Oi, pessoal!

Obrigado, Valeria, pela correção!

Ainda fico um pouco em dúvida, porém, pois quando escrevemos algo em
determinada linguagem de programação, normalmente nos adaptamos à sintaxe e
temos mais de uma implementação em mente, em linguagens rivais, e essa
pluralidade de opções nos permite ver que a ideia matemática é independente
da linguagem escolhida...

O que parece acontecer com ZFC é algo mais profundo: parece implicar uma
forma ou estilo de praticar matemática que contém uma "ontologia" (tudo é
conjunto) e um arcabouço de técnicas de demonstração que parecem regular as
relações entre o pensamento (softwares) e o cérebro (hardware). Por isso
pensei que seria algo como um sistema operacional... Mas deve estar errada
mesmo a minha analogia, hehe.

Mas a provocação que eu gostaria mesmo de fazer é a seguinte:

(I) Uma construção lógica da matemática, independente da intuição
matemática, é
impossível, pois por este método não se obtém mais do que uma estrutura
linguística,
que permanece irrevogavelmente separada da matemática — e, além disso, é
uma
contradictio in terminis — porque um sistema lógico precisa da intuição
básica da
matemática tanto quanto a própria matemática precisa dela.

(II) A matemática é independente da lógica.

(III) A lógica depende da matemática.

(BROUWER, On The Foundations of Mathematics, 1907, tradução minha.)

Eu concordo inteiramente com essas três teses do Brouwer.

Não poderia ser, portanto, que a matemática fosse identificada com ZFC ou
com a teoria de categorias (vista como sistema fundacional) ou com outros
sistemas rivais (HoTT).

Creio que quando o Samuel diz "a matemática atual é ZFC" talvez esteja
dizendo que ZFC é o paradigma dominante. Mas ZFC é só uma "estrutura
linguística" por meio da qual falamos sobre matemática, e não a própria
matemática.

Por exemplo, criaturas matemáticas interessantíssimas precisam ser expulsas
de campo se quisermos jogar com ZFC (infinitesimais, o conjunto de todos os
conjuntos). Isso mostra que o pensamento matemático frequentemente precisa
romper as restrições impostas pela gramática da linguagem em que é
escrito...

Abraços!

M.





Em domingo, 6 de agosto de 2023, Valeria de Paiva <valeria.depa...@gmail.com>
escreveu:

> Muito boa, a comparação, Marcio!
>
> mas me parece que o nível está um pouco errado. os sistemas fundacionais
> seriam mais como as linguagens de programação, do que como sistemas
> operacionais. a matemática sempre pode ser feita numa linguagem diferente,
> mas fica com uma cara diferente se for feita em C ou Haskell ou Python.
>
> Acho que o nível importa, porque sistemas operacionais parecem estar cada
> vez mais poderosos, mas linguagens não e' tao claro como elas se relacionam
> umas com as outras. Então e'  mais uma questão de gosto. e os pros e cons
> são mais complicados.
>
> Mas gente pode traduzir a matemática do seculo 17, por exemplo, em ZFC e
> essa foi uma grande conquista matemática do final do seculo 19, certo? acho
> esse paper do Quinn muito interessante
> A Revolution in Mathematics? What Really Happened a Century
> Ago and Why It Matters Today, Frank Quinn 2012
> https://www.ams.org/notices/201201/rtx120100031p.pdf
> Nao concordo com tudo o que ele fala, mas acho tudo bem interessante e
> provocativo, no bom sentido, de provocar questionamentos.
>
> abraços,
> Valeria
>
> On Sun, Aug 6, 2023 at 6:03 AM Márcio Palmares <marciopalma...@gmail.com>
> wrote:
>
>> E quanto à matemática dos séculos 17, 18 e 19 de antes da aritmetização
>> da análise e do surgimento da lógica moderna?
>>
>> Newton, Leibniz, Gauss... Nenhum deles ouviu falar sobre ZFC. Se a
>> matemática é ZFC, o que eles praticavam? E quanto aos antigos? Arquimedes,
>> que nem algarismos indo-arábicos possuía?
>>
>> Será que quando identificamos a matemática com algum sistema fundacional
>> não estaríamos apenas confundindo nossas ideias com uma particular
>> "implementação" delas? Parece que estaríamos confundindo a informação
>> tratada por um computador com seu particular sistema operacional: seria o
>> mesmo que dizer "a informação é Linux". Outra pessoa diria: "a informação é
>> Windows".
>>
>> Apenas razões pragmáticas decidem por uma implementação ou outra. Mas
>> parece que quando olhamos a coisa do ponto de vista histórico, nenhuma
>> apresentação ou implementação captura inteiramente o que é a matemática. Da
>> mesma forma, um sistema de escrita de música, sejam partituras ou cifras ou
>> outros, não é a própria música.
>>
>> Li a lista de resultados originais de Newton nos Principa apresentada
>> pelo Morris Kline naquele livrão sobre o pensamento matemático da
>> antiguidade aos nossos dias... Fico imaginando um matemático de hoje
>> voltando no tempo e dizendo a ele: "Cara, muito legal isso aí, mas deixa eu
>> te ensinar a verdadeira matemática, vamos começar falando sobre o axioma de
>> extensionalidade".
>>
>> :-)
>>
>> M.
>>
>>
>> Em sábado, 5 de agosto de 2023, 'Samuel Gomes da Silva' via LOGICA-L <
>> logica-l@dimap.ufrn.br> escreveu:
>>
>>> Oi Petrucio,
>>>
>>> Possivelmente sim, se formaliza pares ordenados, relações e funções, a
>>> coisa vai embora.
>>>
>>> Talvez por influência do livro do Halmos (que curiosamente se chama
>>> Teoria Ingênua dos Conjuntos), o "xiszinho" que o matemático establishment
>>> colocaria pra falar qual é a formalização de matemática pra ele, ele
>>> colocaria em ZFC.
>>>
>>> (ZFC a gente escuta ouvir falar nas salas de café de vez em quando...)
>>>
>>> É como o Lema de Zorn, para 99 por cento das aplicações a formulação já
>>> era conhecida por Kuratowski 15 a 20 anos antes do artigo de Zorn. O que
>>> "pegou" foi o enunciado de Zorn.
>>>
>>> Para fundamentação de matemática, o que "pegou" é ZFC.
>>>
>>> Também observo que, a princípio, os resultados "independentes da
>>> Matemática" são aqueles mostrados "independentes de ZFC", então esse é
>>> outro critério que acaba contribuindo para essa identificação
>>> entre "ZFC" e "matemática".
>>>
>>> Até
>>>
>>> []s Samuel
>>>
>>>
>>> ----- Mensagem original -----
>>> De: Jorge Petrucio Viana <petrucio_vi...@id.uff.br>
>>> Para: Samuel Gomes da Silva <sam...@ufba.br>
>>> Cc: Valeria de Paiva <valeria.depa...@gmail.com>, Daniel Durante <
>>> durant...@gmail.com>, Marcos Silva <marcossilv...@gmail.com>,
>>> pin...@googlegroups.com <logica-l@dimap.ufrn.br>, Grupo de pesquisa
>>> CLEA <pina...@googlegroups.com>
>>> Enviadas: Sat, 05 Aug 2023 16:18:37 -0300 (BRT)
>>> Assunto: Re: [Logica-l] Re: Coletivo Lógica Viva: sobre infinitos,
>>> números e provas
>>>
>>> Oi Samuel,
>>> pelo que vejo, esse seu raciocínio (letrinhas de contrato) vale para
>>> qualquer outra formalização da matemática...
>>> Por ele, eu concluo que para um matemático-padrão, o sistema
>>> $\mathcal{L}^x$ usado for Tarski e Givant no seu livro "A formalization
>>> of
>>> set theory without variables" é a medida do básico.
>>> "Set theory" aqui não significa ZFC, mas qualquer sistema onde a
>>> existência
>>> de "uma certa noção relaxada de par ordenado" é um (axioma ou) teorema.
>>> Incluindo sistemas formulados na teoria das categorias e mais...
>>>
>>> P
>>>
>>> Em sáb., 5 de ago. de 2023 às 16:03, 'Samuel Gomes da Silva' via
>>> LOGICA-L <
>>> logica-l@dimap.ufrn.br> escreveu:
>>>
>>> > Oi Petrucio,
>>> >
>>> > Da mesma forma que ninguém lê as letrinhas pequenas de nenhum contrato,
>>> >
>>> > O matemático establishment sabe (na maioria das vezes) que trabalha em
>>> > ZFC, mesmo que só saiba dar como exemplo o Axioma da Escolha.
>>> >
>>> > (Muitos deles acham que a Hipótese do Continuo vale "na prática", mas
>>> isso
>>> > é ainda outra história...)
>>> >
>>> > Sobre a coisa de ordem, pelo menos nisso o matemático establishment tem
>>> > sorte, pois como os subconjuntos dos conjuntos são conjuntos, as
>>> > (subfamilias das) famílias de subconjuntos são conjuntos, etc., dá pra
>>> > fazer tudo em primeira ordem.
>>> >
>>> > Atés
>>> >
>>> > []s Samuel
>>> > ----- Mensagem original -----
>>> > De: Jorge Petrucio Viana <petrucio_vi...@id.uff.br>
>>> > Para: Samuel Gomes da Silva <sam...@ufba.br>
>>> > Cc: Valeria de Paiva <valeria.depa...@gmail.com>, Daniel Durante <
>>> > durant...@gmail.com>, Marcos Silva <marcossilv...@gmail.com>,
>>> > pin...@googlegroups.com <logica-l@dimap.ufrn.br>, Grupo de pesquisa
>>> CLEA <
>>> > pina...@googlegroups.com>
>>> > Enviadas: Sat, 05 Aug 2023 14:54:05 -0300 (BRT)
>>> > Assunto: Re: [Logica-l] Re: Coletivo Lógica Viva: sobre infinitos,
>>> números
>>> > e provas
>>> >
>>> > Boa tarde!
>>> >
>>> > Uma dúvida honesta (não é, simplesmente, uma provocação):
>>> > O que vocês estão chamando de ZFC?
>>> >
>>> > Se for o que está, por exemplo, no livro do Devlin (ou seja, First
>>> Order
>>> > Logic ZFC), não concordo que "para um matemático-padrão ZFC e' a
>>> medida, o
>>> > básico" (ou algo semelhante).
>>> >
>>> > Pelo que vejo, matemáticos padrão trabalham, pelo menos, em terceira
>>> ordem
>>> > e usam "naive set theory" (uma versão mais próxima de Cantor do que de
>>> > Zermelo).
>>> >
>>> > Um adendo:
>>> > Uma vez eu desafiei uma plateia de matemáticos (uns 40 mais ou menos) a
>>> > listarem 3 (apenas 3) axiomas da Teoria dos Conjuntos.
>>> > O máximo que consegui foi: Axioma da Escolha.
>>> >
>>> > P
>>> >
>>> > Em sáb., 5 de ago. de 2023 às 13:20, 'Samuel Gomes da Silva' via
>>> LOGICA-L <
>>> > logica-l@dimap.ufrn.br> escreveu:
>>> >
>>> > > Oi Valéria,
>>> > >
>>> > > Pois é, em ambiente de pesquisa eu concordo que a teoria básica é ZF
>>> > > (ainda mais se a pesquisa é lógico orientada, digamos),
>>> > >
>>> > > Porém, porém, porém, para o tal matemático establishment que eu
>>> sempre
>>> > > falo,
>>> > >
>>> > > O Axioma da Escolha está lá, mesmo que o matemático establishment não
>>> > > perceba (porque muitas vezes ele usa o Axioma da Escolha sem
>>> perceber, é
>>> > > preciso um certo "treino" e esforço pra ver quando o Axioma da
>>> Escolha
>>> > foi
>>> > > necessário ou não).
>>> > >
>>> > > Por exemplo: pra quem nunca pensou nisso, procure ver exatamente
>>> onde se
>>> > > usa o Axioma da Escolha para mostrar que "a reunião enumeravel de
>>> > > enumeraveis é enumeravel", é um uso um pouco sutil.
>>> > >
>>> > > Aí, nos livros de graduação em matemática, o Axioma da Escolha está
>>> lá
>>> > > escondido. "Todo espaço vetorial tem base" - não só usa lá um
>>> Leminha de
>>> > > Zorn na prova padrão, como foi mostrado que é uma equivalência do
>>> Axioma
>>> > da
>>> > > Escolha (Blass, 1984).
>>> > >
>>> > > Então, para o matemático establishment, acaba sendo ZFC sim.
>>> > >
>>> > > Abraços
>>> > >
>>> > > []s Samuel
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > >
>>> > > ----- Mensagem original -----
>>> > > De: Valeria de Paiva <valeria.depa...@gmail.com>
>>> > > Para: Samuel Gomes da Silva <sam...@ufba.br>
>>> > > Cc: Daniel Durante <durant...@gmail.com>, Marcos Silva <
>>> > > marcossilv...@gmail.com>, pin...@googlegroups.com <
>>> > logica-l@dimap.ufrn.br>,
>>> > > Grupo de pesquisa CLEA <pina...@googlegroups.com>
>>> > > Enviadas: Sat, 05 Aug 2023 12:38:19 -0300 (BRT)
>>> > > Assunto: Re: [Logica-l] Re: Coletivo Lógica Viva: sobre infinitos,
>>> > números
>>> > > e provas
>>> > >
>>> > > oi Samuel,
>>> > > Desculpe, mas aqui eu vou dar meu pitaco de ignorante, porem
>>> convicta.
>>> > > Eu concordo plenamente que para um matemático-padrão ZFC e' a
>>> medida, o
>>> > > básico. MAS com o abaixo não concordo não.
>>> > >
>>> > > >Pelo Teorema da Completude, algo que provamos "ZFC puro" é válido em
>>> > todos
>>> > > os tabuleiros (e reciprocamente).
>>> > > Nossos cursos de graduação em Análise, Topologia, Geometria... Esses
>>> > valem
>>> > > em todos os tabuleiros porque estão todos em ZFC puro. É o básico...
>>> > > Então talvez nessa visão semantista, ZFC tem mais a cara de "o que é
>>> > comum
>>> > > a todos os tabuleiros" do que uma lista de axiomas e a teoria
>>> > > correspondente.
>>> > >
>>> > > ZF e' básico, o C(choice) tem muita gente que não quer não, que
>>> prefere
>>> > > botar um asterisco numa prova qdo precisa de choice, pra alertar os
>>> > > distraídos. e o número dessas pessoas, que se preocupam com
>>> resultados
>>> > mais
>>> > > construtivos, ou baseados em formulações alternativas de fundamentos
>>> e'
>>> > > cada vez maior. não sei se significativamente maior no "rank and
>>> file"
>>> > dos
>>> > > matemáticos tradicionais, mas certamente bem maior nessa comunidade
>>> entre
>>> > > matemática e informática que diz q trabalha com ciência da
>>> computação.
>>> > >
>>> > > Tem muita gente, que nem você, cuja pesquisa só faz sentido se certas
>>> > > premissas tradicionais não valem: a maioria do pessoal de "teoria de
>>> > tipos"
>>> > > se enquadra nessa. (pra não falar dos sub-estruturalistas!) E mesmo
>>> todo
>>> > > mundo nessa nova onda de 'Proof Assistants' pra uma nova matemática
>>> "(
>>> > >
>>> > >
>>> > https://www.nytimes.com/2023/07/02/science/ai-mathematics-
>>> machine-learning.html
>>> > > )
>>> > >  faz parte da turma.
>>> > >
>>> > > Então concordo sim que a matemática e' o jogo e não os tabuleiros ou
>>> os
>>> > > campos ou as regras, mas essa essência do jogo muda, se os jogadores
>>> > > mudarem.
>>> > >
>>> > > abraços,
>>> > > Valeria
>>> > >
>>> > > On Sat, Aug 5, 2023 at 5:23 AM 'Samuel Gomes da Silva' via LOGICA-L <
>>> > > logica-l@dimap.ufrn.br> wrote:
>>> > >
>>> > > > Salve Daniel,
>>> > > >
>>> > > > Incrível como entre nós, brasileiros, o FUTEBOL consegue explicar
>>> > tantas
>>> > > > coisas né?
>>> > > >
>>> > > > Você pegou a ideia, sim é isso mesmo.
>>> > > >
>>> > > > Matemática é um trabalho, e os ambientes de trabalho são os
>>> modelos...
>>> > Os
>>> > > > matemáticos, somos jogadores profissionais de futebol (com o BOM e
>>> o
>>> > RUIM
>>> > > > da sua mensagem, é a tal coisa da dor e a delícia de ser o que
>>> é...).
>>> > > >
>>> > > > Mas pra além daquele BOM e RUIM tem mais uma coisa: existem esses
>>> > > momentos
>>> > > > (e na verdade os matemáticos fora da área de fundamentos sempre
>>> vivem
>>> > > esse
>>> > > > tipo de momentos) nos quais o teorema que provamos vale em todos os
>>> > > > tabuleiros, em todos os campos de jogo.
>>> > > >
>>> > > > Isso acontece quando provamos algo "ZFC puro", sem hipóteses
>>> > adicionais.
>>> > > >
>>> > > > Pelo Teorema da Completude, algo que provamos "ZFC puro" é válido
>>> em
>>> > > todos
>>> > > > os tabuleiros (e reciprocamente).
>>> > > >
>>> > > > Nossos cursos de graduação em Análise, Topologia, Geometria...
>>> Esses
>>> > > valem
>>> > > > em todos os tabuleiros porque estão todos em ZFC puro. É o
>>> básico...
>>> > > >
>>> > > > Então talvez nessa visão semantista, ZFC tem mais a cara de "o que
>>> é
>>> > > comum
>>> > > > a todos os tabuleiros" do que uma lista de axiomas e a teoria
>>> > > > correspondente.
>>> > > >
>>> > > > Eu, por exemplo, por minha área de atuação, normalmente trabalho
>>> > > > diretamente em modelos onde a Hipótese do Continuo não vale (meus
>>> > > > resultados, nem que seja por uma questão de contexto, fazem muito
>>> mais
>>> > > > sentido se HC não vale - minha dissertação de mestrado começava
>>> com um
>>> > > > diagrama com 6 cardinais entre aleph_1 e c (que agora são 5 depois
>>> do
>>> > > > recente p = t, um salve a Malliaris e Shelah) os quais, se vale HC,
>>> > > > colapsam tudo para um ponto só, de modo que minha dissertação de
>>> > mestrado
>>> > > > inteira teria falado todo o tempo sobre um cardinal só...).
>>> > > >
>>> > > > Mas veja, é aí que eu acho que o RUIM da sua mensagem não é tão
>>> ruim
>>> > > assim,
>>> > > >
>>> > > > Se alguém produz bons teoremas sobre o futebol suíço com 7
>>> jogadores,
>>> > > pelo
>>> > > > menos essa área do futebol fica mais compreendida, e não deixa de
>>> ser
>>> > uma
>>> > > > contribuição ao futebol como um todo que
>>> > > > uma parte (consistente!) dele seja melhor compreendida - pois, tem
>>> mais
>>> > > > essa também,
>>> > > >
>>> > > > "Se mostramos que algo que vale para o
>>> > > > futebol suíço, então estamos mostrando que não existe nas regras
>>> algo
>>> > que
>>> > > > garanta que sua negação fosse válida em todos os tabuleiros"
>>> > > >
>>> > > > - ou seja, mesmo que indiretamente, olhando para as
>>> negações,trabalhar
>>> > aí
>>> > > > no futebol suíço fala sim sobre o jogo como um todo, vejam só!
>>> > > >
>>> > > > ... Sempre boas nossas conversas mesmo, valeu !
>>> > > >
>>> > > > Até mais,
>>> > > >
>>> > > > []s Samuel
>>> > > >
>>> > > >
>>> > > >
>>> > > >
>>> > > >
>>> > > >
>>> > > >
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>>> > > >
>>> > > > ----- Mensagem original -----
>>> > > > De: Daniel Durante <durant...@gmail.com>
>>> > > > Para: LOGICA-L <logica-l@dimap.ufrn.br>
>>> > > > Cc: samuel <sam...@ufba.br>, Daniel Durante <durant...@gmail.com>,
>>> > > Marcos
>>> > > > Silva <marcossilv...@gmail.com>, pin...@googlegroups.com <
>>> > > > logica-l@dimap.ufrn.br>, Grupo de pesquisa CLEA <
>>> > > pina...@googlegroups.com>
>>> > > > Enviadas: Fri, 04 Aug 2023 20:36:43 -0300 (BRT)
>>> > > > Assunto: Re: Coletivo Lógica Viva: sobre infinitos, números e
>>> provas
>>> > > >
>>> > > > Salve Samuel,
>>> > > >
>>> > > > Obrigado pela paciente resposta, pelas explicações e referências.
>>> Você
>>> > > > sempre me surpreende com suas respostas de matemático. Claro, o
>>> JOGO!!
>>> > Eu
>>> > > > aqui, com minha mentalidade de contabilista, só pensando em
>>> tabuleiros
>>> > e
>>> > > > regras e me esquecendo do JOGO. O jogo real, para o qual as regras
>>> > apenas
>>> > > > delimitam as possibilidades e os tabuleiros apenas registram as
>>> > jogadas.
>>> > > A
>>> > > > matemática não é nem as regras de ZFC nem os diferentes tabuleiros
>>> em
>>> > que
>>> > > > dá para jogar ZFC, é o jogo que se joga com essas regras nesses
>>> > > tabuleiros.
>>> > > >
>>> > > > Acho que o seu exemplo do futebol me ajudou a entender. Há o
>>> futebol de
>>> > > > campo com as regras FIFA (11 jogadores por time, campo de um certo
>>> > > > tamanho,
>>> > > > determinado tempo de jogo...), há o futebol de salão (5 jogadores,
>>> > quadra
>>> > > > pequena, bola pequena, tempo de jogo reduzido...), há o futebol
>>> suíço
>>> > (7
>>> > > > jodadores, outras especificidades...). Na base dessas variações,
>>> > > > compatível
>>> > > > com todas elas, haveria uma concepção essencial do jogo de FUTEBOL
>>> (vou
>>> > > > usar maíuscula para essa concepção essencial) que é compatível com
>>> > todas
>>> > > > as
>>> > > > versões e variações do jogo.
>>> > > >
>>> > > > Esses futebois são incompatíveis uns com os outros em detalhes que
>>> a
>>> > > > concepção essencial (o FUTEBOL) não decide: o número de jogadores o
>>> > > > tamanho
>>> > > > do campo, o tempo de jogo, o tamanho do gol, o peso da bola... O
>>> > FUTEBOL
>>> > > é
>>> > > > jogado em qualquer dessas versões, qualquer desses tabuleiros. Na
>>> sua
>>> > > > metáfora, o FUTEBOL é o "jogo", e cada variação (futebol de campo,
>>> de
>>> > > > praia, suíço, de salão,...) é um "tabuleiro" diferente do mesmo
>>> jogo.
>>> > > Acho
>>> > > > que é isso né?!
>>> > > >
>>> > > > Quando você diz que a matemática é ZFC e que você não se importa
>>> muito
>>> > > com
>>> > > > o fato de ZFC não decidir algumas coisas, tipo a hipótese do
>>> contínuo,
>>> > > > você
>>> > > > está querendo dizer que ZFC não se interessa em estipular a
>>> > cardinalidade
>>> > > > do contínuo tanto quanto o FUTEBOL não se interessa em estipular o
>>> > número
>>> > > > de jogadores de cada time. Seja com 11 ou com 7 jogadores, ainda é
>>> > > > FUTEBOL.
>>> > > > Seja qual for a cardinalidade do contínuo, ainda é ZFC, ainda é
>>> > > matemática.
>>> > > >
>>> > > > Então, os axiomas de ZFC seriam como aquelas regras fundamentais
>>> > > > compatíveis com todos os futebóis. E por isso, eles não decidem
>>> algumas
>>> > > > minúcias. Eles admitem variações. Já a hipótese do contínuo seria
>>> como
>>> > a
>>> > > > regra que diz o número de jogadores. Pode ser diferente para
>>> versões
>>> > > > diferentes.
>>> > > >
>>> > > > Ok. Isso é bem interessante mesmo. Nunca tinha pensado assim. Mas
>>> tem
>>> > uma
>>> > > > coisa. Quando a gente tira par ou impar e vai jogar de verdade, a
>>> gente
>>> > > > SEMPRE vai ter que ESCOLHER alguma dessas variantes que decidem as
>>> > coisas
>>> > > > que o FUTEBOL não decide. A flexibilidade (o inacabamento) do
>>> FUTEBOL
>>> > > > cobra
>>> > > > um preço. Ninguém, nunca, jamais joga SÓ FUTEBOL. A gente sempre
>>> joga
>>> > > > alguma versão do FUTEBOL. Mesmo em uma pelada de rua onde se
>>> inventa
>>> > > > regras
>>> > > > na hora.
>>> > > >
>>> > > > Se você acha que a matemática é ZFC e aceita que ZFC não decide
>>> algumas
>>> > > > coisas. Então eu acho que você está se comprometendo com o seguinte
>>> > fato:
>>> > > >
>>> > > > (*) Tanto quanto não dá para jogar só FUTEBOL, não dá para fazer só
>>> > > > matemática (jogar só ZFC). Sempre que a gente usar ZFC, a gente
>>> precisa
>>> > > > também complementar as suas aberturas.
>>> > > >
>>> > > > Por que? Porque se estamos em uma abordagem ortodoxa, que assume a
>>> > lógica
>>> > > > clássica, a verdade como correspondência, e trata ZFC como uma
>>> teoria
>>> > de
>>> > > > primeira ordem, então:
>>> > > >
>>> > > > (1) Sendo HC (a hipótese do contínuo) uma sentença de primeira
>>> ordem
>>> > > > fechada, HC é ou verdadeira ou falsa, não há outra opção.
>>> > > >
>>> > > > (2) Dizer que HC é verdadeira é dizer que a sentença que exprime HC
>>> > > > corresponde aos fatos, e dizer que HC é falsa, é dizer que a
>>> sentença
>>> > que
>>> > > > a
>>> > > > exprime não corresponde aos fatos.
>>> > > >
>>> > > > (3) Mas quais são esses fatos? Você mesmo disse que ZFC não tem um
>>> > modelo
>>> > > > canônico. Cada interpretação que verifica todos os axiomas de ZFC
>>> é um
>>> > > > "tabuleiro", uma versão do jogo ZFC que decide as coisas que ZFC
>>> não
>>> > > > decide. Fecha suas aberturas.
>>> > > >
>>> > > > (4) Isso significa que sem ser heterodoxo (sem abandonar a lógica
>>> > > > clássica,
>>> > > > ou a verdade como correspondência) ninguém nunca joga só ZFC. A
>>> gente
>>> > > > sempre ESCOLHE alguma versão de ZFC para jogar. Porque em qualquer
>>> > > > contexto
>>> > > > em que ocorra a sentença que exprime a hipótese do contínuo, esta
>>> > > sentença
>>> > > > estará vinculada a alguma interpretação específica que faz o que
>>> ZFC se
>>> > > > nega: decide se esta sentença é verdadeira ou falsa.
>>> > > >
>>> > > >
>>> > > > Eu acho isso bom e ruim:
>>> > > >
>>> > > > - É BOM, porque coloca lá dentro da matemática a possibilidade de
>>> > > escolha,
>>> > > > a liberdade. E quem é que não gosta de escolha e liberdade?
>>> > > >
>>> > > > - Mas é RUIM, porque onde há escolha e liberdade, sempre há também
>>> > > > limites.
>>> > > > Cada vez que a gente "joga" matemática e tem que complementar as
>>> > > aberturas
>>> > > > de ZFC com nossas escolhas, a gente, junto com isso, delimita e
>>> > restringe
>>> > > > nossos resultados ao alcance das escolhas que fizemos. E assim a
>>> gente
>>> > > > diminui a generalidade da matemática.
>>> > > >
>>> > > > Mais uma vez, obrigado pelo papo. Adoro conversar com você sobre
>>> essas
>>> > > > coisas que entendo muito pouco. Suas respostas quase sempre apontam
>>> > para
>>> > > > algum lado que eu nunca tinha olhado.
>>> > > >
>>> > > > Saudações,
>>> > > > Daniel.
>>> > > >
>>> > > > Em sexta-feira, 4 de agosto de 2023 às 10:37:15 UTC-3, samuel
>>> escreveu:
>>> > > >
>>> > > > > Salve Daniel, prazer falar com você, como sempre também, e pelo
>>> visto
>>> > > se
>>> > > > > você estivesse na live ela não terminaria pois seus
>>> > > > > questionamentos são bastante interessantes e a coisa iria embora
>>> no
>>> > > > > tempo...
>>> > > > >
>>> > > > > Primeiro, registrar que "o meu amigo de Brasília" já me deu
>>> bronca
>>> > > > dizendo
>>> > > > > que não era exatamente aquilo que ele me disse
>>> > > > > anteriormente, hahaha,
>>> > > > >
>>> > > > > Então, eu desde o final do meu doutorado (2004), início da minha
>>> > > > carreira
>>> > > > > na UFBA (2006), tenho essa visão da matemática que eu falei na
>>> live
>>> > > > > (eu lembro que no começo do mestrado eu pensava diferentemente,
>>> de
>>> > modo
>>> > > > > bastante mais ingênuo),
>>> > > > >
>>> > > > > E tenho primeiramente que dizer: eu não me coloco como "o
>>> porta-voz
>>> > de
>>> > > > > como os matemáticos pensam", e nem "de como os teoristas de
>>> conjuntos
>>> > > > > pensam", quase tudo que eu coloquei na live são visões
>>> > > "personalíssimas"
>>> > > > > (pra usar essa palavra que está na moda...) minhas. E sim, ter
>>> uma
>>> > > visão
>>> > > > > pessoal ajuda a passear por esse ambiente cheio de ovos no chão -
>>> > mas,
>>> > > > uma
>>> > > > > coisa eu posso dizer, eu como matemático vindo da Lógica
>>> > > > > e ativo na comunidade brasileira de Lógica e tendo por isso
>>> bastante
>>> > > > > contato com a Filosofia, o matemático padrão, "establishment",
>>> não
>>> > > > > tem essas preocupações com fundação da matemática não e, mais
>>> > > > importante,
>>> > > > > em geral o matemático padrão não é chamado a se posicionar
>>> > > > > "filosoficamente" sobre sua epistemologia própria do que seja a
>>> > > > > matemática, isso eu sempre faço por questão por gostar mesmo
>>> desse
>>> > tipo
>>> > > > > de discussão (sempre gostei, talvez por isso enveredei pela
>>> Teoria
>>> > dos
>>> > > > > Conjuntos...)  e por minha atuação dentro da lógica como um todo.
>>> > > > >
>>> > > > > Então vamos lá: tem uma frase que eu gosto muito que é "eu sou
>>> eu e
>>> > > > minhas
>>> > > > > circunstâncias" (que acabei de colocar no Google aqui, não
>>> conhecia
>>> > > > > o autor e não sei qual a teoria na qual ela se coloca, então não
>>> > posso
>>> > > > nem
>>> > > > > comprar nem vender essa teoria na sua completude...), mas é uma
>>> frase
>>> > > > que
>>> > > > > eu gosto.
>>> > > > >
>>> > > > > Pra mim, matemática é meio assim: é ela e suas circunstâncias...
>>> > > > >
>>> > > > > Aí, por facilidade mesmo (o que concordo que alguém pode achar
>>> que é
>>> > > > > "preguiça ou covardia", touché), eu coloco: matemática é ZFC.
>>> > > > >
>>> > > > > Na minha analogia com tabuleiros, matemática é O JOGO, o qual
>>> pode
>>> > ser
>>> > > > > jogado EM QUALQUER TABULEIRO QUE NÃO VIOLE AS
>>> > > > > REGRAS.
>>> > > > >
>>> > > > > Aí, quando eu digo que sou semantista, pra mim não tem existe
>>> > > > contradição
>>> > > > > nisso porque porque, exatamente por gostar muito de resultados de
>>> > > > > consistência, qualquer coisa que não leve a contradição TERÁ O
>>> SEU
>>> > > > > TABULEIRO ESPECÍFICO ONDE ELA VALE (e aí nesse caso a noção de
>>> > > "verdade"
>>> > > > é
>>> > > > > mais de "ser válido em algum modelo" - o que, pelo Teorema de
>>> > > > Completude,
>>> > > > > equivale a não levar a contradição...). É nessa pegada que eu
>>> digo
>>> > > > > que sou semantista. Se vale em algum modelo, eu considero DO
>>> JOGO.
>>> > > > >
>>> > > > > Essa coisa do JOGO, a gente pode pensar também em O ESPORTE.
>>> > > > >
>>> > > > > Futebol é um ESPORTE, e que é jogado em todo o mundo, alguns
>>> lugares
>>> > na
>>> > > > > areia, alguns lugares na grama, alguns lugares na grama
>>> > > > > sintética (para desespero do Zico), em alguns lugares a trave é
>>> de
>>> > > > > madeira, noutros lugares não tem trave e a gente coloca duas
>>> > > > > pedras no chão onde a bola tem que passar... Mas tudo isso é
>>> FUTEBOL.
>>> > > > >
>>> > > > > E o FUTEBOL existe como jogo, e pode ser jogado EM MUITOS
>>> AMBIENTES -
>>> > > > cada
>>> > > > > quadra/campinho de futebol pelo mundo seria UM MODELO.
>>> > > > >
>>> > > > > Em todas essas instanciações do jogo, eu não posso pegar a bola
>>> com a
>>> > > > mão.
>>> > > > > "Não pegar a bola com a mão" é um axioma. É da base
>>> > > > > da teoria. Isso vai valer EM TODOS OS AMBIENTES. (Seria o "ZFC
>>> > > > absoluto",
>>> > > > > algo que, como consequência sintática de ZFC, é
>>> > > > > também consequência semântica e valeria em todos os ambientes...
>>> Tem
>>> > > > muito
>>> > > > > do Teorema de Completude embutido aí no que
>>> > > > > estou dizendo, como podem perceber...)
>>> > > > >
>>> > > > > Se a gente levasse a ferro e fogo e quisesse que O FUTEBOL
>>> DECIDISSE
>>> > > > TUDO,
>>> > > > > que a REGRA FOSSE ATÉ OS ÚLTIMOS DETALHES, a gente acabaria
>>> chegando
>>> > na
>>> > > > > conclusão que "o futebol só pode ser jogado com essa bola, por
>>> estes
>>> > > > > jogadores e no maravilhoso estádio monumental de Wembley,
>>> > > > > na Inglaterra, onde o jogo foi criado"... Isso seria meio
>>> > reducionista,
>>> > > > > não ?
>>> > > > >
>>> > > > > Então pra mim A MATEMÁTICA É O ESPORTE... Onde ele puder ser
>>> jogado
>>> > sem
>>> > > > > violar as regras básicas, "é do jogo". Mesmo que
>>> > > > > esse jogo não me diga exatamente qual é o tamanho da reta...
>>> > > > >
>>> > > > > Aí a coisa da Hipótese do Contínuo que você disse, só aí já
>>> teríamos
>>> > > uma
>>> > > > > quantidade "do tamanho do universo" de matemáticas
>>> > > > > possíveis se pensarmos no tamanho da reta ("o continuum"): por um
>>> > > > > resultado de Easton, "o contínuo pode ser tudo o que ele pode
>>> ser",
>>> > no
>>> > > > > sentido
>>> > > > > de que a única restrição é que o tamanho da reta não pode ter
>>> > > > cofinalidade
>>> > > > > enumerável. Nesse sentido, começando com um modelo
>>> > > > > da Hipótese Generalizada do Contínuo de "ground model", a gente
>>> pode
>>> > > > fazer
>>> > > > > um forcing até que simples (um forcing pra cada valor
>>> > > > > que eu queira, no caso) e fazer com que o contínuo seja aleph_2,
>>> ou
>>> > > > > aleph_3, ou aleph_4, ou aleph_{omega + 1} - aleph_omega não
>>> > > > > pode ser pela questão da cofinalidade -, e a quantidade de
>>> ordinais
>>> > de
>>> > > > > cofinalidade não enumerável é a mesma quantidade de ordinais
>>> > > > > que é a mesma quantidade de conjuntos no universo (nessa última
>>> > > passagem
>>> > > > > estou roubando um pouco e considerando o
>>> > > > > Axioma da Escolha Global, mas tudo bem né 8-) ).
>>> > > > >
>>> > > > > Qualquer valor que o contínuo pode ter, ele terá em algum modelo
>>> -
>>> > isso
>>> > > > > tudo é matemática pra mim. Eu não sinto necessidade que
>>> > > > > a Matemática me diga exatamente "qual aleph" é o tamanho da
>>> reta. Eu
>>> > > não
>>> > > > > sinto falta "que a Matemática me diga qual o
>>> > > > > valor do continuum". Eu gosto que sejam "infinitos valores
>>> > > > possíveis"...!!!
>>> > > > >
>>> > > > > (Eu não lembro se eu cheguei a fazer essa analogia na live, mas
>>> eu
>>> > > > sempre
>>> > > > > gosto de fazê-la: "a teoria dos anéis (ou mesmo dos
>>> > > > > corpos) não consegue decidir se existe um x tal que x^2 = 1 + 1 -
>>> > pois
>>> > > > > existem corpos onde esse x existe, e existem corpos
>>> > > > > onde esse x não existe. Porque deveríamos esperar que a Teoria
>>> dos
>>> > > > > Conjuntos decidisse se 2^{aleph_0} = aleph_1 ? Ou porque
>>> > > > > deveríamos esperar que só existisse uma possibilidade de
>>> resposta ?
>>> > No
>>> > > > > caso dos corpos não esperamos isso..." Obviamente
>>> > > > > a complicação aí é que a Teoria dos Conjuntos é frequentemente
>>> > encarada
>>> > > > > como sendo "a Matemática" como se fosse uma
>>> > > > > tal "verdade objetiva" e tal, é aí que pega a coisa, eu sei disso
>>> > > > > também...)
>>> > > > >
>>> > > > > ... Mas, como eu disse lá em cima, isso tudo sou eu, eu não posso
>>> > dizer
>>> > > > > que isso é a visão dos matemáticos, ainda mais que,
>>> > > > > em geral, os matemáticos não estão preocupados com isso de forma
>>> > > alguma,
>>> > > > > não existe preocupação com fundamentos da
>>> > > > > matemática,  eles só querem colocar toda manhã o uniforme de onde
>>> > eles
>>> > > > > jogam o jogo e jogar o jogo...
>>> > > > >
>>> > > > > E, mais ainda, eu raramente sou chamado a justificar formalmente
>>> > essas
>>> > > > > visões, num paper por exemplo (o máximo é alguma
>>> > > > > discussão nesta lista, como a que estamos no momento...). Nos
>>> últimos
>>> > > > dez
>>> > > > > anos tenho me interessado mais por aspectos filosóficos, mas
>>> nessa
>>> > > > > área sou apenas um diletante...
>>> > > > >
>>> > > > > E, só pra terminar, eu recomendo algumas leituras sobre gente de
>>> > > > Conjuntos
>>> > > > > que sim tem uma visão bem mais completa e
>>> > > > > justificada do que a minha, em alguns casos similar e em outros
>>> não,
>>> > > > >
>>> > > > > ---> O Joel David Hamkins tem uma visão do "multiverso de
>>> conjuntos",
>>> > > > tem
>>> > > > > esse paper dele no arXiv:
>>> > > > >
>>> > > > > https://arxiv.org/abs/1108.4223
>>> > > > >
>>> > > > > Eu nunca li inteiro, nunca passei do abstract, mas o que tem
>>> mais ou
>>> > > > menos
>>> > > > > em comum com essa minha visão é de
>>> > > > > que existem vários universos possíveis para a teoria dos
>>> conjuntos
>>> > > > > "acontecer".
>>> > > > >
>>> > > > > (Apesar das semelhanças, com certeza é diferente do meu ponto de
>>> > vista
>>> > > > > porque mesmo "a noção de conjunto em si" ele acredita que
>>> > > > > seja diferente em cada universo, eu não penso assim)
>>> > > > >
>>> > > > > Mas pelo menos como "slogan" eu acho a idéia interessante - o
>>> > > multiverso
>>> > > > > dos conjuntos se parece com a minha
>>> > > > > idéia da infinidade de tabuleiros, ou da infinidade de
>>> quadras/campos
>>> > > de
>>> > > > > jogo.
>>> > > > >
>>> > > > > ---> tem um pessoal de Teoria dos Conjuntos (que eu deveria em
>>> algum
>>> > > > > momento tentar sugerir que um deles
>>> > > > > fosse chamado para um EBL...), que é o pessoal que frequenta o
>>> Artic
>>> > > > > Workshop de Conjuntos, e se você falar
>>> > > > > com qualquer um deles, eles têm sim uma noção do que seria "a
>>> verdade
>>> > > em
>>> > > > > Teoria dos Conjuntos", de uma maneira bastante
>>> > > > > diferente da minha, de modo que eles podem pegar um resultado de
>>> > Teoria
>>> > > > > dos Conjuntos e dizer "para onde ele está
>>> > > > > apontando".
>>> > > > >
>>> > > > > Nesse sentido, muitas vezes aparecem "dicotomias" - que seriam
>>> > momentos
>>> > > > em
>>> > > > > que a teoria dos conjuntos apontaria
>>> > > > > "ou para um lado ou para o outro". Parece confuso né ? Pois é, e
>>> tem
>>> > > > muita
>>> > > > > matemática técnica embutida nisso.
>>> > > > >
>>> > > > > Nos últimos anos, tem por exemplo "a dicotomia HOD", introduzida
>>> por
>>> > > > > Woodin, e aí tem este paper aqui por exemplo explicando:
>>> > > > >
>>> > > > > https://philpapers.org/rec/BAGLCB
>>> > > > >
>>> > > > > O "lado" para o qual a Teoria dos Conjuntos se inclinaria, lá na
>>> > > frente,
>>> > > > > decidiria também a Hipótese do Contínuo
>>> > > > > (pois se relaciona ao tal "Ultimate L Project" de Woodin
>>> também...).
>>> > > > >
>>> > > > > No caso, o paper acima expõe alguns resultados de Large
>>> cardinals os
>>> > > > > quais, assumindo a consistência deles, o caos prevaleceria
>>> > > > > e a Hipótese do Contínuo seria falsa (!!!).
>>> > > > >
>>> > > > > Observo, porém, que essa visão do pessoal do Artic Workshop é uma
>>> > visão
>>> > > > > mais pura sobre "qual seria a melhor Teoria
>>> > > > > dos Conjuntos para se trabalhar" - até onde eu entendo, é uma
>>> busca
>>> > por
>>> > > > > "uma Teoria dos Conjuntos legal", eles não se
>>> > > > > arvoram em dizer que com isso eles estão decidindo "o que é a
>>> > > > matemática".
>>> > > > > Por facilidade, medo ou preguiça, meio
>>> > > > > que eles concordam comigo que "a matemática é ZFC", mas que sim é
>>> > > > possível
>>> > > > > debater o que deveria ser
>>> > > > > verdade "numa Teoria dos Conjuntos legal"... Não está sendo
>>> decidido
>>> > > > como
>>> > > > > deveria ser a Matemática, mas
>>> > > > > sim como deveria ser "a Teoria dos Conjuntos"... Que nesse caso
>>> seria
>>> > > > ZFC
>>> > > > > + algumas coisas.
>>> > > > >
>>> > > > >
>>> > > > > ... Enfim, pra falar de Filosofia de Teoria dos Conjuntos tem
>>> gente
>>> > na
>>> > > > > comunidade melhor do que eu pra falar
>>> > > > > (Giorgio, Rodrigo, Alfredo, pra começar...)
>>> > > > >
>>> > > > > Abraços ! Até
>>> > > > >
>>> > > > > []s  Samuel
>>> > > > >
>>> > > > >
>>> > > > >
>>> > > > >
>>> > > > >
>>> > > > >
>>> > > > >
>>> > > > >
>>> > > > >
>>> > > > >
>>> > > > >
>>> > > > >
>>> > > > >
>>> > > > >
>>> > > > >
>>> > > > > Em quinta-feira, 3 de agosto de 2023 às 23:24:58 UTC-4,
>>> > > > dura...@gmail.com
>>> > > > > escreveu:
>>> > > > >
>>> > > > >> Grandes Samuel, Marcos Silva e Colegas,
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Parabéns pela conversa de bar online, Samuel e Marcos. Ouvir o
>>> > Samuel
>>> > > é
>>> > > > >> sempre um grande prazer, e ouvi-lo respondendo as perguntas
>>> > > perspicazes
>>> > > > do
>>> > > > >> Marcos Silva é muito melhor. Pena que perdi ao vivo. Adorei o
>>> papo.
>>> > > > Ouvi
>>> > > > >> hoje.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Tá aqui o link para quem quiser assistir. Recomendo:
>>> > > > >>
>>> > > > >> https://www.youtube.com/live/fHihPJqhsfA?feature=share
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Deixa eu fazer uma pergunta, Samuel. Quando você diz, meio
>>> > > provocativo,
>>> > > > >> que a matemática é ZFC ( ou a TC) o que você quer dizer com
>>> isso?
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Você quer dizer que a matemática é UM dos tabuleiros (ou
>>> modelos)
>>> > onde
>>> > > > as
>>> > > > >> regras de ZFC se aplicam?
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Ou você quer dizer que a matemática é a própria ZFC (as regras)?
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Acho que é o primeiro caso. Afinal, você é um matemático, não um
>>> > > > lógico,
>>> > > > >> ou um computeiro, ou um filósofo que não entende nada de
>>> matemática
>>> > > > (como
>>> > > > >> eu).
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Mas você, num dado  momento, disse que o pessoal da Teoria de
>>> > > Conjuntos
>>> > > > >> —  incluindo você mesmo — costuma se ver como semantista e,
>>> > > questionado
>>> > > > >> pelo Marcos, você disse algo que eu entendi como afirmando que
>>> ser
>>> > um
>>> > > > >> semantista significa privilegiar as estruturas nas quais as
>>> regras
>>> > se
>>> > > > >> aplicam, e não as próprias regras.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Mas aí eu fico confuso, Samuel. Porque se a matemática é ZFC e
>>> se
>>> > você
>>> > > > é
>>> > > > >> um semantista, então a matemática é o tabuleiro onde ZFC pode
>>> ser
>>> > > > jogada, e
>>> > > > >> não as regras do jogo ZFC.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Mas se ZFC não decide sentenças fechadas de sua linguagem, tal
>>> como
>>> > a
>>> > > > >> hipótese do contínuo, então as regras de ZFC não determinam
>>> > > > univocamente o
>>> > > > >> tabuleiro onde ela pode ser jogada. E então, há muitas
>>> matemáticas.
>>> > > > Cada
>>> > > > >> tabuleiro diferente em que ZFC pode ser jogada é uma matemática
>>> > > > diferente.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> E sabemos que alguns desses tabuleiros são ESSENCIALMENTE
>>> > diferentes,
>>> > > > ou
>>> > > > >> seja, que não são isomórficos, porque sabemos que alguns deles
>>> são
>>> > > > >> compatíveis com a hipótese do contínuo enquanto outros são
>>> > > > incompatíveis
>>> > > > >> com a hipótese do contínuo (compatíveis com sua negação).
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Mas se você é um semantista, com tendência realista, isso me
>>> parece
>>> > > uma
>>> > > > >> posição bem estranha. Você seria um pluralista matemático.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Me parece que você se compromete com a seguinte concepção: “não
>>> é
>>> > que
>>> > > > >> existe uma realidade matemática objetiva e independente da
>>> mente. Na
>>> > > > >> verdade existem pelo menos duas. “
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Talvez existam muitas. Você diz que gosta de resultados de
>>> > > > independência.
>>> > > > >> Então talvez saiba se existe alguma sentença fechada S da
>>> linguagem
>>> > de
>>> > > > ZFC
>>> > > > >> que é independente tanto de  (ZFC + HC) quanto de (ZFC + ¬HC)?
>>> Se
>>> > > > houver,
>>> > > > >> então já teríamos pelo menos 4 matemáticas — 4 tabuleiros não
>>> > > > isomórficos
>>> > > > >> para ZFC. Talvez haja infinitas matemáticas?
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Mas, para além de 1, a quantidade não importa. Este caso me
>>> parece
>>> > > > >> contradizer o famoso ditado. Dois não é bom. Dois já é demais.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Eu, que entendo quase nada de TC, prefiro interpretar os
>>> resultados
>>> > de
>>> > > > >> independência como provas de "inacabamento" da teoria --
>>> > inacabamento
>>> > > > para
>>> > > > >> não falar incompletude, já que você mesmo disse que não há uma
>>> > > > >> interpretação canônica para ZFC.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Os caras não terminaram a teoria. Faltam axiomas. Eu concordo
>>> com
>>> > “seu
>>> > > > >> amigo de Brasília” que é um absurdo ZFC não decidir a hipótese
>>> do
>>> > > > contínuo.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Isso só pode ser preguiça ou covardia dos matemáticos ??
>>> > > > >>
>>> > > > >> Façam aí uma convenção internacional e decidam. Você disse, ou
>>> pelo
>>> > > > menos
>>> > > > >> foi assim que eu entendi o que você disse, que nos tabuleiros
>>> mais
>>> > > > quentes
>>> > > > >> do momento, aqueles que parecem mais promissores, com mais
>>> > aplicações
>>> > > e
>>> > > > >> conexões, a hipótese do contínuo é falsa. Pois então, decidam aí
>>> > entre
>>> > > > os
>>> > > > >> notáveis, ou em uma votação democrática (não,
>>> matematicocrática) que
>>> > > só
>>> > > > são
>>> > > > >> aceitáveis tabuleiros isomórficos incompatíveis com a hipótese
>>> do
>>> > > > contínuo.
>>> > > > >> Declarem os demais ilegais e aceitem a inscrição da negação da
>>> > > hipótese
>>> > > > do
>>> > > > >> contínuo no clube dos  axiomas.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> É tipo o que fizeram com Plutão. O pobre foi expulso do clube
>>> dos
>>> > > > >> planetas e, que eu saiba, nada aconteceu em Plutão para
>>> justificar a
>>> > > > >> expulsão. O que os astrônomos fizeram foi complementar com
>>> novas
>>> > > > cláusulas
>>> > > > >> as regras de admissão no clube dos planetas mesmo. Dizem que
>>> depois
>>> > > > Plutão
>>> > > > >> foi readmitido com ressalvas… não sei, parei de acompanhar.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Por que os matemáticos não fazem isso? Por que eles não admitem
>>> que
>>> > > ZFC
>>> > > > >> está inacabada e declaram a Hipótese do Contínuo ou sua negação
>>> como
>>> > > > >> axioma? Acho que é porque quase todos eles são, assim como você,
>>> > > > >> semantistas. Um axioma é apenas uma descrição linguística
>>> > > desengonçada,
>>> > > > >> feia, formal de um aspecto  da realidade matemática abstrata
>>> > objetiva,
>>> > > > >> bela, harmônica e perfeita.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Primeiro viria o tabuleiro, a realidade matemática, depois as
>>> > regras,
>>> > > > as
>>> > > > >> teorias matemáticas. Só dá para acabar (ou incrementar) ZFC
>>> depois
>>> > de
>>> > > > saber
>>> > > > >> com qual das duas sentenças, HC ou ¬HC o tabuleiro é compatível.
>>> > Mas,
>>> > > > como
>>> > > > >> tem mais de um tabuleiro, alguns compatíveis com HC outros com
>>> ¬HC,
>>> > e
>>> > > > >> nenhum deles é considerado canônico, os matemáticos ficam
>>> > paralisados
>>> > > e
>>> > > > não
>>> > > > >> decidem a questão.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Eu entendo e admiro esta postura dos matemáticos. Eles são como
>>> > > músicos
>>> > > > >> que tiram as harmonias de ouvido, que têm sensibilidade
>>> musical. Eu
>>> > > não
>>> > > > >> tenho. Nem na música, nem na matemática. Posso até brincar um
>>> pouco
>>> > > com
>>> > > > as
>>> > > > >> duas, mas preciso de cifras, partitura, de regras de teoria
>>> musical
>>> > > > para me
>>> > > > >> ajudar a tocar. Não tenho sensibilidade musical para tirar de
>>> ouvido
>>> > > ou
>>> > > > >> propor do zero uma harmonia, tanto quanto não tenho
>>> sensibilidade
>>> > > > >> matemática para perceber entender e intuir o tabuleiro sem as
>>> > regras,
>>> > > > para
>>> > > > >> “fazer uma prova do livro”. Preciso consultar as regras para
>>> > conseguir
>>> > > > >> brincar.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Mas do mesmo jeito que músicos de tradições musicais diferentes
>>> > > > >> harmonizariam “de ouvido” diferentemente uma mesma melodia,
>>> > > matemáticos
>>> > > > >> imersos em tabuleiros diferentes poderiam intuir diferentemente
>>> > sobre
>>> > > > >> alguma questão matemática, tal como qual é a cardinalidade do
>>> > > contínuo.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> A diferença é que diferentes tradições musicais podem conviver
>>> bem
>>> > > > >> (embora não harmonicamente, com perdão do trocadilho), já
>>> diferentes
>>> > > > >> matemáticas não convivem tão bem assim. É mais fácil ser
>>> eclético
>>> > > > >> (pluralista) em música do que em matemática.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Mas por que, por exemplo, aceitamos o axioma do infinito em ZFC?
>>> > Bem,
>>> > > > >> porque concebemos o infinito e o infinito é independente dos
>>> demais
>>> > > > axiomas.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> É legal brincar com o infinito, conseguimos fazer isso,
>>> concebemos
>>> > > > >> estruturas infinitas interessantes, belas, promissoras, cheias
>>> de
>>> > > > relações
>>> > > > >> e aplicáveis. Por que, então, proibi-lo? Eu “não sei harmonizar
>>> o
>>> > > > infinito
>>> > > > >> de ouvido”, mas eu consigo “ouvir, achar belas e até tocar
>>> harmonias
>>> > > > para o
>>> > > > >> infinito”, se estiverem em uma partitura ou cifras. Então,
>>> mesmo de
>>> > > > modo
>>> > > > >> grosseiro, desconfiando, tendo dificuldade com ele, eu aceito o
>>> > > > infinito no
>>> > > > >> jogo da matemática.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Por outro lado, um matemático harmoniza o infinito de ouvido,
>>> já o
>>> > > > >> incluiu em suas intuições e considera que qualquer tabuleiro
>>> que se
>>> > > > preze
>>> > > > >> deve ser infinito. É por isso que o infinito é um axioma de ZFC.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Quem não curte muito o infinito pode até protestar e criar
>>> versões
>>> > > > >> alternativas de ZFC incompatíveis com as usuais, com
>>> tabuleirinhos
>>> > > > finitos,
>>> > > > >> minúsculos, e estranhos, pensam os demais matemáticos.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Mas, no fundo, no fundo, para mim, tanto o axioma do infinito,
>>> > quanto
>>> > > o
>>> > > > >> axioma da escolha são ESCOLHAS já feitas. A hipótese do
>>> contínuo, ou
>>> > > > >> melhor, a negação da hipótese do contínuo, pode também, aliás,
>>> deve,
>>> > > > ser
>>> > > > >> ESCOLHIDA.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Se você, Samuel, pensasse que ZFC são as regras e não o
>>> tabuleiro,
>>> > > > seria
>>> > > > >> muito mais fácil defender essa liberdade de escolha axiomática.
>>> É
>>> > > assim
>>> > > > que
>>> > > > >> eu penso.  Mas eu não sou um matemático e o que penso vale muito
>>> > pouco
>>> > > > >> aqui. O que importa é que mesmo quem pensa como você, como os
>>> > > > matemáticos
>>> > > > >> em geral pensam, pode com algum esforço concordar que a
>>> hipótese do
>>> > > > >> contínuo é uma questão de escolha, e que ela pode ser feita.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Qual desses tabuleiros aí é o mais legal, é aquele com o qual
>>> vale a
>>> > > > pena
>>> > > > >> a gente brincar? Escolham ele e peguem o axioma compatível com
>>> ele.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Desculpem a verborragia e as muitas “barbaridades” que
>>> certamente eu
>>> > > > >> disse aqui.
>>> > > > >>
>>> > > > >>
>>> > > > >> Mais uma vez parabéns Marcos e Samuel pela conversa.
>>> > > > >>
>>> > > > >> Grande abraço,
>>> > > > >>
>>> > > > >> Daniel.
>>> > > > >>
>>> > > > >> Em segunda-feira, 3 de julho de 2023 às 10:28:37 UTC-3, Marcos
>>> Silva
>>> > > > >> escreveu:
>>> > > > >>
>>> > > > >>> É hoje! :-)
>>> > > > >>>
>>> > > > >>> Convidamos todas e todos para o nosso bate papo segunda-feira,
>>> 03
>>> > de
>>> > > > >>>> julho. Conversaremos com Samuel Gomes da Silva (UFBA) sobre
>>> > > infinito,
>>> > > > >>>> números e provas, como se um matemático e um filósofo tivessem
>>> > > > entrado em
>>> > > > >>>> um bar.
>>> > > > >>>
>>> > > > >>>
>>> > > > >>>
>>> > > > >>>> O que te levou pra matemática? E pra a lógica? Por que o
>>> infinito
>>> > é
>>> > > > >>>> tão fascinante? Existem infinitos de tamanhos diferentes?
>>> Como a
>>> > > > gente pode
>>> > > > >>>> saber isto? Onde estão os infinitos? Na nossa cabeça? Na
>>> > realidade?
>>> > > > Em
>>> > > > >>>> computadores? Quais são alguns paradoxos e coisas
>>> contraintuitivas
>>> > > da
>>> > > > >>>> aritmética transfinita? Quais são os limites pra demonstrações
>>> > > > >>>> matemáticas? Voce de fato tem máxima certeza e segurança na
>>> > verdade
>>> > > > de um
>>> > > > >>>> teorema? Ou pensa ás vezes, será que isto é verdade mesmo?
>>> Você
>>> > usa
>>> > > > >>>> intuições e afetos pra suas provas matemáticas? O que é a
>>> hipótese
>>> > > do
>>> > > > >>>> contínuo? Ela pode ser provada? Por que não? E se a gente
>>> tiver um
>>> > > > super
>>> > > > >>>> computador? É só uma questão de tempo ou não da mesmo? O
>>> > matemático
>>> > > é
>>> > > > >>>> um criador ou um descobridor? Como a matemática pode ser tão
>>> útil
>>> > > pra
>>> > > > >>>> ciência e pra previsões sobre a realidade?
>>> > > > >>>
>>> > > > >>>
>>> > > > >>>
>>> > > > >>> https://www.youtube.com/watch?v=fHihPJqhsfA
>>> > > > >>>
>>> > > > >>>
>>> > > > >>>
>>> > > >
>>> > >
>>> > https://www.instagram.com/p/CuDIdM1pSyN/?utm_source=ig_
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>>> > > > >>> Marcos Silva (UFPE/CNPq)
>>> > > > >>> Philosophy Department
>>> > > > >>> Federal University of Pernambuco, Brazil
>>> > > > >>> President of the Brazilian Society for Analytical Philosophy
>>> (SBFA
>>> > > > >>> <https://sites.google.com/view/sbfa-sbpha/in%C3%ADcio?
>>> authuser=0>)
>>> > > > >>> Director of Graduate Studies (PPGFIL/UFPE
>>> > > > >>> <https://www.ufpe.br/ppgfilosofia/>)
>>> > > > >>> Editor-in-chief Revista Perspectiva Filosófica
>>> > > > >>> <https://periodicos.ufpe.br/revistas/perspectivafilosofica>
>>> > > > >>> https://sites.google.com/view/marcossilvaphilosophy
>>> > > > >>> "amar e mudar as coisas me interessa mais"
>>> > > > >>>
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