Caros, boas noites.
Vou gastar então meus parcos centavos, na verdade, não são meus e sim de
Peirce, q tinha mais do q centavos pra gastar nesse assunto.
Desculpem a autocitação, acho ruim fazer, mas nesse caso não é por
presunção.
Eu trabalhei com a filosofia da matemática de Peirce em um artigo, há
tempos, e agora fiquei impressionado com a similaridade das ideias de CSP
com as afirmações do Márcio.
Márcio, o q vc diria? O meu artigo é o seguinte:
https://revistas.pucsp.br/index.php/cognitio/article/view/5719
não é lá grandes coisas, mas tem uma apresentação razoável, penso eu, do
cerne das ideias de CSP sobre o assunto.
Da perspectiva dele, o dualismo contrucionismo / intuicionismo não faz
muito sentido, até onde consigo perceber. Mass a ideia de construir
diagramas hipotéticos e extrair deles as consequências me parece muito
próxima do q vc afirmou. O Hintikka dizia q a distinção de Peirce entre
dedução corolarial e teoremática (explico no artigo) era a mais importante
descoberta de CSP. Esse é o ponto q me sugere a comparação com o q vc
defendeu aqui.
Abraços,
cass.


Cassiano Terra Rodrigues
Prof. Dr. de Filosofia - IEF-H-ITA

Rua Tenente Brigadeiro do ar Paulo Victor da Silva, F0-206
Campus do DCTA
São José dos Campos
São Paulo, Brasil
CEP: 12228-463
Tel. (+55) 12 3305 8438

--
lealdade, humildade, procedimento

[image: Mailtrack]
<https://mailtrack.io?utm_source=gmail&utm_medium=signature&utm_campaign=signaturevirality11&;>
Sender
notified by
Mailtrack
<https://mailtrack.io?utm_source=gmail&utm_medium=signature&utm_campaign=signaturevirality11&;>
07/08/23,
21:28:09

Em seg., 7 de ago. de 2023 às 17:51, Samuel Gomes da Silva <sam...@ufba.br>
escreveu:

> Olá Márcio,
>
> Pontos de vista anotados, agradeço igualmente ! E seus seis pontos dizem
> diretamente do cachimbo, e não dos retratos dele, muito bem !
>
> Como últimos centavinhos também, concordo que ZFC tem essa cara standard,
> quadradinha, como um transatlântico que se move lentamente sobre águas não
> tranquilas.
>
> Mas pois é, também serve como base de lançamentos para algumas lanchinhas
> não-classicas.
>
> Fazemos aí umas ultrapotencias espertas com ultrafiltros livres e pimba,
> obtemos modelos com infinitesimos (ou seja, representações não standard
> brotando da matemática standard).
>
> Topologias fornecem exemplos de Álgebras de Heyting. Espaços topológicos
> fornecem semânticas para lógicas modais.
>
> E muitos livros de categorias começam observando que com uns dois
> cardinais inacessíveis pelo menos podemos modelar classes e conglomerados e
> trabalhar com categorias nesse ambiente. E mais interações entre
> inacessíveis e categorias vêm aparecendo nos últimos anos.
>
> Então o transatlântico standard também serve como base de lançamento para
> essas lanchinhas não-standard.
>
> Abraços
>
> []s Samuel
>
>
>
> ----- Mensagem original -----
> De: Márcio Palmares <marciopalma...@gmail.com>
> Para: Samuel Gomes da Silva <sam...@ufba.br>
> Cc: Daniel Durante <durant...@gmail.com>, LOGICA-L <logica-l@dimap.ufrn.br>,
> Petrucio Viana <petrucio_vi...@id.uff.br>, Marcos Silva <
> marcossilv...@gmail.com>, Grupo de pesquisa CLEA <pina...@googlegroups.com>,
> valeria.depaiva <valeria.depa...@gmail.com>, Cassiano Terra Rodrigues <
> cassiano.te...@gmail.com>
> Enviadas: Mon, 07 Aug 2023 16:44:51 -0300 (BRT)
> Assunto: Re: ao
>
> Oi, Samuel, obrigado pela gentileza das suas respostas anteriores que eu
> não comentei muito diretamente. :-)
>
> Agradeço também ao Daniel por oferecer mais elementos para a discussão.
> Obrigado! :-)
>
> Tenho um amigo que escreveu recentemente um livro sobre como ZFC se
> infiltra no solo e contamina toda a matemática que cresce nesse solo
> (contamina no bom sentido, de permitir que se escreva a matemática com essa
> linguagem). O livro começa com uma sentença mais ou menos assim (citando de
> memória): "a matemática tem dois aspectos essenciais, lógica e linguagem".
>
> Pois bem. Ao meu ver, é um paradigma, exatamente o paradigma predominante.
>
> Eu olho a coisa sob outro ponto de vista, o paradigma "intuicionista fraco"
> (inventei esse nome agora), cujos fundamentos seriam as três afirmações
> anteriores de Brouwer mais as três seguintes (seriam seis postulados
> epistemológicos, digamos assim):
>
> (a) A matemática lida com construções mentais, que são imediatamente
> apreendidas pela mente; matemática não consiste na manipulação formal de
> símbolos, e o uso da linguagem matemática é um fenômeno secundário,
> induzido por nossas limitações (quando comparadas com um matemático ideal
> com memória ilimitada e perfeita), e o desejo de comunicar nossas
> construções matemáticas para outros;
>
> (b) Não faz sentido pensar em verdade ou falsidade de uma afirmação
> matemática independentemente de nosso conhecimento sobre a afirmação. Uma
> afirmação é verdadeira se tivermos uma prova dela, e falsa se pudermos
> mostrar que a suposição de que existe uma prova para a afirmação leva a uma
> contradição. Para uma afirmação arbitrária, portanto, não podemos afirmar
> que ela é verdadeira ou falsa;
>
> (c) A matemática é uma criação livre: não é uma questão de reconstruir
> mentalmente, ou compreender a verdade sobre objetos matemáticos que
> existiriam independentemente de nós (isso está em contraste com, por
> exemplo, os empiristas franceses; cf. 4.2).
>
> (TROELSTRA e van DALEN, Constructivism in Mathematics. An Introduction, p.
> 4)
>
> Pela cláusula (a) acima, a linguagem não é tão importante assim para a
> matemática... Na verdade, a linguagem às vezes cria embaraços e nos deixa
> atolados em paradoxos e nos faz perder muito tempo com preciosismos... Por
> isso, muitas vezes os físicos colaboram mais para o surgimento de
> matemática nova do que os próprios matemáticos, já que eles não se importam
> nem um pouco com as regras da linguagem e inventam as coisas de que
> necessitam (função delta de Dirac, por exemplo). Também a lógica não pode
> ser assim tão decisiva, pois ao menos para Brouwer, a lógica é que deriva
> da matemática (esse ponto do pensamento de Brouwer não é capturado nessa
> síntese de Troelstra e van Dalen).
>
> A cláusula (b) joga fora a lei do terceiro-excluído, e assim batemos de
> frente com o paradigma dominante, em que a lógica clássica é "subjacente".
>
> Finalmente, a cláusula (c) força-nos a uma colisão com o platonismo e o
> realismo, e por essa via colidimos também com o paradigma dominante.
>
> Eu chamo esses 6 postulados de "intuicionismo fraco" pois não precisamos do
> pacote completo das ideias filosóficas de Brouwer e seus seguidores, estes
> 6 pontos bastam.
>
> Com isso, podemos praticar matemática em diferentes ambientes, e lidar com
> criaturas que precisam ser banidas em ZFC para preservar a lógica clássica.
>
> E uma vez que ZFC necessita banir certas criaturas matemáticas inteiramente
> legítimas, embora marginais do ponto de vista da "ciência padrão" (Kuhn),
> não pode conter toda a matemática. Pode conter apenas os ramos considerados
> principais na atualidade...
>
> Agora se acabaram de vez meus dois centavos... :-)
>
> M.
>
> Em seg., 7 de ago. de 2023 às 14:45, Samuel Gomes da Silva <sam...@ufba.br
> >
> escreveu:
>
> > Caros,
> >
> > A mensagem do Cassiano eu preciso digerir mais, hehe,
> >
> > Daniel, sua analogia com "geometria é álgebra" é pertinente sim,
> >
> > E na verdade me lembrou do prefácio de um excelente livro de graduação de
> > Teoria dos Conjuntos, o do Enderton: se não me falha a memória, vai na
> > seguinte linha:
> >
> > "Todo matemático, em geral, escolhe uma das seguintes alternativas:
> >
> > A matemática está inteiramente internalizada na Teoria dos Conjuntos;
> >
> > A matemática pode ser inteiramente internalizada na Teoria dos Conjuntos;
> >
> > A matemática deve ser inteiramente internalizada na Teoria dos Conjuntos"
> >
> > Apesar do que alguém poderia pensar, mesmo com o meu "matemática é ZFC",
> > eu tendo a pensar mais pela segunda alternativa, talvez nesse espírito de
> > "ambiente de trabalho".
> >
> > (E como pintura do cachimbo, claro...)
> >
> > Abraços
> >
> > []s Samuel
> >
> > PS: Ah sim, isso de "geometria é álgebra"
> > tem a haver com a internalização da geometria dentro da álgebra, aí da
> > mesma forma a pessoa pode decidir entre "está", "pode ser", "deve ser"...
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> >
> > ----- Mensagem original -----
> > De: Daniel Durante <durant...@gmail.com>
> > Para: LOGICA-L <logica-l@dimap.ufrn.br>
> > Cc: marciopalmares <marciopalma...@gmail.com>, LOGICA-L <
> > logica-l@dimap.ufrn.br>, samuel <sam...@ufba.br>, Petrucio Viana <
> > petrucio_vi...@id.uff.br>, Daniel Durante <durant...@gmail.com>, Marcos
> > Silva <marcossilv...@gmail.com>, Grupo de pesquisa CLEA <
> > pina...@googlegroups.com>, valeria.depaiva <valeria.depa...@gmail.com>,
> > Cassiano Terra Rodrigues <cassiano.te...@gmail.com>
> > Enviadas: Mon, 07 Aug 2023 10:41:05 -0300 (BRT)
> > Assunto: Re: ao
> >
> > Oi Marcio e colegas,
> >
> > Eu acho, Marcio, que quando Samuel fala que a matemática é ZFC, ele não
> > está querendo dizer isso literalmente, no sentido de que os números são
> > certos conjuntos e que as funções são conjuntos de pares com certas
> > propriedades,... Ele está falando de um jeito menos literal. Os números
> > são
> > qualquer coisa que se comporte como aqueles conjuntos se comportam em ZFC
> > e
> > as funções são qualquer coisa que se comporte como aqueles conjuntos de
> > pares se comportam em ZFC.
> >
> > Porque veja, junto com dizer que a matemática é ZFC ele diz também que
> ZFC
> > não tem modelo canônico e que a matemática não são nem as regras do jogo,
> > nem os diversos tabuleiros onde o jogo é jogado - nem os axiomas de ZFC,
> > nem seus muitos modelos.
> >
> > A matemática não é a formalização de ZFC e também não é cada uma das
> > possíveis estruturas que verificam os axiomas. A matemática seria aquilo
> > que todas as estruturas que verificam os axiomas têm em comum.
> >
> > Aí, cabe tanto os matemáticos contemporâneos que nem sabem quais são os
> > axiomas de ZFC, mas que os respeitam, porque vivem em (jogam) versões
> > desse
> > jogo, ainda que talvez nem saibam disso. E cabe também, em certo sentido,
> > os matemáticos do passado que também jogavam versões desse jogo sem
> saber.
> >
> > Talvez, se a gente procurar na história, a gente encontre os momentos em
> > que as regras do jogo foram se estabelecendo, e o jogo foi sendo
> > consolidado. Nessa visão dá para entender até o protesto de Valéria, por
> > exemplo, que nos lembrou que muitos matemáticos se recusam a utilizar o
> > axioma da escolha e se limitam a jogadas que cabem em ZF, uma versão
> > simplificada do jogo.
> >
> > E protestos desse tipo ajudam também a explicar e acomodar as abordagens
> > fundacionais alternativas. Qual seria a principal motivação de quem pensa
> > em fundar a matemática na Teoria das Categorias, ou na Teoria dos Tipos?
> > Eu
> > acho que a principal motivação é ajustar o JOGO para alguma divergência
> > que
> > não se encaixa perfeitamente em ZFC.
> >
> > Acho que um bom exemplo para entender isso é a relação da geometria com a
> > álgebra. Veja, não sou matemático e se eu tiver falando bobagem, vocês
> > simplesmente desconsiderem. Mas vejo a afirmação de que a matemática é
> ZFC
> > de um modo paralelo à afirmação de que a geometria é álgebra.
> >
> > Em um certo sentido, isso está correto. Que eu saiba, não há nada na
> > geometria que não caiba na álgebra, no sentido de que não há nenhum
> > resultado geométrico que não tenha contrapartida algébrica. Então, em um
> > sentido matemático, de resultados, geometria é álgebra. Mas é claro que
> > Euclides, ou os geômetras de régua e compasso não são algebristas e não
> > estavam fazendo álgebra. É claro que conseguimos entender certas
> > estruturas, relações e conceitos muito melhor e mais claramente na
> > geometria que na álgebra, que todos temos intuições geométricas, mas que
> > só
> > alguns poucos de nós, matematicamente treinados, têm as intuições
> > algébricas equivalentes.
> >
> > Então, em um outro sentido muito forte, geometria não é álgebra. Mas esse
> > outro sentido muito forte, não é o sentido matemático. Em um sentido
> > matemático, de resultados matemáticos, geometria é álgebra.
> >
> > Então, pensando nesses termos, eu concordo com a tese de Samuel de que a
> > matemática é ZFC. Mas isso não me impede de concordar se o Eduardo Ochs
> ou
> > alguém da teoria das categorias me disser que a matemática é Teoria das
> > Categorias ou outra teoria qualquer, desde que as eventuais divergências
> > extensionais entre a teoria nova e ZFC sejam convincentemente
> justificadas.
> >
> > Não sei se o Samuel, que é o "pai da criança", enxerga sua própria
> > abordagem desse jeito. Mas é assim que eu vejo. E nesses termos, eu
> > concordo com ela.
> >
> > Saudações,
> > Daniel.
> >
>
>

-- 
LOGICA-L
Lista acadêmica brasileira dos profissionais e estudantes da área de Lógica 
<logica-l@dimap.ufrn.br>
--- 
Você está recebendo esta mensagem porque se inscreveu no grupo "LOGICA-L" dos 
Grupos do Google.
Para cancelar inscrição nesse grupo e parar de receber e-mails dele, envie um 
e-mail para logica-l+unsubscr...@dimap.ufrn.br.
Para ver esta discussão na web, acesse 
https://groups.google.com/a/dimap.ufrn.br/d/msgid/logica-l/CALYh6%2Bs9%3DKotojU3KUta7FMOgNubNMD8BfS0kjmBDJxbNprf0A%40mail.gmail.com.

Responder a