
> > >>
> > >>
> > >> Mas por que, por exemplo, aceitamos o axioma do infinito em ZFC? Bem,
> > >> porque concebemos o infinito e o infinito é independente dos demais
> > axiomas.
> > >>
> > >>
> > >> É legal brincar com o infinito, conseguimos fazer isso, concebemos
> > >> estruturas infinitas interessantes, belas, promissoras, cheias de
> > relações
> > >> e aplicáveis. Por que, então, proibi-lo? Eu “não sei harmonizar o
> > infinito
> > >> de ouvido”, mas eu consigo “ouvir, achar belas e até tocar harmonias
> > para o
> > >> infinito”, se estiverem em uma partitura ou cifras. Então, mesmo de
> > modo
> > >> grosseiro, desconfiando, tendo dificuldade com ele, eu aceito o
> > infinito no
> > >> jogo da matemática.
> > >>
> > >>
> > >> Por outro lado, um matemático harmoniza o infinito de ouvido, já o
> > >> incluiu em suas intuições e considera que qualquer tabuleiro que se
> > preze
> > >> deve ser infinito. É por isso que o infinito é um axioma de ZFC.
> > >>
> > >>
> > >> Quem não curte muito o infinito pode até protestar e criar versões
> > >> alternativas de ZFC incompatíveis com as usuais, com tabuleirinhos
> > finitos,
> > >> minúsculos, e estranhos, pensam os demais matemáticos.
> > >>
> > >>
> > >> Mas, no fundo, no fundo, para mim, tanto o axioma do infinito, quanto
> o
> > >> axioma da escolha são ESCOLHAS já feitas. A hipótese do contínuo, ou
> > >> melhor, a negação da hipótese do contínuo, pode também, aliás, deve,
> > ser
> > >> ESCOLHIDA.
> > >>
> > >>
> > >> Se você, Samuel, pensasse que ZFC são as regras e não o tabuleiro,
> > seria
> > >> muito mais fácil defender essa liberdade de escolha axiomática. É
> assim
> > que
> > >> eu penso.  Mas eu não sou um matemático e o que penso vale muito pouco
> > >> aqui. O que importa é que mesmo quem pensa como você, como os
> > matemáticos
> > >> em geral pensam, pode com algum esforço concordar que a hipótese do
> > >> contínuo é uma questão de escolha, e que ela pode ser feita.
> > >>
> > >>
> > >> Qual desses tabuleiros aí é o mais legal, é aquele com o qual vale a
> > pena
> > >> a gente brincar? Escolham ele e peguem o axioma compatível com ele.
> > >>
> > >>
> > >> Desculpem a verborragia e as muitas “barbaridades” que certamente eu
> > >> disse aqui.
> > >>
> > >>
> > >> Mais uma vez parabéns Marcos e Samuel pela conversa.
> > >>
> > >> Grande abraço,
> > >>
> > >> Daniel.
> > >>
> > >> Em segunda-feira, 3 de julho de 2023 às 10:28:37 UTC-3, Marcos Silva
> > >> escreveu:
> > >>
> > >>> É hoje! :-)
> > >>>
> > >>> Convidamos todas e todos para o nosso bate papo segunda-feira, 03 de
> > >>>> julho. Conversaremos com Samuel Gomes da Silva (UFBA) sobre
> infinito,
> > >>>> números e provas, como se um matemático e um filósofo tivessem
> > entrado em
> > >>>> um bar.
> > >>>
> > >>>
> > >>>
> > >>>> O que te levou pra matemática? E pra a lógica? Por que o infinito é
> > >>>> tão fascinante? Existem infinitos de tamanhos diferentes? Como a
> > gente pode
> > >>>> saber isto? Onde estão os infinitos? Na nossa cabeça? Na realidade?
> > Em
> > >>>> computadores? Quais são alguns paradoxos e coisas contraintuitivas
> da
> > >>>> aritmética transfinita? Quais são os limites pra demonstrações
> > >>>> matemáticas? Voce de fato tem máxima certeza e segurança na verdade
> > de um
> > >>>> teorema? Ou pensa ás vezes, será que isto é verdade mesmo? Você usa
> > >>>> intuições e afetos pra suas provas matemáticas? O que é a hipótese
> do
> > >>>> contínuo? Ela pode ser provada? Por que não? E se a gente tiver um
> > super
> > >>>> computador? É só uma questão de tempo ou não da mesmo? O matemático
> é
> > >>>> um criador ou um descobridor? Como a matemática pode ser tão útil
> pra
> > >>>> ciência e pra previsões sobre a realidade?
> > >>>
> > >>>
> > >>>
> > >>> https://www.youtube.com/watch?v=fHihPJqhsfA
> > >>>
> > >>>
> > >>>
> >
> https://www.instagram.com/p/CuDIdM1pSyN/?utm_source=ig_web_copy_link&igshid=MzRlODBiNWFlZA==
> > >>>
> > >>> --
> > >>> Marcos Silva (UFPE/CNPq)
> > >>> Philosophy Department
> > >>> Federal University of Pernambuco, Brazil
> > >>> President of the Brazilian Society for Analytical Philosophy (SBFA
> > >>> <https://sites.google.com/view/sbfa-sbpha/in%C3%ADcio?authuser=0>)
> > >>> Director of Graduate Studies (PPGFIL/UFPE
> > >>> <https://www.ufpe.br/ppgfilosofia/>)
> > >>> Editor-in-chief Revista Perspectiva Filosófica
> > >>> <https://periodicos.ufpe.br/revistas/perspectivafilosofica>
> > >>> https://sites.google.com/view/marcossilvaphilosophy
> > >>> "amar e mudar as coisas me interessa mais"
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