Olá, Tony:

Agradeço a leitura cuidadosa do artigo, e os comentários.

Antes de mais nada, pediram-me off-list uma referência para o artigo
que está sendo discutido.  Aqui segue:
http://www.filozof.uni.lodz.pl/bulletin/pdf/34_1_6.pdf

> Conclui a leitura, exceto pela discussão filosófica ao final. Mas, preciso
> registrar uma certa inquietação: acho que não precisava dizer que essas
> modalidades seriam não normais. Pois veja, primeiro você definiu acidente
> por meio de uma relação de acessibilidade. Segundo, na proposição 3.1, você
> diz que a definição de quadrado por meio do operador de acidente só serve
> para as extensões de KT. Pois bem, mas isso já é de certo modo dizer que
> essas modalidades são normais. Por fim, todo o texto me parece um BOM artigo
> sobre lógica modal normal.

Pois é, como você mesmo viu alguns dos resultados principais são: a
noção de acidente só é equivalente à noção de contingência para
extensões de KT ; a noção de necessidade só é definível a partir da
noção de essência para estas mesmas extensões de KT.  Acompanhando a
literatura modal moderna canônica, contudo, por "lógica modal normal"
eu não pressuponho "extensões de KT".  (Sei bem que historicamente
isto nem sempre foi assim, e o paper de Kripke de 59, por exemplo,
tratava apenas de extensões de KT --- sistema de Feys e von Wright,
construído a partir da axiomatização de S4 proposta por Gödel.  Mas
isso é história...)

Obrigado pelo julgamento "BOM artigo".  Mas as modalidades estudadas
lá continuam NÃO sendo "normais".

> O único detalhe que para mim fica em aberto é saber se de fato os conectivos
> não-modais são interdefiníveis ou não. Você definiu a linguagem de modo que
> não parece haver um conjunto adequado de conectivos. Mas, depois, você
> apresenta um resultado que me parece resultado de dizer que a implicação
> equivale a uma disjunção, quando, por exemplo, diz que K1.3 (acidental phi
> implica phi) pode ser trocado por K2.3 (phi ou essencial phi). Estou supondo
> que sim, que os conectivos são interdefiníveis pelo conjunto todo da obra,
> dado que os sistemas KT são extensões do cálculo clássico.

Assumo logo no início a interpretação clássica do fragmento não-modal
("classical operators are evaluated as expected").  Logo, vale a
interdefinibilidade dos conectivos clássicos.

> De resto, com todo o respeito e admiração pela sua capacidade ímpar e
> conhecimentos, peço toda a vênia para discordar do seu argumento de que a
> noção de consistência seria aparentada com a de contingência, se levar em
> consideração o artigo de sua própria autoria. Na verdade, o parentesco é da
> noção de inconsistência com a de acidente, segundo o raciocínio que você
> mesmo brilhantemente engendrou no artigo.

Por "aparentado" pretende-se dizer isso mesmo que já foi esclarecido
acima: a noção de acidente e a noção de contingência são modalidades
não-normais menos expressivas do que a modalidade de possibilidade (ou
a de necessidade), no contexto do mesmo fragmento não-modal clássico.
Além disso, suas interpretações são "parecidas", como você viu.

Note contudo que, diferentemente da noção de contingência, a noção de
acidente (uma sentença sendo "acidentalmente verdadeira" caso seja
"verdadeira-mas-possivelmente-falsa") pode ser usada, sem requerer o
axioma T, para formalizar noções contrafatuais (algo que
"é-o-caso-mas-poderia-não-ser"), para estudar designadores não-rígidos
e o conceito kripkeano de necessário a posteriori (confira a
"discussão filosófica" que você não leu), para investigar noções
epistêmicas interessantes como "verdades desconhecidas" (proposições
verdadeiras-mas-não-conhecidas por um determinado agente, ver trabalho
do Steinsvold) ou noções ligadas à ideia lógico-matemática de
demonstração, como as "sentenças de Gödel"
(verdadeiras-mas-não-demonstráveis, ver trabalho do Kushida).

Abraços,
Joao Marcos

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