Esse é um PVT que eu enviei para o Alexandre Oliva, ele achou melhor
responder na lista.

O motivo do PVT foi porque achei que um distúrbio na força a rondava esse
pensamento.

Como vocês podem ver, a intenção inicial foi publicar na própria lista (para
o pessoal do Debian e da FSF), mas depois achei melhor enviar só para o
Alexandre, por conter coisas que poderiam ser mal interpretadas. Ele, depois
de ter lido, manifestou o desejo de responder aqui, então acho que não tem
problema.

Manuseem com cuidado =D

---------- Forwarded message ----------
From: Glauber Machado Rodrigues (Ananda) <[EMAIL PROTECTED]>
Date: 2008/6/7
Subject: Re: [PSL-Brasil] novo site do gnu
To: Alexandre Oliva <[EMAIL PROTECTED]>




2008/6/6 Alexandre Oliva <[EMAIL PROTECTED]>:

> On Jun  5, 2008, "Glauber Machado Rodrigues (Ananda)" <
> [EMAIL PROTECTED]> wrote:
>
> > 2008/6/4 Alexandre Oliva <[EMAIL PROTECTED]>:
> >> De fato, acho infeliz chamar o non-free por esse nome; mais
> >> adequado seria non-DFSG ou algo assim (...)
>
> > Ou non-DFSG-compilant, ou some-of-4-rights-denied, ou qualquer outra
> coisa
> > mais específica e menos prática.
>
> > Então podemos mudar o nome da FSF para GALSF (GPL Alike Licenced Software
> > Fondation).
>
> Pela sua resposta, acho que não fui claro.
>

Dependendo do que você entendeu, então eu é que não fui claro. Vamos alinhar
então.


>
> O problema não é usar a palavra 'Free', o problema é usá-la com
> significado diferente do oficial, mesmo que próximo.
>

Eu entendi isso. Deixa ver se dá para eu explicar meu sentimento enquanto a
isso sem parecer que estou querendo esculhambar com o termo free software.

Pessoal do Debiam, me corrijam quando necessário, pessoal da FSF também.


>
> Não atender à DFSG não significa que não seja Livre, nem que não
> atenda à definição de Software Livre.  non-free contém pacotes com
> documentação (material para uso prático) Livre (isto é, que não impede
> substancialmente o gozo das 4 liberdades), mas que está lá só porque
> não atende à letra da DFSG.
>
> Daí eu sugerir non-DFSG no lugar de non-free.  non-free é misleading.
> Mas não é um termo inerentemente ruim, está apenas sendo IMHO mal
> utilizado nesse caso.
>
>
> Trocar Free por "GPL Alike Licenced" teria o mesmíssimo problema, já
> que a FSF não existe para promover o licenciamento mediante GPL, ou
> mesmo o copyleft.  Existe para promover e defender o direito humano de
> que, a cada usuário de software, não sejam negadas quaiquer da 4
> liberdades com relação a todo o software que usa.  Quer dizer, que
> todo Software seja Free.  Não GPL, nem copyleft, nem GPL-Alike.
>
>
> Claramente, eu não tinha sido claro.  Ou você tava só brincando, pra
> zoar comigo? :-)


Hehehe. Teve uma zoaçãozinha mesmo, achei que ficava mais fácil falar
daquele jeito. O meu estilo natural é esse. Para mim, fazer com que não
pareça provocação é sempre um esforço adicional.

Mas o objetivo não era só brincar com você não, tinha uma crítica a fazer.
Lá em baixo eu explico.


>
> > Ou então podemos reconhecer que vez ou outra relaxamos na precisão
> > dos nomes que damos às coisas e colocamos o nome que achamos melhor.
>
> Se já é tão difícil a gente se entender sem cada um chamar cada coisa
> do jeito que quer, imagine se a gente fosse por aí!  Língua é um
> padrão, só funciona para o bem de todos quando é interoperável.  Se
> cada um faz o seu do seu jeito, não tem padrão, ninguém se entende.
> Por isso é preciso tentar ser preciso.


Pronto. Estou respondendo aqui embaixo para dar a entender que não estou
falando de nenhum ponto específico do seu discurso. Concordo com o seu
discurso, concordo com o fato de non-free ser "misleading" em alguns
aspectos.

Eu não posso discordar do que você falou acima, pois me parece verdadeiro.
Mesmo assim, gostaria de deixar mais claro a minha crítica, já que se tratou
de uma crítica, e não uma provocação.

Eu vejo o Software Livre como uma necessidade humana. A tecnologia pede para
ser organizada dessa forma e bla bla bla. Essa parte acho que você entende,
vamos para a próxima.

Existe o sofware-livre-necessidade e existe o
software-livre-implementação-da-necessidade.

O primeiro é a necessidade natural de desevolvermos software como
humanidade, deixando o processo de criação aberto para qualquer um, assim
como o resultado desse processo. O segundo é a forma como podemos estruturar
as leis e regras de cada sociedade para que a corrente não se quebre, de
forma que uma pessoa que sinta a necessidade possa implementá-la sem
precisar pensar muito em leis e regras sociais. Essa parte pode não ter
ficado muito claro, posso explicar melhor isso, mas por enquanto eu acho que
está suficientemente explicado.

Penso que a FSF atua em defesa do SL tanto quanto necessidade, quanto quando
sugere uma maneira de implementar a solução para essa necessidade. Apesar
de, no meu ver, a FSF ser a entidade que apresenta pensamentos no estado da
arte a respeito dessas duas visões do SL, sua linha de raciocínio não pode
ser tida como palavra final, já que apresenta algumas falhas.

O fusca já saiu de linha, então vou falar quais falhas são essas, ao meu
ver.

RMS é um cara que devemos escutar. O povo fala que ele é esquisofrênico etc,
mesmo assim tem um monte de gente de cabeça boa concordando com ele. Então
acho que ele está raciocinando bem. Logo, o pensamento da FSF só seria coisa
de esquisofrênico se todas as pessas que concordam com RMS também fossem.
Acho que deu para entender. A intenção desse parágrafo é passar a mensagem
que levo em conta o que o RMS diz, como vindo da boca de uma mente sã, tendo
ele a doença que tiver, já que o que ele diz faz sentido para mim.

A primeira vez que li o gnu manifesto pensei "cara, isso não vale só para o
Unix não, todo software deveria ser assim". Era o SL enquanto necessidade
falando dentro de mim. Tenho a impressão que muitas pessoas se conectam ao
movimento do SL dessa forma, pensando: "caramba isso que vocês falaram é
tudo que eu acredito, estou com vocês, me dá uma camisa dessas!"

Então depois as pessoas pensam "como se faz isso? Ah, é assim assim,
copyleft e tal. Qual são os sistemas que já são assim? Ah tem o projeto gnu
e tal". A idéia que quero passar é a de que o projeto GNU e a FSF são a
primeira casa de muita gente que pensava suficientemente parecido para se
dar o trabalho de querer aprender e implementar SL.

Porém o pensamento da FSF não bate com o pensamento de todas as pessoas que
percebem o SL como necessidade.

Lembra daquela vez que você, Alexandre, tentou convencer o Linus Torvalds a
adotar a GPL3? Acredito que você tinha as melhores das intenções, mas o
Linus reagiu te acusando de ser uma pessoa auto-importante que pensava que
ele não sabia o que estava fazendo. Você não via problema no Linus usar a
GPL3, já que ela impedia o Linux de ser sugado pela tivo.

Mas para o Linus a questão era mais ou menos assim:"Eu sabia que isso
poderia acontecer, e para mim está bom. Se para vocês a versão 2 da GPL não
está boa, para mim está."

A idéia aqui não é passar a idéia de que o Linus é teimoso, nem de que
esteve sempre certo desde o início. Apenas que nem tudo que sai da cabeça da
FSF é o SL que todos querem.

Acho que pessoas FSF-minded tem dificuldade de perceber isso. Entram em
brigas desnecessárias porque acham que as pessoas estão erradas, quando na
verdade não estão de acordo com um aspecto ou outro em relação ao
SL-implementação-da-necessidade. A maior parte das vezes sem saber que vão
entrar em brigas, já que não percebem de antemão que é possível discordar da
FSF ao mesmo tempo que se faz parte do moviento do SL.

Eu estava lá no FISL 6.0 quando todo mundo levantou e bateu palma para o
Eric Raymond quando ele falou que o mundo não precisava da GPL, que o SL era
mais forte que isso, e tal e coisa. Ou ele hipinotizou todo mundo ou muita
gente que tem certeza que faz parte do movimento também concorda (com o ESR)
que a FSF não define o sentimento de ninguém enquanto ao que é SL. Ele
mancava pra um lado, falava uma coisa e o povo batia palma, mancava para o
outro, falava outra coisa, e mais palmas. Muita coisa daquele discurso
contraria o pensamento da FSF.

O que eu quero dizer é que, a definição de software livre vai muito além do
que qualquer coisa que a FSF acredita ser. A definição é um consenso entre o
pensamento de vários projetos que atuam para implementar a necessidade do
que conhecemos como modelo FOSS. Entre eles o Debian, que é, ao meu ver,
genuinamente livre, pois faz parte desse movimento, independente de qualquer
coisa que diga a FSF. É só sair perguntando no fisl ou qualquer outro evento
se o Debian é software livre.

Voltando para o assunto do non-free. Quando o Debian foi idealizado, havia a
necessidade de identificar quais sofwares eles iriam aceitar no projeto e
quais não. O que era aceito ficava em tais repositórios. O que não era,
poderia ficar no non-free, pois não era software livre. Para estabelecer o
critério de diferenciação de licenças, foi criada a DFSG. Chamar o non-free
de non-DFSG seria o mesmo que chamar os não-humanos de non-[transcrição do
genoma humano]. Quem iria entender? Se a idéia era fazer quem que as pessoas
soubessem que o que estava ali não era livre, dizer que o que estava ali era
não-[minha definição de livre] ao invés de não-livre seria o mesmo que dizer
que a sua definição de livre não era tão boa. E porque alguém desconfiaria
de sua própria definição?

Por isso acho que o uso do nome non-free é perfeitamente aceitável, lá se
encontra tudo que não é sofware livre. E como quem está chamando de non-free
é o Débian, logo é de se esperar que a classificação é segundo a régua do
Debian.

Entendeu porque eu sugeri brincando que a FSF mudasse seu nome para GALSF
(GPL Alike Licenced Software Fondation)? A minha intenção era que você
entendesse essa contradição. A FSF usa o termo "Free Software" para definir
algo que ela acredita que seja o software livre. Para poder separar o que é
livre ou não, ela se baseia nas 4 liberdades, ou na conformidade com a GPL,
ou sei lá mais o quê, você sabe melhor do que eu. Então o "Free Software" no
nome da FSF não é "free-sotware" fora das suas próprias definições.

Para mim pareceu que você estava criticando algo que a própria FSF fez e
todo mundo entendeu bem. Senão hoje as pessoas reclamariam do nome da FSF
com maior frequência, já que ela redefiniu "free-software" e passou a usar
no seu nome sem pedir permissão para o dono do inglês. Assim como para
entender "free software" é preciso entender dos documentos da FSF, para
entender non-free é preciso conhecer os documentos do projeto Debian.

Agora que já bati na FSF, vou assoprar.

Para mim os pensamentos da FSF são como os pensamentos dos meus pais. Eu
escuto com a maior atenção, tendo em mente que tudo que eles falam é para o
meu bem. Mas no final, depois de adulto, quem decide o meu bem sou eu.

As vezes a FSF quer dar conselhos a gente adulta, como o Linus Torvalds, e
não quer entender que ele é capaz de pensar sozinho, de assumir os próprios
riscos.

É como um pai que pensa "Já que você não quer meus concelhos, então não use
mais meu sobrenome, que você não é mais meu filho!"

Meus pais são um modelo para mim, e eu sei que é difícil para eles quando
eles vêem que não estou seguindo seus conselhos. Quando isso acontece, sei
que eles ainda são sábios, mas apenas não lidaram ainda com a situação que
estou lidando. Eles pensão que estou passando por uma coisa que eles
passaram, mas estou passando por uma coisa nova.

Poxa estou comparando a FSF com os meus pais, e eu amo os meus pais. Então
dá para perceber o quanto eu considero a FSF uma coisa boa, sábia, e que só
quer o meu bem. Mesmo assim está aprendendo como eu, e não é perfeita.

Isso não é uma falha desde que ela não aja como se sempre soubesse o que é
melhor para os outros, e comece a criar problemas para quem não pensa
exatamente igual a ela.

Ser membro da FSF proporciona um insight profundo sobre o tema do Software
Livre, mas não é como ser um regulamentador da verdade sobre o tema.

Nós mesmos não devemos importunar *demais* os outros com o nosso software
livre. Devemos importunar na medida certa =D

Uma vez eu estava lendo o slashdot noticiando mais uma do Steve "Balder". Aí
eu virei para e minha irmã que estava no mesmo quarto e falei:
eu:  "Cara, esse Ballmer é um FDP!"
minha irmã: "Tá jogando super mário?"
eu: "Como assim, super mário?"
minha irmã: "O Ballmer não é o inimigo do super mário?"
eu: "Esse é o Bowser... Bowser Koopa. Eu estou falando do Steve
Bal-esquece."

Alguns mundos são mais difíceis de se alinhar do que outros. Acho que às
vezes a FSF pressupõe que toda a comunidade livre está alinhada com eles,
quando isso ainda não aconteceu.


-- 
Glauber Machado Rodrigues
PSL-MA

jabber: [EMAIL PROTECTED]

Opções desconhecidas do gcc:
gcc --bend-finger=padre_quevedo
O que faz:
dobra o dedo do Padre Quevedo durante a execução do código compilado.

Não uso termos em latim, mas poderia:
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Latin_phrases_(full)<http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Latin_phrases_%28full%29>

A ignorância é um mecanismo que capacita um tomate a saber de tudo.


"Que os fontes estejam com você..."




-- 
Glauber Machado Rodrigues
PSL-MA

jabber: [EMAIL PROTECTED]

Opções desconhecidas do gcc:
gcc --bend-finger=padre_quevedo
O que faz:
dobra o dedo do Padre Quevedo durante a execução do código compilado.

Não uso termos em latim, mas poderia:
http://en.wikipedia.org/wiki/List_of_Latin_phrases_(full)

A ignorância é um mecanismo que capacita um tomate a saber de tudo.


"Que os fontes estejam com você..."
_______________________________________________
PSL-Brasil mailing list
PSL-Brasil@listas.softwarelivre.org
http://listas.softwarelivre.org/mailman/listinfo/psl-brasil
Regras da lista: 
http://twiki.softwarelivre.org/bin/view/PSLBrasil/RegrasDaListaPSLBrasil

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